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Insanidade, dinheiro, joias e armas: Bolsonaro aumenta tensões no Oriente Médio

Publicado em: 12/03/2023

Ana Alakija
Ana Alakija

Boston– No dia em que a guerra na Ucrânia completou um ano (no mês de fevereiro de 2022), o presidente democrata Luís Inácio Lula da Silva postou em suas redes sociais o que defendeu no encontro que teve recentemente com o presidente democrata Joe Biden, dos Estados Unidos:  a urgência de um grupo de países não envolvidos na guerra entre a Rússia e a Ucrânia assumir a responsabilidade de encaminhar uma proposta de paz entre os dois países.

 

Há quem diga que é uma alta pretensão. Mas há quem acredite realmente em Lula como aquele que poderia salvar o planeta. A exemplo dos cientistas Noam Chomsky e o professor emérito do Instituto de Tecnologia de Massachusetts ( MIT) Vijay Prashad.

 

O argumento desses dois cientistas na verdade está primeiramente associado à causa ambiental, de preservação do maior bioma da América do Sul, e da maior floresta do mundo, a Amazônia, assim como a proteção de seus povos originários. O pensamento contempla também os programas de redução de iniquidades no Brasil carregados por Lula a serem olhados como exemplo para outros países.

 

Mas essa tese também é adjunta à envergadura de um estadista da paz como Lula, com os dois pesquisadores citados acima visualizando cada vez mais a descentralização do poder do país estadunidense, por conta de desfechos desastrosos nos episódios do Iraque, Líbia e Afaganistão.

 

Acontece que, num momento em que essa construção de paz entre a Rússia e a Ucrânia começou a ser costurada– diga-se a contragosto de Biden, que quer que Lula fique fora disso—uma bomba explodiu no Brasil. Os estilhaços dessa bomba respingam não somente na compreensão dos caminhos desse conflito; eles alcançam o Oriente Médio e colocam o Brasil na condição de potencializador, de alguma forma, do conflito global.

 

“Pego” como principal beneficiário de joias no valor de quase R$ 17 milhões de reais e armas de fogo que entraram no Brasil, parte de forma ilegal e outra parte ainda não totalmente explicada, documentada e ou com impostos pagos, o ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro, da ala da extrema direita nazi-fascista é o vilão da história (outra vez!!!) .  As joias––colar, par de brincos, anel, relógio, caneta e algo mais–– que somente agora a sociedade brasileira tem conhecimento, teriam sidas ofertadas pelo príncipe e primeiro-ministro da Arábia Saudita Mohammed bin Salman; e as armas ––uma pistola de 9 mm e um fuzil de 5,56 mm personalizado–– teriam sido ofertadas pelos Emirados Arabes. Uma relação umbilicada, dificil de separar alhos de bugalhos.

 

Os presentes estão sendo e serão  averiguados pela Polícia Federal e outras instâncias, inclusive se tem relação com a transação da privatização da Refinaria de petróleo Landulpho Alves, na Bahia. Na governo Bolsonaro, a refinaria foi avaliada em aproximadamente US$ 3 bilhões e foi vendida por US$ 1,8 bilhão  para uma empresa dos Emirados Árabes.  Como todos nós sabemos, Arábia Saudita e Emirados Árabes, duas monarquias vizinhas, são as duas maiores nações produtoras de petróleo do mundo, e a região praticamente dita o preço internacional do barril de petróleo como países integrantes da OPEP (organização da qual a Rússia também faz parte).

 

O escândalo do governo que se elegeu em 2018 através de fake news com o discurso anti-corrupção e manteve esse discurso impoluto até hoje no pós-governo, derrotado nas eleições, está fartamente documentado pela imprensa brasileira e tem repercutido na imprensa internacional. Isso inclui o maior canal estatal de noticias de língua árabe do Qatar, a Al Jazeera, que ressalta o monte de irregularidades, ilegalidades e possíveis crimes aduaneiros e outros cometidos contra o Estado brasileiro pelas manobras de Bolsonaro e seus assessores militares em lidar com os objetos, a maioria não declarada.

