De Boston – Pela primeira vez na história global, articulado com o movimento nacional no Brasil e também realizado em vários outros países, brasileiros comemoram o Dia Nacional da Consciência Negra nos Estados Unidos.
Organizado por organizações de imigrantes brasileiros, o “Zumbi dos Palmares & Dandara: Celebrando a Resistência Negra no Brasil” será realizado hoje, em New York, a partir das 13h, no The People’s Forum.
A programação prevê palestras, música, poesia, dança, performances, capoeira, gastronomia e artes relacionadas à cultura afro-brasileira. Às 15h15, os participantes prosseguem em marcha para a famosa Times Square. Um protesto será realizado naquele local às 16h, para denunciar as políticas racistas do governo Bolsonaro. Os manifestantes também pedem ‘o fim do governo racista’ do presidente.
A manifestação é organizada pela Aliança Afro Brasileira, Coalizão Negra pelos Direitos do Brasil e pelo Comitê de Defesa da Democracia no Brasil em Nova York e tem o apoio do Kilomba Collective, AfroPress e The People’s Forum.
Palestra
A manifestação de hoje foi precedida por uma palestra online sobre Ações Afirmativas no Brasil, na quinta-feira, proferida pelo professor Sales Augusto dos Santos. A sessão foi organizada pelo Centro de Estudos Afro-Brasileiros da San Diego State University (Califórnia), com o apoio da Rede Estadunidense Pela Defesa da Democracia no Brasil, USNDB.
O professor Sales Augusto dos Santos é mestre e doutor em Sociologia pela Universidade de Brasília (UnB) com pós-doutorado no Departamento de Estudos Africanos da Brown University e o Departamento de African &
Estudos da Diáspora Africana (DAADS) na Universidade de Wisconsin Milwaukee (UWM).
Ele abordou especialmente o sistema de cotas raciais para educação, instituído há 10 anos e que atualmente encontra-se ameaçado no Brasil, pelo Congresso e pela política de “escola sem partido” implantada no governo Bolsonaro. Em vigor desde 2012, a Lei de Cotas voltou à pauta da Câmara dos Deputados através de um projeto que prevê a prorrogação do prazo da medida até 2042.
Cinquenta anos
A programação de hoje é acompanhada de informação em cartazes e panfletos explicando à população estadunidense que o dia 20 de novembro no Brasil deste ano comemora os 50 anos da marcha em homenagem a Zumbi dos Palmares e sua companheira Dandara, lideranças do Quilombo dos Palmares.
Eles explicam também que ‘quilombos’ eram comunidades organizadas por africanos e afro-brasileiros escravizados fugitivos das plantações de cana no Brasil. O Quilombo dos Palmares estava localizado no Nordeste do Brasil onde muitos lutaram por sua liberdade por quase 100 anos – Palmares surgiu no século 17.
O lendário guerreiro Zumbi foi assassinado após o quilombo sofrer vários ataques organizados por senhores de engenho com o apoio do governo local e do movimento de conhecido como bandeirantismo –– bandeirantes eram exploradores e aventureiros, imigrantes europeus ou descendentes, que adentravam a mata no Brasil para desbravamento e assim eram agraciados com terras e honras pelo governo.
Atualmente muitos territórios são reconhecidos como quilombos históricos no Brasil, diz o release distribuído para a imprensa pelo movimento. O release assinala também que o Brasil possui uma das maiores populações da diáspora africana. E que, no entanto, muito pouco é ensinado nas escolas sobre a África ou a escravidão.
Demorou muitas décadas de manifestações e marchas até que 20 de novembro foi instituído como feriado nacional em 2011 e a história da África e dos africanos no Brasil passar a ser ensinada nas escolas, como fruto de Ações Afirmativas no Brasil.
Essas conquistas, entretanto, encontram-se hoje ameaçadas por conta da política de “escola sem partido” que o governo Bolsonaro instituiu. Isso inclui perseguição e detenção de professores que abordam a existência do racismo no Brasil, heróis da história e autores negros, como aconteceu recentemente na Bahia.
Também encontram-se ameaçadas as cotas raciais para estudantes negros e pobres nas universidades, conquistas obtidas também através das Ações Afirmativas no Brasil implantadas a partir de 2008.
No Brasil, a comunidade negra e os movimentos sociais estarão nas ruas para exigir o impeachment de Bolsonaro por seus inúmeros crimes inclusive o de racismo. O evento de Nova York pretende ecoar seus esforços.
Ana Alakija é Jornalista e Mestre em História pela Salem State University, Massachusetts.