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Bolsonaro estabelece governo paralelo em Orlando e continua pregando golpe no Brasil

Publicado em: 04/02/2023

Ana Alakija
Ana Alakija

De Boston – Ele vem chamando de palestras. Mas na verdade é algo parecido ao que o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, tem feito em suas bases no território norte-americano. Inicialmente, foram reuniões de aquecimento e agora declaradamente comício para ser eleito por seu partido (Republicanos) como candidato e concorrer a reeleição como presidente da República dos Estados Unidos em 2024.

 

Assim o ex-presidente da República Jair Bolsonaro estreou a sua primeira fala pública formal , terça-feira, no último dia 31 de janeiro, sobre a qual editores esclarecem que ele não recebe por elas. Mas seus apoiadores que compareceram, em torno de 600 pessoas, residentes em Orlando e adjacências ou de qualquer lugar pagaram ingresso (não se sabe quanto).

 

Uma das empresas que embolsaram o dinheiro foi a YesBrasil, uma holding brasileira nos Estados Unidos, com uma das lojas locadas em Orlando. E, nesta sexta-feira, evento similar estaria sendo organizado em Miami pela Turning Point USA, empresa supostamente criada por empresários ativistas de extrema direita associados ao ataque de 6 de Janeiro ao Capitólio.

 

Não houve nada de bombástico nas declarações do Bolsonaro nessas aglomerações. Ao contrário, foram frases soltas e desconexas. Na verdade, ele repetiu tudo aquilo que ele disse antes e todos que estavam ali já tinham ouvido antes. Que os vândalos dos atos golpistas de 8 de janeiro atingindo os três Poderes eram infiltrados e não bolsonaristas, que pessoas estão presas injustamente, que existe uma nova cultura de direita no Brasil e que 99.9% (ninguém sabe de onde vem essa estatística) das pessoas ditas de direita sabem o que querem, sabem se comportar e lutam pelos seus direitos.

 

O ex-presidente colocou de novo em suspeição o processo eleitoral brasileiro e atacou novamente sem provas a confiabilidade nas urnas eletrônicas que elegeu uma bancada expressiva de congressistas, deputados e governadores de seu partido (PL) e base aliada. Espalhou boatos sobre a possível taxação do pix. Clamou por Deus, bençãos e felicidade para o povo brasileiro. Enalteceu sua popularidade e criticou e ameaçou o mandato do atual presidente da República Luís Inácio Lula da Silva, “não vai durar muito”, declarou.

 

Esse é o ponto mais nevrálgico e um dos motivos pelo quais ele se mantém nos Estados Unidos, agora como solicitante do visto B1/B2, de turismo e negócios para se manter por mais 6 meses no país –O visto é prorrogável por mais 6 meses. Além do medo de ser preso, ele alimenta a idéia de que o golpe de estado ainda dará certo.

 

Enquanto ganha tempo, ele continua plotando e articulando o golpe. O alvo agora é o presidente da Suprema Corte, o ministro Alexandre de Moraes (na verdade sempre foi juntamente com o Presidente Lula), o maior empecilho para o ex-presidente entabular o golpe. Já que o candidato dele, Roberto Marinho (PL),  perdeu na disputa da liderança do Congresso. Artur Lyra (PP) e Rodrigo Pacheco (PSD), que pregam união com punição dos vândalos de 8 de janeiro, foram reeleitos para a Câmara e o Senado.

 

Ficou claro que Bolsonaro pretendia decretar um estado de intervenção com a nomeação de 11 interventores entre civis e militares, com a descoberta da minuta do golpe encontrada na casa de seu ex-ministro da Justica,  Anderson Torres. Torres desincompatiibilizou do cargo no final de dezembro e assumiu como Secretário da Segurança Publica de Brasília. Participou do plano de emergência de segurança da cidade que estava ameaçada de invasão pelos golpistas e tirou férias e viajou para o circuito Miami-Orlando. Há informações que teria se encontrado com Bolsonaro. Ele foi preso ao retornar pro Brasil, quando informou à Policia Federal a falha do plano de emergência. Ele também disse ter perdido o seu celular em Miami.

 

Depois dos atos de 8 de janeiro a trama sobre uma conversa ocorrida entre o ex-presidente Jair Bolsonaro, o ex-deputado golpista Daniel Silveira e o senador Marcos Do Val relatada pelo senador ao ministro Alexandre de Moraes para grampeá-lo, envolvê-lo e apontá-lo de suspeição no julgamento do processo dos atos terroristas é a mais recente tentativa. Para a qual o ministro Moraes agiu energicamente e de forma ágil determinando investigação da Polícia Federal depois de mais de quatro versões da estória apresentada pelo senador. O senador Marcos do Val, de testemunha da conversa, passou a ser réu.

 

Tudo isso acontecendo às vésperas do presidente Luís Inácio Lula da Silva viajar para os Estados Unidos e ser recebido pelo presidente Joe Biden. Na agenda, a discussão de como ambos os países, mas não somente, pretendem lidar de forma conjunta para o combate do terrorismo doméstico que hoje afronta as democracias em vários países.

 

A presença de Bolsonaro  em Orlando e sua base paralela articulando um golpe de estado no Brasil  é um elemento bastante desconfortável para Biden., principalmente que mais de 40 parlamentares norte-americanos requereram a revogação do seu visto e ou a sua deportação, o que terminou não ocorrendo.

 

É também uma ameaça à democracia  estadunidense– pelas ligações de Bolsonaro com Trump que desafia a sua volta mais forte ao cenário político. Mas há ainda uma esperança da sua petição ser negada por autoridades de imigração, pela falta de rasonalidade de motivos para permanecer em solo norte-americano.

 

Ana Alakija é jornalista com Mestrado em História pela Salem State University, Massachusetts

 

 

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