A construção de um albergue na QNR 01, em Ceilândia Norte vem gerando discussões já há algum tempo, mas nesta terça (07) um grupo de moradores da quadra esteve nas galerias Câmara Legislativa do Distrito Federal e a sessão ordinária foi bastante tumultuada pelos protestos. A necessidade de um albergue, com a desativação do único localizado no Areal e a intenção de construir outros seis abrigos em diferentes regiões do DF divide opiniões.
Os moradores da QNR não querem, porque temem um aumento da violência e chegam ao limiar de uma intolerância social. Para construir o albergue social na localidade, a Secretaria de Desenvolvimento Social sustenta que quase 30% da população em situação de rua está em Taguatinga e Ceilândia.?
Um dos argumentos dos moradores é que nos albergues, junto com pessoas que vêm fazer tratamento de saúde ou estão em busca de emprego, há pessoas envolvidas com o consumo e venda de drogas e isso contribui para o aumento da violência. Eles alegam que ao lado do terreno onde se pretende construir o abrigo há uma escola de educação infantil. O escorregão no argumento chega quando usam o termo “cidadãos de bem” para se referir aos moradores da quadra. Os cidadãos albergados seriam cidadãos de que?
Distritais – Na Sessão desta terça (06) a deputada Eliana Pedrosa (PSD) disse que apresentou estudos para resolver o problema para representantes do governo e para o Ministério Público, mas até agora não obteve resposta e cobrou maior diálogo entre o GDF e a comunidade para solucionar o impasse. Já Luzia de Paula (PEN) disse que a região precisa de creche, escolas e posto de saúde e não de um albergue. O deputado Rôney Nemer (PMDB) considerou que o albergue é necessário para o atendimento de várias situações, mas afirma que ele não deve ser construído próximo de residências.
Liliane Roriz (PSD) apresentou o abaixo-assinado dos moradores da QNR contra a construção do albergue e reclamou que o povo não foi ouvido pelo governo. Também se manifestaram sobre o tema os deputados Wellington Luiz (PPL), Olair Francisco (PTdoB), Celina Leão (PSD) e Professor Israel (PEN).
A líder do governo, deputada Arlete Sampaio (PT), apresentou as explicações da Secretaria de Desenvolvimento Social do GDF, argumentando que o órgão realizou reuniões com representantes da comunidade. Segundo a deputada, o projeto vai além da construção do albergue e inclui um restaurante comunitário e um centro de assistência social.
Comissões – Há algum tempo, as Comissões de Assuntos Sociais, presidida por Liliane Roriz (PSD) e a de Direitos Humanos, cuja presidente é Celina Leão (PSD) criticam a iniciativa do GDF, de construir albergues para abrigar a população de rua. Liliane argumentou em audiência pública sobre a instalação do albergue social da QNR 01 que o dinheiro destinado a esse projeto deveria ser utilizado em políticas públicas para evitar o aumento da mendicância. Para ela, o governo deveria retomar a ideia da “rede de proteção social”.
Celina Leão ressaltou que a falta de diálogo do GDF com a população para a construção do albergue na localidade tinha gerado a situação e que ela temia estarmos vivendo “uma situação de intolerância social”, frisando a necessidade de um albergue na região, mas destacando que deve ser buscado um consenso. “Tivemos a preocupação de fazer audiência pública em que a população foi ouvida, mas o GDF está construindo o Albergue sem levar isso em conta”, disse.
Embargo – A construção do Albergue da QNR 01 já foi motivo de um pedido de explicações de Liliane Roriz. Como a Secretaria de Desenvolvimento Social não respondeu, Liliane protocolou em outubro uma representação no Ministério Público do DF pedindo o embargo da obra, alegando que a construção do albergue tem mobilizado a comunidade local a protestar contra a decisão considerada “unilateral” do governo. O governo destinou à Companhia de Urbanização do DF (Novacap) quase R$ 5 milhões para a construção desse abrigo. A empresa Engemaxi é a responsável pela obra.
Para respaldar o pedido, foi anexado um abaixo-assinado com mais de mil assinaturas de moradores contrários à obra, que seria irregular. “O terreno seria para uma estação do Veículo Leve sobre Pneus e foi redestinado. A comunidade tem feito constantes manifestações para impedir a construção do albergue”, diz.