Faroeste no Cerrado

Publicado em: 04/11/2011

Foi anunciado nesta quinta-feira (3) o novo comando da Polícia Civil do Distrito Federal. O delegado Onofre de Moraes, até ontem chefe titular da 3ª Delegacia de Polícia, no Cruzeiro, substitui a ex-diretora Mailine Alvarenga, numa tentativa de estancar a crise na corporação, que, dentre outros motivos, se dá função de vazamentos de informações em investigações. O caso é grave porque mostra o uso do trabalho policial para o tráfico de informações, a chantagem, a calúnia e a difamação, a vingança política.

O governo Agnelo Queiroz, por exemplo, enfrenta nas últimas semanas uma série de acusações veiculadas pela imprensa, que o envolvem nas denúncias de desvios de verbas do Programa Segundo Tempo – responsáveis por derrubar o ministro dos Esportes Orlando Silva, na semana passada. Até agora nenhuma prova do envolvimento dos dois foi apresentada. Mas o escândalo persiste.

E que tem isso a ver com a polícia? Simples: as acusações foram feitas pelo soldado da Polícia Militar do Distrito Federal João Dias Ferreira e por seu funcionário Célio Soares Pereira, nas páginas de uma revista de vendagem nacional. João Dias Ferreira é investigado pelo desvio de R$ 3 milhões do Ministério do Esporte e chegou a ser preso na Operação Shaolin, desencadeada pela polícia em 2010. Isso quer dizer que a denúncia e mentira e não passa de simples vingança? Não. Mas é puro bangue-bangue político.E a Operação Caixa de Pandora? Trouxe à luz um esquema de corrupção que levou o ex-governador José Roberto Arruda para a prisão e envolveu diversos empresários e políticos influentes da base aliada do governo, em 2009.

Só que contou com a fundamental participação do ex-secretário de Relações Institucionais Durval Barbosa – delator do esquema e mais um policial ativo na política da cidade – envolvido em 20 processos de corrupção, desvio de dinheiro público, fraude em licitações,improbidade administrativa e outras acusações. Alguém que usou o que aprendeu como policial e sua influência política para fins nada louváveis.

Em outras palavras, um autêntico Faroeste do Cerrado. Nos dois casos, áudios, vídeos e outras provas de investigações policiais foram vazadas para a imprensa.O envolvimento de policiais e ex-policiais com o crime organizado não pode ser usado contra toda a categoria. Mas a falta de cuidado na exposição dos resultados do trabalho policial mostra o quão delicada é a questão e a importância de se controlar melhor as investigações.

É claro que importa descobrir e combater os esquemas, estancar a corrupção e levar para a cadeia os envolvidos. Mas o problema é que o banditismo que adoece as instituições políticas de Brasília depende diretamente do submundo da informação privilegiada, que se aproveita das realizações e do poder das corporações policiais: investigações, acessos privilegiados e a sobreposição de interesses pessoais aos institucionais e públicos. A imprensa, que divulga, pode até fazer parte desse jogo, mas não há ainda nada que prove isso.

De qualquer forma, está mais do que na hora de estancar esse processo.

Artigos relacionados