Por César Diniz – O segundo semestre do governo Agnelo começou. Ao longo dos últimos meses a ampla coalizão governamental formada em torno da aliança partidária PT-PMDB no DF atravessou vários caminhos na busca pela afirmação de uma nova agenda para Brasília. Paciência e tolerância marcaram o julgamento sobre o desempenho administrativo do GDF. A herança é complexa e a cidade continua sobressaltada pelos episódios da recente crise ética e política.
O quadro das várias emergências encontradas nas áreas administrativas virou retrato do passado e a população requer cada vez mais uma linha clara de atuação do GDF. Os desafios reservados para a gestão de Agnelo à frente do Buriti são numerosos. Os de ordem política continuam sendo a superação da descrença quanto à viabilidade política da coalizão formada em torno da aliança PT-PMDB; a costura da unidade da confederação de interesses que é o PT local; e o alinhamento institucional de cooperação entre a agenda governamental de Dilma com o conjunto de prioridades e interesses do DF e do governo Agnelo.
No campo administrativo, Agnelo terá de colocar de pé um modelo de gestão capaz de absorver diferentes prioridades dos principais segmentos sociais da cidade. Brasília articula no seu território três grandes forças sociais. A primeira é representada por um grupo diverso e heterogêneo que podemos agrupar em torno dos funcionários públicos e dos profissionais liberais. Esse segmento representa a “classe média” brasiliense. Esse grupo busca hoje na política alternativas governamentais que tenham como prioridade a gestão profissional da máquina pública; sem concessões as costuras políticas, recrutadas estritamente por méritos e qualificações técnicas.
A classe média brasiliense é portadora também das preocupações contra o gasto perdulário da máquina pública; de maior rigor contra a corrupção; de menor tributação à renda assalariada e por serviços públicos como limpeza, conservação de ruas, segurança, estacionamentos e trânsito. Não que a classe média brasiliense seja a única preocupada com essa agenda de assuntos e de temas, mas suas preocupações centrais estão efetivamente representadas por uma agenda desse tipo: eficiência governamental-transparência e ética na política-segurança pessoal e conforto patrimonial. A outra força social preponderante na cidade são as classes populares, assalariadas do setor privado, de menor poder aquisitivo, mas de forte potencial de consumo e de informação.
São os cidadãos e cidadãs residentes nas cidades fora do eixo do Plano Piloto. Esse grupo possui uma extensa agenda social e econômica. Querem mais oportunidades de emprego; profissionalização; mais alternativas de habitação; melhores serviços de transporte coletivo; de saúde e de educação. A criminalidade e o tráfico de drogas representam ameaças cada vez maiores ao cotidiano dessas pessoas e o Estado e a atuação governamental devem pautar-se pelo conforto material e social do grupo. A agenda popular brasiliense é bem pragmática e o julgamento dessas pessoas sobre o desempenho dos governantes costuma se pautar por valores e diretrizes concretas; realizações efetivas a seu favor.
Também marca presença no DF a ala social do desenvolvimento econômico e do interesse comercial. São empresários, de todos os tipos e tamanhos, que exercem suas atividades empresariais em Brasília e região e apresentam ao governo local uma agenda de menos impostos; maior oferta de ativos econômicos como terra e crédito mais barato; menor fiscalização e regulamentação da atividade econômica. Acesso a novas tecnologias; treinamento e assessoria e compras governamentais.
Conciliar esses dispersos interesses na atual coalizão governamental que comanda o GDF é tarefa das mais delicadas. No entanto, não é impossível dispor de uma agenda governamental na qual valores e diretrizes como eficiência; transparência e ética; ação social e desenvolvimento caminhem de forma aliada. É essa agenda que o governo Agnelo precisa colocar em curso no segundo semestre. Aliar um conjunto de programas e ações que tenham como macro objetivos desenvolvimento econômico; proteção social e a eficiência combinada com ética na atuação do GDF.
Esses objetivos de caráter macro não prejudicam temáticas transversais de alta envergadura e tambem de grande prioridade como a promoção da cultura, a defesa do meio ambiente e a integração de Brasília com uma política universal de acesso às plataformas digitais de relacionamento e de informação. Os atores políticos no comando do GDF precisam verbalizar mais uma agenda comum de governo, evitando-se fragmentar a execução das ações estritamente por áreas, secretarias ou órgãos. Como em qualquer equipe de futebol, GDF precisa de uma defesa compacta; um meio de campo bem articulado e o ataque seja resultado do conjunto e não de vários jogadores isolados.
César Diniz é cientista político