A Audiência Pública realizada nesta segunda-feira (04), que tinha por objetivo abrir o diálogo sobre a expansão do setor Sudoeste, conseguiu superar todas as expectativas, e ser surpreendente. Quem esperava apenas ouvir uma argumentação civilizada, sobre arquitetura e urbanismo, ou sobre pontos de vista jurídicos, teve que ouvir muito mais. As divergências quanto à construção de novas edificações no setor, além dos previstos e oportunos debates embasados, também geraram ataques pessoais.
O principal motivo do debate é a área de expansão – que seria a Quadra 500 do Setor Sudoeste –, que fica entre o Inmet e o Parque Ecológico das Sucupiras. Segundo o Projeto Brasília Revisitada, no local não pode ter qualquer tipo de construção. O argumento pró expansão é que o terreno, propriedade da Marinha, foi negociado com a empresa Antares – a mesma que foi envolvida na operação aquarela da Polícia Federal, e que quer construir os edifícios – por outro em Águas Claras. A briga agora é que a área seja incorporada ao parque das Sucupiras, às margens do eixo Monumental, ampliando a zona de proteção ambiental.
Na audiência, o presidente do Iphan, Alfredo Gastal, disse não se opor à expansão do setor. “Não temos objeção à construção, foi um terreno cedido à marinha, pelo DF, que foi permutado. A venda foi absolutamente correta do ponto de vista jurídico e do tombamento”, alega. O Iphan se manifestou favorável às novas construções, depois de um plano preliminar elaborado por meio de um estudo técnico assinado por Paulo Zimbres. Coincidentemente, o mesmo arquiteto que foi escolhido para assumir o trabalho na construção das projeções na área.
O professor de Arquitetura da UnB, e doutor em psicologia, Frederico Flósculo, afirma exercer “Advocacia Urbana e Ambientalista”, que defende os interesses da comunidade. Para ele, o governo deve oferecer equilíbrio entre as empresas e interesses da comunidade. “Existem setores interessados na perda da organização da cidade. Conhecemos as velhas vitórias do desregramento, velha como a certeza de que o setor imobiliário vai vencer. Estamos diante de inimigos poderosos que não param de avançar”, afirma.
Flósculo também acusa o Iphan, e seus gestores, de não cumprirem o papel a que o instituto se destina. “Há várias falhas de inteligência do governo, a primeira falha grave é do Iphan, que tem o sentido fundamental de resgatar o tombamento da cidade. E se o representante (Alfredo Gastal), não o faz, não há porque continuar ocupando o cargo”, opina.
Alfredo Gastal considerou a crítica do professor à sua gestão como algo pessoal e, interrompendo o andamento do debate pertinente, contra-atacou no plenário. Comentou que conhecia Frederico, mas que nunca havia sido objeto de suas ofensas. “A propósito, aproveito a ocasião para retribuir (as ofensas). Considero-o um oportunista, populista, demagogo, irresponsável, em síntese, patético. E o desconsidero. Realmente, uma pessoa patética e oportunista”, enfatiza. Achávamos que havia terminado a sessão de grosserias, e Alfredo continuava sua explanação, quando foi aplaudido por uma mulher que assistia à audiência. “Não quero aplausos, não estou aqui para ser simpático”, disse.
Antes do encerramento, o superintendente já havia saído da mesa e dava sinais de que iria embora. Nesse momento, o microfone estava aberto a pessoas presentes que tivessem o interesse de fazer uso da palavra. A professora Tânia Barcelos disse que Gastal, tinha analisado o critério de propriedade da área, e que isso não cabia ao Iphan. Com isso, o superintendente resolveu voltar e sentar-se à mesa novamente.
No encerramento, o superintendente e defensor da expansão, paradoxalmente, disse: “Temos que parar de construir no Plano Piloto”. De forma debochada ainda retrucou; “Se precisar de alguém para ser alvo de críticas, pode contar comigo”. E ainda não satisfeito com a opinião do professor Flósculo chamou o colega da mesa de “latrina”.