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Oscar 2021: A vida imitando a arte

Publicado em: 27/04/2021

De Boston– A vida imita a arte mais que a arte imita a vida, como dizia o dramaturgo irlandês Oscar Wilde. Exemplo disso essa semana foi a realização da edição 2021 da mais cobiçada premiação do Cinema, focando nos temas que atualmente mais movem a sociedade norte-americana. O evento tradicional anual  do Oscar, depois de quase três meses de espera, finalmente aconteceu no último fim de semana em local criativo e de maneira bastante inusitada.

O cenário da premiação foi armado na Union Station de Los Angele, a quinta maior estação de trem dos Estados Unidos, que interliga cidades de pelos menos quatro Estados norte-americanos. A estação, onde  transitam cerca de 110.000 passageiros/dia, recebeu uma decoração estilosa que não dispensou o tradicional tapete vermelho.

Mas a cerimônia contou apenas com a presença dos indicados a prêmios com direito a um acompanhante, a equipe de apresentação, produção e segurança (havia câmeras ao vivo em mais de 20 locais para cumprir as restrições de segurança do coronavírus) e a imprensa reduzida por conta da pandemia.

Local, decoração e premiação apontaram o 93º Oscar para o que a grande agência de notícias Reuters significou, talvez com um pouco de exagero, como “uma celebração da diversidade.” Isto porque a premiação optou por incluir áreas mais neglicenciadas em Hollywood, como raça, gênero, nacionalidade e idade. Assim, Hollywood lavou a alma do preconceito contra os atores mais velhos. Aos 83, Anthony Hopkins foi o mais velho ator a ganhar o prêmio de Melhor Ator; Frances McDormand, aos 63 anos, foi a terceira mais velha atriz a ganhar o prêmio de Melhor Atriz.

A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas vinha enfatizando a necessidade da diversidade de raça nos prêmios após os protestos #OscarsSoWhite de 2015 e 2016, quando seus indicados foram todos pessoas brancas.  Este ano, nove das 20 indicações para atuação foram para pessoas não brancas.  Assim, Yuh-Jung Youn, 73, se tornou a primeira artista coreana a ganhar um Oscar ao receber o prêmio de melhor atriz no domingo, e a segunda mulher asiática (a primeira foi Miyoshi Umeki, uma atriz americana nascida no Japão que foi reconhecida em 1958 por interpretar uma noiva que enfrenta o racismo em “Sayonara”). Daniel Kaluuya foi reconhecido como o melhor ator coadjuvante por interpretar o líder dos Panteras Negras Fred Hampton em “Judas e o Messias Negro”.

A diversidade incluiu também os temas abordados. Christopher Hampton e Florian Zeller, por exemplo, ganharam o prêmio de roteiro adaptado por “O Pai”, sobre as devastações da demência. “Outra Rodada”, do cineasta dinamarquês Thomas Vinterberg, sobre homens de meia-idade que decidem ficar bêbados diariamente, ganhou o Oscar de longa-metragem internacional (anteriormente conhecido como melhor filme em língua estrangeira). “Soul ”, o filme da Pixar sobre um músico negro preso entre a Terra e a vida após a morte,  ganhou o prêmo de melhor filme de animação e trilha sonora.

Com relação à premiação maior, a estatueta de Melhor Diretor foi para a segunda mulher filmmaker e primeira não-branca, a chinesa Chloé Zhao. O filme  dirigido por ela, “Nomadland”, também ganhou as estatuetas de Melhor filme e Melhor atriz, desbancando duas excelentes produções “masculinas” da Netflix:  “Os Sete de Chicago” e “Mank”–– este último conquistou estatuetas para o design de produção e cinematografia,

“Nomadland” explorou a representação do sonho americano destruído, a pressão econômica, a falta de moradia e o corolário cinematográfico da pandemia,  “Os Sete de Chicago”,  os protestos da guerra do Vietnam e os motins de 1968, incluindo o movimento dos Black Panthers (Panteras Negras). “Mank”, baseada na história de produção do roteiro de “Citizen Kane”, de Orson Welles, explorou os bastidores do jogo da politica em conexão com a indústria cinematográfica.

Sobre o final ‘distorcido’ da cerimônia––a previsão mais certa era que os fãs de cinema e os prognosticadores da temporada de premiações esperavam que o troféu de Melhor Ator fosse para Chadwick Boseman (foto)  (“A Voz Suprema do Blues”), mas a estatueta terminou indo para Anthony Hopkins (“O Pai”)–– a “reparação” foi feita pelo próprio Hopkins que pagou tributo ao falecido Boseman, postando posteriormente um video em seu Instagram.

 

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