“Triste Bahia! Ó quão dessemelhante estás e estou do nosso antigo estado!
Pobre te vejo a ti, tu a mi empenhado, rica te vi eu já, tu a mi abundante.”
(Gregório de Matos)
O poeta Gregório de Matos já denunciava as dessemelhanças pelos idos de 1600. Tanto tempo depois, o início de um de seus mais famosos sonetos ainda faz sentido e a situação se agrava nos últimos dias, desde que parte da Polícia Militar deflagrou greve na última terça (31). Desde que paralisação começou, 53 assassinatos já foram registrados além de episódios de violência de todos os tipos, desde a higienização social do ataque à população de rua, passando por saques a estabelecimentos comerciais indo ao descalabro da justiça com as próprias mãos.
A Força Nacional de Segurança e o Exército estão nas ruas. Neste sábado (04) chegaram à capital do estado uma comitiva com o ministro da Justiça, José Eduardo Cardoso, o chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, general José Carlos De Nardi, e a secretária Nacional da Segurança Pública, Regina Miki. Menos o prefeito da cidade de Salvador, que está no Rio de Janeiro e isso não é uma piada.
Números– A onda de violência já fez pelo menos 53 mortes, de acordo com informações do governo da Bahia. Os números incluem vítimas de execução, higienização social e os corriqueiros latrocínios. Além de 2,8 mil militares do Exército, Marinha e Aeronáutica, devem chegar à Bahia cerca de 450 policiais da Força Nacional de Segurança Publica, na tentativa de garantir a segurança da população e coibir eventuais ações criminosas.
Populares se dividem entre saqueadores e justiceiros. Já foram registrados vários saques em diversos pontos da cidade. Com estabelecimentos arrombados, muitos têm se aproveitado do momento e saqueado os produtos, que vão desde eletrodomésticos a mantimentos. Até mesmo as doações para Iemanjá foram roubadas, depois que ladrões arrombaram a sede da Colônia de Pescadores no bairro do Rio Vermelho.
De igual forma, a população se arvora a atuar como “justiceira”. Já foram registrados dois ataques em diferentes pontos da cidade, Imbuí e Centro, onde moradores de rua foram executados. Na noite de sexta, dois homens foram mortos no bairro de Canabrava, ao praticar furtos no bairro e foram reconhecidos e atacados por moradores da região.
Irregularidade – A paralisação já foi considerada irregular, desde quinta (02), quando uma liminar foi expedida pelo juiz Ruy Eduardo Brito da 6ª Vara da Fazenda Pública, que determinou a imediata retomada das atividades pelos policiais vinculados à Associação de Policiais e Bombeiros do Estado da Bahia (Aspra) e estipulou multa de R$ 80 mil, para os policiais parados que não voltarem aos postos de trabalho. Outros sindicatos não aderiram ao movimento.
Na sexta (03), o governador Jaques Wagner (PT) fez um pronunciamento em rede estadual de rádio e TV e informou que a Justiça determinou a prisão de 12 pessoas ligadas à greve dos policias militares do Estado, mas não citou nomes. O anúncio aumentou a tensão na Assembleia Legislativa, onde os grevistas estão acampados desde a madrugada de quarta (1º).
Enquanto as negociações entre os grevistas e as autoridades não começam, a violência vai se espalhando e tornando a população refém da PM, que ironicamente tem a função de garantir a segurança da população.
Foto, Agecom Bahia.