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A CPI, o STF e a Pólvora

Publicado em: 05/07/2021

De Boston – A repercussão internacional das manifestações do ForaBolsonaro vem demonstrar a grandiosidade do movimento de sábado que reuniu milhares de brasileiros nas ruas de mais de 40 cidades do país e de diversas outras nações. Mas não apenas. A cobertura dos protestos feita pela imprensa internacional, além de dar ênfase ao impeachment do presidente Jair Bolsonaro por inoperância no controle e prevenção da pandemia que já matou mais de meio milhão de brasileiros, também deu ressonância ao motivo da super manifestação antecipada (o protesto estava convocado para o dia 24 de julho) resumido no maior escândalo de corrupção do governo ––a tentativa de compra de vacinas anti-Covid superfaturadas do laboratório Biotech, na Índia.

Veja aqui links do “vacinagate” esmiuçado pela imprensa internacional.

Em um trecho da cobertura dos eventos, a CNN publicou que “O Brasil acha que é muito ‘Black Mirror’, mas é puro ‘O Bem Amado’, de Dias Gomes. E também é Machado de Assis, Euclides da Cunha, Nelson Rodrigues,” referindo aos detalhes que envolvem essa denúncia. “Somente nos últimos dias, os acontecimentos da arena política envolveram um servidor público honesto, um (provável) jagunço assassinado, uma (possível) ex-mulher delatora, um empresário suspeito [que tanto pode ser o PM Luiz Paulo Dominguetti como uma quarta pessoa que teria participado da conversa da propina] e um super pedido de impeachment assinado por juristas e políticos de variadas origens e gerações”, comentou a agência.

Mas a cobertura vai além e envolve também as Forças Armadas brasileiras nas denúncias de corrupção.  Ela providencia pistas  para se pensar que a batida em retirada de generais de cabeça no governo de Bolsonaro e a entrada dos considerados “fracos”, ou seja, aqueles que aquiesceram às tentações da carne, estão não somente “manchando” a imagem das FFAA, mas também podem ser os próprios explosivos que vão derrubar Bolsonaro.

O Le Monde faz uma reflexão ouvindo acadêmicos sobre a escalada do militarismo no governo Jair Bolsonaro. A ocupação militar nos cargos civis  não diminuiu com as demissões de chefes das Forças Armadas há mais de três meses. O jornal francês mostra que a convicção por alguns setores de que participando do governo as FFAA não se tornariam politizadas é bem diferente do que a realidade tem mostrado.

O New York Times chegou a dedicar uma página inteira sobre o escândalo das vacinas no governo Bolsonaro, registrando que os fatos são dignos de um “reality show”.  O novaiorquino também arriscou que as apurações obtidas através da Comissão Parlamentar de Inquérito do Senado com a consequente decisão do STF de abrir uma investigação contra o presidente Jair Bolsonaro por acusações de corrupção ligadas a um pedido de 20 milhões de doses da vacina indiana Covaxin são até então a maior ameaça que pode tirar o presidente Jair Bolsonaro do páreo em 2022.

Até a imprensa chinesa noticiou o escândalo na compra das vacinas indianas. Diga-se de passagem a imprensa comunista da República Popular da China–– o jornal Taipe, que é publicado na língua inglesa–– e a ‘capitalista’ –– o jornal South China Morning Post, também em inglês, publicado em Hong Kong. Ambos registraram que a decisão de sexta-feira da ministra do STF Rosa Weber de investigar o presidente Jair Bolsonaro por prevaricação apoiada em recentes testemunhos da CPI.

Vários jornais que circulam nos Estados Unidos reproduziram a matéria da inglesa Reuters e a norte-americana Associated Press sobre os protestos, como o jornal Star Advertiser, de Honolulu e a A Voz da América (AP).

Reuters e AP enfatizaram a antecipação do protesto inicialmente programado para 24 de julho, mas foram realizdos no último fim de semana após a apresentação de evidências de irregularidades relacionadas ao acordo da vacina perante a CPI que investiga a forma como o governo federal está lidando com a pandemia. A Reuters também registou a grandiosidade dos eventos que atraíram milhares de pessoas em pelo menos 13 capitais e ainda manifestações em 315 cidades brasileiras e em 15 países.

A ABC, uma das mais antigas redes norte-americanas de comunicação––rádio, jornal e televisão–– divulgou vídeos dos protestos com legenda realçando a força total que brasileiros usaram para se manifestar contra o presidente Jair Bolsonaro, em meio a denúncias de corrupção.

A Deutsche Welle em língua inglesa deu ênfase ao movimento, os motivos do protesto baseados nas apurações da CPI sobre o envolvimento do presidente Bolsonaro no escândalo da intenção de compra de vacinas superfaturadas da Índia e nas decisões do STF de investigar o presidente por prevaricação. A imprensa alemã ainda lembrou como o presidente Bolsonaro tem se posicionado em relação à epidemia. Ela reproduziu que Bolsonaro tem sido amplamente criticado por não aceitar as ofertas iniciais de compra de vacinas contra o coronavírus [Fiocruz, Butatan e Pfizer] e por minimizar a gravidade do vírus, apesar dele mesmo ter sido infectado. Dentre outras respostas negacionistas por parte do presidente, ela citou a sua oposição a medidas de bloqueio, distanciamento social, máscaras faciais e lançamento de dúvidas sobre a eficácia das vacinas contra o coronavírus.

O britânico The Guardian concentrou a cobertura no Rio de Janeiro e em São Paulo. O jornal reproduziu declarações de personalidades e populares entre a multidão, a exemplo da deputada Benedita da Silva, o ator Paulo Betti e a atriz Silvia Buarque. The Guardian também reproduziu que dezenas de milhares de manifestantes saíram às ruas do Rio de Janeiro na manhã de sábado, por conta da má gestão da pandemia que já vitimou mais de meio milhão de brasileiros e das alegações de que membros de seu governo haviam tentado lucrar ilegalmente com a compra das vacinas da Covid.

Por enquanto, a imprensa internacional parece estar poupando parlamentares, embora o Centrão e o nome de Ricardo Barros vinculados a essa lama pútrida já tenham aparecido em alguma matéria. A exclusão inclui os filhos do presidente, apesar da edição da Folha de São Paulo em inglês citar que os quatro filhos de Bolsonaro estão sob investigação.  Também o capítulo de repercussões dos escândalos do governo brasileiro em outros países não acaba aqui. Novas denúncias na CPI e seus desdobramentos esta semana estão por vir.

 

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