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Distrito Federal está perto da meta da ONU de redução das mortes no trânsito

Publicado em: 22/12/2019

Há 10 anos, a Rússia sediou a 1ª Conferência Ministerial Global sobre Segurança no Trânsito. À época, a Organização das Nações Unidas (ONU) declarou que os cerca de 120 países participantes do acordo teriam que reduzir o número de mortes no trânsito pela metade no período entre 2011 e 2020. O acordo ficou conhecido como a Década da Ação para a Segurança no Trânsito e objetiva o salvamento de 5 milhões de vidas. No Distrito Federal, falta pouco para atingir a meta: o número de mortes nas vias da capital caiu cerca de 40% durante o período.

Levantamento do Departamento de Trânsito do DF (Detran-DF) mostra que, em 2011, 465 pessoas morreram em acidentes nas vias da capital. Até novembro de 2019, o número de óbitos era de 254, ou seja, uma redução de 45% em comparação entre os dois períodos. Apesar da queda expressiva, o órgão não conseguiu atingir a meta, que era de 247 registros. Para 2020, a expectativa é de que a taxa de mortalidade não ultrapasse 225.

De acordo com o Detran, uma série de medidas foi aplicada durante o período para que fosse alcançada a queda no número de mortes. A gerente de estatística do órgão, Karina Alves, explica que, durante a década, houve redução de velocidades em vias urbanas e rodovias distritais, o que impactou diretamente nos dados. “Passamos a identificar onde aconteciam os problemas e a agir diretamente neles. No ano passado, por exemplo, vimos que o pedestre é a principal vítima do trânsito. A partir disso, fizemos campanhas educativas e até cursos para esse público”, informa.

Outro ponto forte destacado por Karina é a intensificação na fiscalização da alcoolemia. “O trabalho feito em conjunto com outros órgãos, como Polícia Militar e Departamento de Estradas de Rodagem (DER), ajuda nesse monitoramento. Este ano, já estamos fazendo testes com o drogômetro”, ressalta. Além dos trabalhos de blitz, Karina destaca que campanhas educativas e a parte da engenharia das vias também são feitas em parceria.

Para atingir a meta em 2020, Karina ressalta que o trabalho com outros órgãos vai continuar e que o Detran atuará diretamente com pedestres e motociclistas, que são as principais vítimas mortas em acidentes na capital. “Não deixaremos os outros envolvidos de fora, porém, ações junto a esse público, como fiscalização, combate a alcoolemia e verificação das habilitações são importantes”, frisa.

Vítimas

De janeiro a setembro de 2019, 215 pessoas morreram no trânsito da capital. Comparado a igual período do ano passado, quando ocorreram 226 óbitos, houve uma redução de cerca de 4%. Do total deste ano, a maioria era de pedestres. Ao todo, 75 transeuntes morreram, quase 35% das vítimas. Com 64 mortes (25%), os motociclistas estão em segundo lugar nas estatísticas, seguidos por demais condutores (29), passageiros (28), ciclistas (18) e outros (1). O número de motociclistas mortos cresceu 45% em comparação ao ano passado, quando ocorreram 44 óbitos.

Para a professora da Universidade de Brasília (UnB) e especialista em transporte Michelle Andrade, o acordo firmado pela ONU levou em consideração que os países participantes tinham dificuldades no aspecto político e econômico, que é o caso do Brasil. De acordo com ela, o Distrito Federal tem potencial para atingir a meta, devido ao histórico de dados registrados. “Venho acompanhado o quadro de Brasília desde 2013. Percebi que o movimento ficou mais intenso a partir de 2016, quando programas específicos começaram a surgir”, ressalta.

De acordo com a estudiosa, algumas medidas impactaram diretamente nos dados, como a implementação das caixas de espera de motociclistas nos semáforos e o crescimento da malha cicloviária. “Embora as ciclovias tenham problemas estruturais fortes, ainda há um espaço para o ciclista com um pouco mais de segurança”, reforça. Michelle frisa que ações do Detran e do DER, principalmente nos períodos do Maio Amarelo, foram essenciais para alertar os motoristas da capital sobre os perigos do trânsito.

Entretanto, a especialista destaca que as campanhas na capital são “extremamente pontuais” e deveriam ocorrer no ano inteiro. “Essas medidas têm data marcada. Acontecem, geralmente, nas férias, no carnaval e no período de chuva. O ideal é que sempre ocorram”, afirma. Além disso, Michelle reclama que ainda falta estabelecer os pilares da segurança viária no DF, que são infraestrutura mais segura, incremento na questão de viabilidade, melhoria no atendimento às vítimas e veículos mais seguros, apesar de que esse último item não faz parte diretamente da atribuição do Poder Público.

Perdas

Quem perdeu pessoas queridas no trânsito carrega feridas que dificilmente podem ser fechadas. Em 2011, o assessor parlamentar da Câmara dos Deputados Marcos André Torres, 37 anos, morreu após ser atropelado no Buraco do Tatu. O condutor, Gustavo Henrique Bittencourt Silva, à época com 26 anos, estava sem Carteira Nacional de Habilitação (CNH) e informou trafegar a 60km/h. Porém, o sistema do Detran indicava que ele havia ingerido álcool.

Apesar de Gustavo ter sido condenado em 2013 a 3 anos e 7 meses de detenção em regime inicial aberto, a pena foi substituída por duas restritivas de direito. Ele também precisou pagar uma indenização de R$ 60 mil à família e ficou impedido de dirigir por três anos. Entretanto, as medidas não foram suficientes para amenizar a dor dos familiares. “Meu irmão deixou dois filhos pequenos, que hoje estão com 11 e 9 anos. Eles ficaram sem qualquer ajuda financeira, já que Marcos era o principal provedor da família”, lamenta a irmã Márcia Giraldi, 44 anos.

De acordo com Márcia, a vida da família ficou totalmente impactada com a perda do irmão. “Meu sobrinho mais velho até hoje sente falta do pai. Ele fez acompanhamento psicológico, mas ainda continua tendo crises. Em 7 de dezembro, o menino fez aniversário e a única coisa que ele pediu foi o pai”, conta. Ela reclama de que o Estado não os atendeu. “Em nenhum momento, alguém perguntou para minha cunhada o que ela precisaria. Não ofereceram qualquer ajuda”, reforça.

Em 21 de outubro de 2017, o ciclista Raul Aragão, 23 anos, morreu atropelado na 406/407 Norte. O estudante Johann Homonnai, 18, conduzia o veículo que atingiu a vítima. Em 21 de março do ano passado, ele foi condenado a dois anos de detenção em regime inicialmente aberto e a dois meses de proibição de obter habilitação para dirigir. Para a família, A pena foi branda. “Um pai daria um castigo mais grave do que a Justiça”, critica a mãe de Raul, Renata Aragão, 60.

Após a morte do filho, Renata virou ativista das questões de trânsito e passou a integrar a Organização Não-Governamental (ONG) Rodas da Paz, entidade da qual Raul fazia parte. “Era um rapaz muito promissor, com muita capacidade. Precisei reaprender a viver para manter o legado dele. Como mãe, me senti na responsabilidade de não deixar o legado dele morrer”, comenta.

  • Ano   Vítimas mortas    Meta
    2011    465    429
    2012    418    403
    2013    384    379
    2014    406    362
    2015    354    337
    2016    390    314
    2017    254    292
    2018    277    270
    2019    254    247
    2020    ***    225

    Correio Braziliense

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