Boston– O comando foi claro: “Vamos fazer com ele pior do que faziam comigo” , diz a mensagem de whats app trocada por Jair Bolsonaro (PL) e seus apoiadores que moram nos EUA. A informação foi divulgada pelo Ultimo Segundo do Portal IG e está relacionada com a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), aos EUA, que acontece na sexta-feira (10 de fevereiro).
Segundo o blog, o ex-presidente Jair Bolsonaro está articulando uma manifestação ‘espontânea’ para atentar contra a figura do presidente Lula em Washington-DC, onde o presidente brasileiro será recebido pelo presidente dos EUA, Joe Biden. Dentre pessoas que participam dessa articulação estariam o pastor André Valadão, líder global da Igreja Batista da Lagoinha (em Portugal) e o blogueiro Allan dos Santos, foragido e procurado pela Polícia Federal por participar de organização criminosa de fake news.
Na troca de mensagens, o jornalista do blog, Daniel Cesar, diz que o grupo prepara uma forma de atingir o presidente Lula “sem parecer que são aliados do ex-presidente” [Bolsonaro] . “Tem que ir todo mundo descaracterizado”, diz outra mensagem, sem a camisa amarela (da Seleção Brasileira), que foi usada como marca de bolsonarismo durante a campanha eleitoral. “A ideia é mostrar para o mundo que o petista não é tão querido quanto outros países acreditam”.
Ao tomar conhecimento dessas informações, a inteligência dos dois países começaram a monitorar as articulações para essa manifestação (Leia Jamil Chade). Embora avalie que ainda não há risco elevado, as forças de segurança dos EUA já foram acionadas e estarão de prontidão para atuarem conjuntamente com as forças de segurança de Lula com “rigorosidade”, se necessário.
Ingenuidade imaginar que qualquer manifestação incitada por Bolsonaro venha a ser pacífica. Primeiro porque a experiência tem demonstrado exatamente o contrário. Até nos Estados Unidos. A exemplo do que ocorreu durante o evento “Brazil Conference ” realizado em novembro do ano passado em Nova Iorque.
Convidados para fazer palestras, ministros do Supremo Tribunal Federal tiveram os carros que os conduziam para o evento atacados por ‘manifestantes’ bolsonaristas. Segundo, porque violência e truculência são estilos de ação daqueles que se inspiram e seguem Bolsonaro.
O presidente Lula é convidado especial do presidente Joe Biden e há uma grande expectativa por parte de diversas nações nessa visita. Lula vai tratar de três temas importantes para Brasil do ponto de vista global: a retomada pelo país das discussões internacionais sobre o controle climático; direitos humanos, especialmente a questão do genocídio dos Yanomani, cujas imagens de fome e penúria correram mundo; e a defesa da democracia.
Esta última é uma pauta comum e de interesse direto dos EUA e do Brasil. Os dois países vivenciaram e continuam sofrendo ataques a sua soberania. Os ápices dos acontecimentos foram: a invasão do Capitólio no dia 6 de janeiro de 2021 por uma multidão enfurecida contra a nominação de Joe Biden (Democratas) como presidente da República dos EUA; e dos prédios dos três poderes em Brasilia, em 8 de janeiro de 2023, para provocar a anulação da eleição, diplomação e posse do presidente da República brasileira, Luís Inácio Lula da Silva.
Do lado dos EUA, está no centro desses eventos, a figura do ex-presidente Donald Trump acusado de ser o principal articulador do ataque de Washington que vitimou a morte de 6 pessoas. Do lado do Brasil, o ex do cargo-mor da República brasileira, Jair Bolsonaro. Eles são amigos um do outro e parceiros de assaltos a democracias, golpismo, terrorismo doméstico, desrespeito em matéria de direitos humanos, falta de empatia para com o sofrimento alheio e mediocridades na governança.
Tudo que ambos mais gostam e sabem fazer é meter o dedo em teclados para espalhar ódio, mentiras ou escrever bobagens (venenosas) virtualmente. Também adoram falar com eloquência em público e dizer nada com nada para seus apoiadores. Trump e Bolsonaro acreditam fielmente que o mundo (de preferência quadrado) se movimenta por conta de suas ações. O perigo é que muitos erráticos acreditam em realidades paralelas alimentadas por eles. Enquanto grandes agentes financiadores e a agenda neo-liberal trabalham a todo vapor por detrás deles, numa onda gigante de conservadorismo para derramar governos de extrema-direita em diversas nações.
O que difere Trump de Bolsonaro no momento é o fator temporal. Trump (Republicanos) iniciou campanha para disputar novamente a presidência da República dos EUA em 2024. O ex-presidente Bolsonaro está ainda curtindo a dor de cotovelo pela perda da eleição, no seu novo cercadinho em Orlando, onde está vivendo desde a véspera do fim do seu mandato.
Mas essa manobra sutil para não entregar a faixa ao presidente Lula então eleito e escapar de possíveis acusações, julgamentos e condenação de seus inúmeros crimes (eles vão de peculato e prevaricação a genocídio, como negligência na pandemia, charlatanismo, corrupção, uso da máquina pública para fins eleitorais, organização de quadrilha para espalhar fake news, dentre outros) pode ter um final nada feliz para ele.
Foram várias as tentativas de sabotagem por parte de Jair Bolsonaro contra a democracia brasileira. Dos EUA, é a terceira vez (leia aqui sobre a segunda tentativa de golpe) que ele tenta outra manobra baixa e rasteira bem no estilo da sua estatura.
Que essa evidência de uma ousadia sem tamanho–– porque elaborada em solo norte-americano onde fascismo, nazismo, violência e terrorismo não são tolerados e onde a lei é aplicada para todos––conte negativamente para a avaliação do seu comportamento, psicopático social, pelas autoridades de imigração estadunidenses que analisam o seu pedido de visto de extensão de estadia, agora como turista e homem de negócios.
Isso se o FBI e a Interpol não baterem antes na porta de onde ele está hospedado.
Ana Alakija é jornalista com Mestrado em História pela Salem State University, Massachusetts