Na última semana, as novas gravações telefônicas feitas com autorização da Justiça divulgadas na imprensa alvejaram o Governo do Distrito Federal, como um dos braços do esquema do contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira. As primeiras foram conversas cifradas onde os interlocutores, Idalberto Matias, o Dadá, citavam "Zero-Um" ou "Magrão", que seria o governador Agnelo Queiroz, que no entanto não é citado nominalmente, diferente da "bola da vez", o secretário de Saúde Rafael Barbosa. Além dele, o ex chefe de gabinete Cláudio Monteiro e Paulo Tadeu, secretário de Governo do GDF estariam envolvidos. Confira abaixo a reportagem da revista Época.
Gravações mostram turma de Cachoeira falando em propina para secretários do governador Agnelo Queiroz
Escutas obtidas por ÉPOCA com exclusividade revelam que, há exatamente um ano, a construtora Delta negociou propina para o secretário de Saúde do Distrito Federal, Rafael Barbosa
Por ANDREI MEIRELES E MURILO RAMOS –
A troca dos supostos destinatários da propina é revelada numa conversa entre Dadá e Marcelão, no dia 13 de abril de 2011. “O Cláudio (Abreu) me disse que não vai mais pagar para ninguém. Nem para Ademar ( funcionário da SLU), nem para Cláudio Monteiro. E disse que já está alinhado com Rafael. Vai dar pro Rafael e ponto final”, disse Marcelão. Segundo a PF, Rafael é o secretário de Saúde do DF.
Segundo os investigadores, o suposto acerto com Rafael Barbosa ocorreu uma semana antes dessa conversa em um jantar num restaurante japonês com Cláudio Abreu e o secretário de Governo, Paulo Tadeu, outro homem de confiança do governador.
Nas conversas a que ÉPOCA teve acesso, Cláudio Abreu e operadores do bicheiro Carlinhos Cachoeira dizem que Cláudio Monteiro e diretores do SLU estariam acertados com uma empresa concorrente da Delta. Por isso, apesar da propina, os pagamentos para a Delta não estavam em dia e nada de nomeações.
Em outra conversa gravada, o sargento Dadá diz a Cláudio Abreu que Cláudio Monteiro, contrariado com a decisão da Delta, avisou que haveria represália contra a Delta. Cláudio Abreu pede a Dadá que providencie gravações de diretores da SLU e do próprio Cláudio Monteiro, para comprovar as ameaças. “O Cláudio Monteiro ta ameaçando aí? Aí é pra eu vou falar pro Paulo Tadeu e pro Rafael: Ó, o Cláudio Monteiro ta fazendo isso contra a gente”. Dadá diz a Abreu que Marcelão não vai querer gravar Monteiro.
ÉPOCA procurou o secretário Rafael Barbosa. Por intermédio de sua assessoria, Barbosa afirmou que “se trata de uma escandalosa mentira”. Segundo Barbosa, na conversa com Cláudio Abreu, que teve Paulo Tadeu como testemunha, ele ( Abreu) queria resolver problemas da Delta no SLU. “Não teve alinhamento. Até porque não é minha área, minha área é Saúde .” A revista ouviu o secretário Paulo Tadeu. “Foi uma conversa republicana. Não houve nenhum acerto”. Tadeu disse que, depois do jantar, se encontrou pelo menos mais uma vez com Cláudio Abreu, mas em nenhuma das conversas o diretor da Delta se queixou de Cláudio Monteiro. No início da semana, Monteiro se afastou do cargo de chefe de gabinete do governador. Ele também nega ter recebido propina.
Ouça os áudios:
Conversa gravada em 13 de abril (clique para ouvir o áudio) – Marcelo Lopes, o Marcelão ( ex-assessor da Casa Militar), conta ao sargento aposentado Idalberto Matias, o Dadá, que Cláudio Abreu ( ex-diretor da Delta) disse que não mais pagaria propina a Claúdio Monteiro ( ex-chefe de gabinete do governador) e passaria a pagar apenas a Rafael Barbosa, secretário de Saúde e homem de confiança de Agnelo Queiroz.
Conversa gravada em 14 de abril (clique para ouvir o áudio) – Cláudio Abreu (ex-diretor da Delta) pede a sargento Dadá que filme “roubalheira” no SLU e arrume provas de que o ex-chefe de gabinete do governador Agnelo Queiroz, Cláudio Monteiro, esteja ameaçando prejudicar a Delta. Abreu quer encaminhar as provas aos secretários de Governo, Paulo Tadeu, e de Saúde, Rafael Barbosa.