 

Uma questão que se quer levantar aqui, indiretamente relacionada, é que, por conta do conflito entre a Ucrânia e a Rússia–outro grande país produtor de petróleo e um dos maiores exportadores de gás natural–  o presidente Joe Biden se viu forçado, em julho do ano passado, a fazer uma negociação desconfortável do preço do petroleo diretamente com os países árabes, para atenuar os efeitos da guerra nos preços e custo de vida,  especialmente nos Estados Unidos.

 

Os preços do diesel, gasolina e das mercadorias baixaram, mas essa negociação saiu MUIITO cara. No final do ano passado, o governo norte-americano determinou a imunidade do príncipe herdeiro saudita Mohammed bin Salman, a quem a CIA responsabilizou pelo assassinato em 2018 do jornalista saudita residente nos EUA, defensor dos direitos humanos e colunista do The Washington Post, Jamal Khashoggi.

 

Na época, a noiva de Khashoggi reagiu à decisão de Biden em relação a ação civil que ela moveu nos EUA contra Mohammed bin Salman, dizendo: “Khashoggi morreu hoje de novo” .

 

A Arábia Saudita vem afrontando países com quem essa nação assinou uma convenção, em 1972, para não produzir armas de destruição em massa, biológicas e outras, com um projeto de um programa nuclear arrojado com capacidade e tecnologia eficiente para o desenvolvimento de armas nucleares. Há dois dias atrás, o país solicitou autorização aos EUA para tocar esse programa com o objetivo ou justificativa de produzir “energia nuclear.”

 

Enquanto isso, o grupo que está trabalhando pela paz global (Brasil, China e índia) fez alguns avanços. Lula negou ao chanceller alemão Olaf Scholz o envio de armas para a Ucrânia, quando encontrou com ele no fim do mês de janeiro, em sua viagem à Europa. Lula também não cedeu a pressão dos EUA quando encontrou com Biden em fevereiro. “O Brasil não tomará partido nessa guerra”, disse Lula, desejando conversar com os dois lados.

 

Biden tem tentado atrair o presidente Lula em cooperação comercial em meio a essas tensões. Os motivos vão além das prerrogativas do  país estadunidense de comandar seus próprios interesses. Um deles é que Biden não vê com simpatia aproximação do Brasil com a China – o maior parceiro comercial do Brasil e o maior concorrente dos Estados Unidos.

 

Sobre a proposta de paz , o presidente da Rússia, Vladimir Putin, sinalizou inicialmente de forma positiva ao presidente Lula, tendo em vista a política equilibrada do Brasil e a parceria entre os dois países no cenário bilateral e mundial. A  Ucrânia, entretanto, demonstrou não ter interesse nessa negociação. O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky simplesmente não concorda com a posição “neutra” do presidente brasileiro.

 

Finalmente, o que se quer chamar a atenção neste artigo é que, independente das intempéries adversas nesse caminho de construção da paz global que coloca Lula no cerne,  Bolsonaro deixa mais uma herança ominosa na história do Brasil e do mundo.

 

A venda da Refinaria Landulpho Alves aos Emirados Arabes, segundo os especialistas a preço de banana mesmo somada às possíveis propinas recebidas por Bolsonaro, seguramente contribuíu para concentrar mais poder aos países do Oriente Médio no estabelecimento das politicas de distribuição e preços do petróleo no mundo.  Não sabemos ainda a dimensão, mas ela pode funcionar como um peso entre multiplos fatores influenciadores de decisões, por exemplo, em torno dos avanços da Arábia Saudita no desenvolvimento do seu programa nuclear.

 

O conhecimento da sociedade sobre o recebimento de presentes tão valiosos e das manobras tortuosas de Bolsonaro e seus assessores militares para apropriação do que até pode pertencer ao Estado, em troca (?) da entrega das nossas riquezas também nos remete a pensar sobre essa mancha que ficará pra sempre em nossa história, do uso da nossa soberania para escalar a guerra global.

 

 

Ana Alakija é jornalista com Mestrado em História pela Salem State University, Massachusetts

 

 

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