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Protesto Antidemocrático nos EUA é rechaçado pela Harvard

Publicado em: 07/11/2022

Ana Alakija
Ana Alakija

De Boston – Uma manifestação anti-democrática contra os resultados das eleições presidenciais no Brasil, ocorrida ontem, domingo, na Harvard Square, foi rechaçada pela comunidade de professores e alunos brasileiros da Universidade de Harvard  em Cambridge, Massachusetts.

 

A manifestação ocorreu à tarde e reuniu algumas dezenas de brasileiros residentes em Boston e cidades circunvizinhas. Alguns manifestantes postaram fotos e vídeos na internet ao lado  identificação como cristãos e ao mesmo tempo pregando guerra.

 

Após a manifestação, as associações de estudantes brasileiros e de professores da Universidade e Harvard emitiram uma nota esclarecendo que o evento não teve qualquer conexão com a comunidade  acadêmica e que o protesto não contou com o apoio da comunidade.

 

” A HUBA e a HBASS gostariam de esclarecer que não tiveram nenhuma afiliação com esse protesto e não apoiam reivindicações contrarias aos princípios e instituições da democracia”, disse a nota. As entidades enfatizaram que a Harvard Square é um espaço público, esclareceram que os manifestantes não fazem parte da comunidade da universidade e que o protesto “não necessariamente representa a perspectiva da comunidade.”

 

As associações disseram ainda que ficariam felizes em conversar com quem tiver interesse em saber sobre o que está ocorrendo no Brasil. E que, como uma comunidade, continuam a apoiar a democracia, o diálogo e o respeito.

 

MODELO TRUMP

 

Repetindo o modelo Trump, brasileiros apoiadores do atual presidente Jair Bolsonaro, perdedor da eleição,  não aceitam a vitória do presidente eleito democraticamente Luiz Inácio Lula da Silva. Eles pedem intervenção militar no país, algo completamente contraditório à Constituição Brasileira e mesmo após o líder de extrema-direita no poder, vacilante ou não,  já ter sinalizado a disposição de entregar o governo no dia 1 de janeiro ao presidente eleito Luis Inacio Lula da Silva e a transição do novo governo estar em curso.

 

Aleem disso, o Senado norte-americano aprovou, anteriormente as eleições presidenciais, uma sanção de rompimento de programas de cooperação com o Brasil no caso de manobras antidemocráticas para invalidar o resultado do pelito. Isso inclui tentativas de  impedimento do novo presidente Luís Inácio Lula da Silva tomar posse.

 

Eduardo Siqueira, professor da Universidade de Massachusetts,  coordenador do Projeto Transnacional Brasileiro, em entrevista para as emissoras de rádio públicas disse a reação desses manifestantes está relacionada com o pronunciamento do atual presidente da República após as eleições. Siqueira disse que a mensagem de Bolsonaro foi cuidadosamente direcionada a seus apoiadores.

 

“O discurso que ele fez foi praticamente nada…Ele não pode dizer totalmente que ele cedeu porque provavelmente quer deixar algum espaço aberto para algum protesto e dar alguma flexibilidade para seus apoiadores dizerem que ele disse: ‘Veja, eu disse que concedi, mas eu não admiti'”. “E isso faz parte desse esquema de sempre focar em seus apoiadores, especialmente o lado extremo de seus eleitores.”

 

Para o professor, Bolsonaro “mentiu novamente sobre o que disse que fez durante este governo e usou os slogans que usou em toda a sua campanha – “Deus, lar, terra, família, liberdade”.  “Ele afirma que respeita a liberdade de opinião, mas na verdade perseguiu a mídia. Ele afirma que é a favor da liberdade de religião, mas acusou Lula de tentar restringir a liberdade de religião em sua campanha”. Siqueira vê paralelos entre o que está acontecendo agora no Brasil e o que aconteceu nos Estados Unidos quando o ex-presidente Donald Trump perdeu a reeleição em 2020.

 

MIGRANTES ECONOMICOS

 

Boston é o segundo maior colégio eleitoral nos Estados Unidos, com  cerca de 35 mil eleitores, reunindo votantes de cinco estados. Apesar do presidente eleito Lula ter tido vantagem no exterior em vários países, Jair Bolsosonaro  teve 69,89% de votos em Massachusetts e Luis Inácio Lula da Silva 23,04%.

 

Essa diferença é explicada pela natureza dos brasileiros que migram para o país estadunidense, especialmente para o estado de Massachusetts. A maioria é constituída de migrantes econômicos, vindo da cidade de Governador Valadares, em Minas Gerais, que vive principalmente da receita arrecadada de remessas enviadas por eles para as suas  familias.

 

Para esses migrantes, quanto mais descompensada a balança cambial, melhores são os negócios. Poucos dias após a eleição de Lula, o dólar acumulou uma queda de 4,56% caindo de R$ 5,6476 para R$ 5,05 90 e a bolsa de valores de São Paulo, que estava em queda de 6,74%,  teve uma alta de 3,16%.

 

O que significa que o risco Brasil diminuiu e criou um cenário de  possibilidade de maior investimento e atração do capital estrangeiro para dentro do país com desenvolvimento e não através da especulação financeira.  O modelo de especulação serve ao capital, à acumulação de riqueza pelas pessoas mais ricas, desassiste a maioria da população e não estimula a produção (não é bom nem pro agronegócio!!!).

 

Mais importante talvez que reconhecer a natureza dos apoiadores de um governo reconhecido internacionalmente como um governo de extrema direita, de carater fascista e de que a vitória do pleito foi da democracia brasileira, composta por uma frente ampla de partidos  de esquerda, centro e direita apoiando o presidente eleito Luís Inácio Lula da Silva, é que a indústria criminosa de fake news sob os auspícios do Planalto continua atuando forte.

 

Mesmo após a derrota do modelo, ela continua atuando junto com empresários golpistas financiando atos (com camisetas, bonés, bandeiras, alimentos, barracas), desinformando e articulando apoiadores com slogan como ‘Brazil was stolen” (Brasil foi roubado). Com direito a imagens de saudações nazistas e orações, tudo “em nome de Jesus”, para fazer da mentira a realidade paralela sob o disfarce da inversão bíblica  de Jair como Messias; e Lula, como Barrabás.

 

Ana Alakija é jornalista com Mestrado em História pela Salem State University, Massachusetts
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