De Boston – Americanos, Europeus e Australianos estão aprendendo bem a língua portuguesa falada no Brasil. Graças ao presidente Jair Bolsonaro. Após advogados que representam o partido ultraliberal do presidente fazerem uma petição ao Supremo Tribunal Eleitoral na semana passada solicitando a proibição de “manifestações políticas” em um dos maiores festivais internacionais de música, o Lollapalooza, cuja versão brasileira foi realizada no fim de semana em São Paulo, o tiro saiu pela culatra.
Artistas nacionais e internacionais e celebridades no Brasil expressaram indignação com a decisão favorável do juiz e agora o grito de guerra “Ei Bolsonaro, vai tomar no cu” não está só na boca da juventude brasileira indignada com as politicas machista, sexista, racista e excludente do seu governo que empreendeu um ataque histórico ao meio ambiente e administrou de forma catastrófica uma pandemia de Covid-19 que matou mais de 650.000 cidadãos, mas também na imprensa internacional. Ipsis literis, sem os tradicionais três pontinhos que a imprensa costuma usar para “palavrões” depois do c.
Foi assim que a edição de segunda-feira do The Guardian mostrou que ‘Samba é política’ e que a luta pelo futuro do Brasil invadiu as suas pistas. O jornal tablóide britânico que tem grande penetração na Europa, e edições online nos Estados Unidos (Guardian US) e na Austrália (Guardian Australia) publicou a frase de ordem dos Brazilian tennagers, explicando “polidamente” que a expressão significa “Bolsonaro get stuffed” (Bolsonaro “fode” a si mesmo), dando um sentido duplo à sentença.
O jornal deu repercussão ao grito de “Fora Bolsonaro!” do cantor brasileiro Pablo Vittar e sua toalha vermelha com uma imagem do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que as pesquisas sugerem que vencerá Bolsonaro em outubro deste ano, e de outras estrelas pop e rappers, como a cantora britânica Marina: “Foda-se Bolsonaro. Foda-se ele. Estamos fartos dessa energia”.
O protesto de ambos ocorreu no meio da multidão na primeira noite do festival, na sexta-feira, no início dos três dias de encontro em São Paulo, e motivaram a petição do partido do presidente. The Guardian também publicou a indignação da cantora e compositora Zélia Duncan: “Ninguém cala a voz do povo” e a ironia da pop star Anitta sobre a decisão da justiça eleitoral de aplicar a multa de 50.000 reais por quaisquer violações. “50 mil? Caramba… um saco a menos”, ela deu de ombros, antes de twittar sarcasticamente: “SAIA BOLSONAROOOOO. Essa lei também se aplica fora do Brasil? Porque eu só toco em festivais internacionais.”
The Guardian repercutiu ainda a opinião de famoso apresentador de televisão do Brasil, Luciano Huck (que chegou a ser cogitado como a terceira opção de candidatura presidencial para tirar Bolsonaro do poder, mas não vingou) que disse que a decisão do TSE remonta à ditadura militar de duas décadas no Brasil, quando o decreto linha-dura do Ato Institucional nº 5 proibiu a liberdade de expressão e reunião e determinou o fechamento do Congresso.
O mais interessante nessa história é que o presidente da República é o rei da desobediência à Justiça e de agressão às instituições brasileiras e foi buscar guarida logo dentro daquela que recentemente ele e os filhos dele pregaram intervenção. Mas parece que os jovens não se acabrunharam, já que especialmente o último dia do festival foi marcado por protestos no palco e na platéia. O “Fora Bolsonaro” e “Vai tomar naquele lugar” ecoou na audiência. Afinal a juventude tudo pode. O resto ela aprende com a maturidade.
Ana Alakija é jornalista com Mestrado em História pela Salem State University, Massachusetts.