Sindicato dos Jornalistas completa 60 anos e recebe homenagem em sessão solene da CLDF

Publicado em: 30/08/2022

Nesta terça-feira (30) a Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF) realizou sessão solene para celebrar os 60 anos de fundação do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do DF (SJPDF). A reunião foi realizada por requerimento do deputado Chico Vigilante (PT) e teve a presença de representantes da categoria, assim como de outros sindicalistas. O evento marcou também a entrega de certificados conferidos pelo SJP na comemoração aos 60 anos da instituição.

Logo na abertura, Vigilante fez questão de relembrar a participação do SJPDF em acontecimentos marcantes da história, principalmente desde o fim da década de 1970. O distrital citou a revolta dos trabalhadores da construção civil em Brasília, a greve dos professores do DF, a greve dos vigilantes e a cobertura sobre o assassinato do jornalista Mário Eugênio, pressionando as autoridades para que o crime fosse devidamente investigado e apurado.

O parlamentar petista registrou ainda a participação do sindicato e da categoria dos jornalistas na luta pela redemocratização do país por meio do movimento das Diretas Já, inclusive com a cobertura das manifestações e do dia da votação. “Na ocasião, o general Newton Cruz saiu para as ruas com aquele sabre, espancando os carros e ali estava o Sindicato dos Jornalistas”, disse Vigilante.

“É um sindicato que tem história, tem passado, tem presente e certamente terá muito futuro neste momento tão grave que a nação brasileira vive. Vida longa a esse sindicato, que representa muito e continua sendo tão necessário à luta dos trabalhadores”, concluiu Vigilante.
O jornalista Hélio Doyle, que presidiu a entidade por dois mandatos consecutivos entre 1980 e 1986, fez questão de render homenagem a outros que se dedicaram à instituição e a mantiveram viva e ativa. Entre outros, citou ex-presidentes como Chico Sant’Anna e Lincoln Macário. Doyle relembrou o trabalho de composição política necessário para vencer as eleições na instituição em 1977. “O sindicato estava desde 1964 praticamente sob intervenção do regime militar e para vencermos as eleições foi preciso fazer uma aliança com os liberais, que inclusive ocuparam a presidência e a vice, tendo à frente os jornalistas Carlos Castelo Branco (Castelinho) e Rubem de Azevedo Lima”.

Ele reforçou que “a entidade realmente exerceu papel importante no Distrito Federal e agora os sindicatos enfrentam enormes dificuldades, com seus recursos financeiros cortados, com a precarização da classe trabalhadora, tornando penosa a associação e a participação na entidade”. Por fim, rendeu homenagem aos trabalhadores da Empresa Brasileira de Comunicação (EBC) que acabaram de vencer o prêmio Vladimir Herzog e têm defendido com muita coragem o sistema público de rádio e televisão que precisamos ter no Brasil”, finalizou.

Desde 2013, o SJPDF não tem mais o sistema presidencialista em sua direção, elegendo uma coordenação executiva. Atualmente, essa comissão é formada por quatro mulheres e três homens. Quem participou da solenidade realizada na CLDF foi Juliana Cézar Nunes, enquanto coordenadora geral do sindicato.

“Quando penso nos 60 anos do sindicato, penso na maturidade e na renovação. Precisamos cuidar desse legado que foi colocado aqui e revitalizar toda essa trajetória. Essa é nosso compromisso”, exclamou Juliana. Ela registrou também que “a instituição está trabalhando firme para reabrir o Clube da Imprensa, o que está muito próximo de acontecer”.

A profissional é jornalista licenciada da EBC e registrou sua solidariedade aos colegas da rádio Cultura DF e aos profissionais de sua empresa de origem. “Vivenciamos nas últimas semanas situações de censura na rádio Cultura e na EBC acompanho diariamente colegas que estão sofrendo censura e até processos administrativos de tentativa de demissão ou de suspensão pela atuação deles naquela empresa. Além disso, a censura não está instalada apenas nas empresas de comunicação pública, as empresas privadas foram coniventes e omissas por exemplo com os colegas que estavam no cercadinho do Palácio do Planalto”, afirmou. “O sindicato precisa se posicionar diariamente no apoio político, jurídico e psicológico para proteger jornalistas, inclusive quanto à saúde mental”, relatou.

