Ser um patrimônio histórico não significa, necessariamente, ser “intocável”. Brasília é uma cidade tombada pela Unesco, e nem por isso deixa de se modernizar. A modernização, na qual nos referimos, não vem tratar da arquitetura de Oscar Niemeyer – inquestionavelmente moderna e à frente do tempo, na época de sua concepção –, mas trata de ajustes em sua estrutura, com foco nas necessidades de sua população. O tombamento da cidade não pode e nem deve ser considerado um “engessamento”.
Para comemorar o aniversário de Brasília, neste dia 21 de abril, e debater o tema preservação de Brasília como um patrimônio histórico, a Câmara Legislativa do Distrito Federal realizou uma sessão solene para celebrar a data especial. A iniciativa foi do deputado Rôney Nemer (PMDB), que, na formação da Mesa do evento, contou com as presenças de José Messias de Souza, administrador regional de Brasília, e Saulo Santiago, presidente do conselho comunitário de segurança de Brasília.
“Além de comemorar, estamos abrindo espaço para que as lideranças do Plano Piloto possam questionar e dar sugestões de planos, principalmente para o novo governo”, disse Rôney Nemer, sobre o objetivo da sessão solene. O distrital que também é arquiteto urbanista, afirmou estar preocupado com a preservação com o patrimônio histórico. Para o administrador José Messias, o tombamento deve ser respeitado, mas não pode ser um entrave às mudanças pertinentes para os moradores. “Brasília precisa ser preservada, não engessada. A dinâmica da cidade tem seu crescimento natural e suas demandas”, afirmou.
Para Saulo Santiago, presidente do conselho comunitário de segurança de Brasília, qualquer reunião que integre a Câmara Legislativa com a sociedade civil para troca de ideais é bem vinda. “Queremos duas frentes de trabalho, a primeira delas seria a preservação do Plano Piloto no projeto inicial do Lúcio Costa implantado por Juscelino Kubitschek. Em segundo lugar, os problemas do dia a dia que vivenciamos aqui em Brasília como nas cidades satélites, que não deveriam ter mais esse nome por terem muita autonomia, principalmente quando se pensar numa eleição direta para os administradores regionais”, argumenta.
Saulo acredita que mesmo querendo, não é possível “engessar” a cidade e lembra a questão dos prolongamentos, os dos blocos comerciais do Plano Piloto. A discussão a respeito dos “puxadinhos” vem desde 2008, e recentemente foram considerados por desembargadores do TJDF, dentro da lei, por não ferirem o tombamento. “A questão incomoda muito a comunidade, por tirar o conforto e acessos. Mas já está resolvida há seis anos. Houve tempo para que os comerciantes se ajustarem dentro do espaço determinada de seis metros. Temos conflitos da sociedade com o estado, e outros problemas, com certeza surgirão”, avalia exemplificando com a questão da criação da cidade do Catetinho. “Nós do Instituto Geográfico de Brasília somos contra a construção do Catetinho, que é uma zona de manancial. Claro que as associações de moradores, cooperativas e imobiliárias estão interessadas em povoar a área”, enfatiza.
O deputado Rôney Nemer considerou positivo o saldo da sessão. “Todos buscam qualidade de vida, não tem como permitir invasões ou distorções no plano original da cidade. Mas, por exemplo, uma calçada destruída pela raiz de uma árvore tombada, impede a passagem de um idoso, até oferece riscos, e a cidade tem muitos idosos. Um fêmur faturado pode levar esse idoso à morte”, explicou.
Para ele, deve haver mais maleabilidade quanto às necessidades do cidadão brasiliense. “É uma questão de bom senso, o que podemos fazer? Vamos deixar a árvore lá mesmo estragando a calçada? Construir outra calçada? Ou vamos retirar a árvore, replantá-la em outro lugar, e efetivamente colocar outra que não impeça a passagem dos idosos. Quando a cidade está engessada não se pode fazer nenhum tipo de intervenção, então a cidade não pode estar engessada por ter esse crescimento natural”, finaliza.