Foi anunciado nesta quinta-feira (3) o novo comando da Polícia Civil do Distrito Federal. O delegado Onofre de Moraes, até ontem chefe titular da 3ª Delegacia de Polícia, no Cruzeiro, substitui a ex-diretora Mailine Alvarenga, numa tentativa de estancar a crise na corporação, que, dentre outros motivos, se dá função de vazamentos de informações em investigações. O caso é grave porque mostra o uso do trabalho policial para o tráfico de informações, a chantagem, a calúnia e a difamação, a vingança política.
O governo Agnelo Queiroz, por exemplo, enfrenta nas últimas semanas uma série de acusações veiculadas pela imprensa, que o envolvem nas denúncias de desvios de verbas do Programa Segundo Tempo – responsáveis por derrubar o ministro dos Esportes Orlando Silva, na semana passada. Até agora nenhuma prova do envolvimento dos dois foi apresentada. Mas o escândalo persiste.
E que tem isso a ver com a polícia? Simples: as acusações foram feitas pelo soldado da Polícia Militar do Distrito Federal João Dias Ferreira e por seu funcionário Célio Soares Pereira, nas páginas de uma revista de vendagem nacional. João Dias Ferreira é investigado pelo desvio de R$ 3 milhões do Ministério do Esporte e chegou a ser preso na Operação Shaolin, desencadeada pela polícia em 2010. Isso quer dizer que a denúncia e mentira e não passa de simples vingança? Não. Mas é puro bangue-bangue político.E a Operação Caixa de Pandora? Trouxe à luz um esquema de corrupção que levou o ex-governador José Roberto Arruda para a prisão e envolveu diversos empresários e políticos influentes da base aliada do governo, em 2009.
Só que contou com a fundamental participação do ex-secretário de Relações Institucionais Durval Barbosa – delator do esquema e mais um policial ativo na política da cidade – envolvido em 20 processos de corrupção, desvio de dinheiro público, fraude em licitações,improbidade administrativa e outras acusações. Alguém que usou o que aprendeu como policial e sua influência política para fins nada louváveis.
Em outras palavras, um autêntico Faroeste do Cerrado. Nos dois casos, áudios, vídeos e outras provas de investigações policiais foram vazadas para a imprensa.O envolvimento de policiais e ex-policiais com o crime organizado não pode ser usado contra toda a categoria. Mas a falta de cuidado na exposição dos resultados do trabalho policial mostra o quão delicada é a questão e a importância de se controlar melhor as investigações.
É claro que importa descobrir e combater os esquemas, estancar a corrupção e levar para a cadeia os envolvidos. Mas o problema é que o banditismo que adoece as instituições políticas de Brasília depende diretamente do submundo da informação privilegiada, que se aproveita das realizações e do poder das corporações policiais: investigações, acessos privilegiados e a sobreposição de interesses pessoais aos institucionais e públicos. A imprensa, que divulga, pode até fazer parte desse jogo, mas não há ainda nada que prove isso.
De qualquer forma, está mais do que na hora de estancar esse processo.