Por sua vez, o repórter fotográfico e diretor do SJPDF, Wanderlei Pozzembom disse que “quando estava nos jornais e cobria as manifestações como na greve dos vigilantes, dos bancários, dos rodoviários e dos professores ficou com vontade de defender a sua categoria também. Afinal, a história passa pelas lentes dos repórteres fotográficos desse país e de Brasília”.

Já Renata Maffezoli, diretora do SJPDF e também do Coletivo de Mulheres Jornalistas do DF, falou sobre a atuação das instituições para combater o assédio sexual a mulheres na profissão e lutar contra a violência de gênero. Maffezoli citou levantamento que em 2021 registrou 119 casos de violência contra mulheres jornalistas no exercício da profissão. “Infelizmente, temos ainda um longo caminho pela frente, mas nossa perspectiva é de tempos melhores e nossa luta é para avançar na garantia de direitos e não simplesmente para barrar retrocessos”, afirmou.

O presidente da CUT/DF, Rodrigo Rodrigues, reforçou que desde 2013 têm crescido no Brasil a violência contra jornalistas. “A categoria precisa de um sindicato forte e atuante como é o SJP, que sempre fez sua defesa e continua lutando pela valorização dos profissionais que constroem cotidianamente a informação, um dos pilares da democracia”, concluiu.

A jornalista Jacira da Silva, ex-presidente do SJP/DF entre 1995 e 1998, lembrou que a instituição garantiu a primeira Marcha Zumbi dos Palmares, que foi em celebração aos 350 de seu nascimento. Além disso, ressaltou que o sindicato também luta para a instalação do Conselho de Comunicação no GDF. “Esse conselho do DF precisa existir de fato”, conclamou.

Outro ex-presidente da entidade, Chico Sant’Anna lembrou que “Brasília não contava com autonomia política e o sindicato tomou essa bandeira para o direito de se votar aqui”. Além disso contou que “o SJP também foi um ente importante para o DF porque enquanto não havia um conselho de planejamento urbanístico e de meio ambiente, o sindicato e o IAB é que tinham assento nesse fórum, protegendo a cidade da especulação imobiliária e lutando contra o avanço do urbanismo no verde”. Por fim, Sant’Anna fez um apelo para que a CLDF “exerça sua competência constitucional e legisle em relação ao ordenamento jurídico nos gastos das verbas publicitárias do GDF e do próprio Legislativo para que o processo seja democrático e transparente”, finalizou.

Representando a Associação Brasileira de Comunicação Pública (ABCP), o ex-presidente do SJPDF, Lincon Macário, disse que a luta pelo direito à comunicação, especialmente pública é uma luta de todos. “A comunicação pública, o jornalismo e a comunicação como um todo, mesmo aquela de entretenimento são fundamentais para o exercício da cidadania e da democracia e por isso devem ser uma luta de toda a sociedade”, afirmou. “É preciso uma regulamentação para proteção dessa categoria tão atacada e também devemos começar a discutir como se devem usar as prerrogativas do jornalista, que são constitucionais”, ressaltou Macário.

Moacir Oliveira Filho, diretor de jornalismo da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), contou que a Associação tem se preocupado muito com a escalada da violência contra jornalistas no exercício da profissão. Disse ainda que a entidade faz uma defesa intransigente da comunicação pública. “Não podemos permitir que uma empresa como a EBC seja transformada apenas em uma assessoria de imprensa do Poder Executivo”, afirmou.

Já a deputada federal Erika Kokay (PT) afirmou que “nunca houve tantos ataques à liberdade de imprensa e ao exercício da profissão porque o jornalista tem um compromisso com a verdade e com a realidade que enfrentam o atual “negacionismo” ao pautar os fatos como fatos e não as narrativas criadas”.

Francisco Espínola – Agência CLDF

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