Na última sexta (04) um grave acidente envolvendo dois ônibus na Estrada Parque Taguatinga (EPTG) deixou mais de 40 feridos e trouxe à tona um problema que a população do Distrito Federal já conhece de cor. Dos 3.953 veículos que compõem a frota do transporte público, quase 2 mil circulam há mais tempo que os sete anos permitido pela lei que regula o serviço no DF. Outros 120 coletivos em operação desde 2005 terão de deixar as ruas até o final deste ano.
O próprio secretário de Transporte Urbano do DF (DFTrans), José Walter Vazquez Filho, admitiu que a atual frota não têm condições adequadas de circulação e que há grande possibilidade desses veículos causarem acidentes, respondeu. “Uma frota dessa coloca em risco a população”, afirmou Vazquez completando que uma licitação para a troca de 75% da frota já está sendo preparada e que o edital deve ser aberto no dia 10 de março com prazo para o recebimento de propostas até o dia 10 de abril. A expectativa é de que os novos ônibus estejam nas ruas até o final de 2012.
Clonagem – Não bastasse o estado de degradação que se encontram os veículos da frota, operar com permissão vencidas, desrespeitar itinerários e horários os donos das empresas de ônibus do DF não parecem cumprir nenhuma das regras impostas pelo DFTrans. Os empresários estão sendo acusados pelo DFTrans de cometer uma série de fraudes consideradas crimes no Código Penal Brasileiro.
Fiscais do órgão descobriram em duas operações realizadas nas duas últimas semanas que alguns estão rodando com validadores de bilhetes eletrônicos clonados de uma linha que nunca existiu. Cerca de 28 veículos do Serviço de Vizinhança, conhecidos como Zebrinha, foram lacrados pelos fiscais, por conta de diversos tipos de irregularidades.
O que mais causou espanto ao DFTrans foi o fato de três de nove outros veículos apreendidos terem sido apreendidos e lacrados seis meses antes por não terem cadastro, mas mesmo assim retornaram às ruas. Outros três, que foram recolhidos por infrações diferentes, e ainda tinham os mesmos problemas que os impedia de transportar passageiros estavam circulando. Não fosse o bastante, três micro-ônibus faziam uma linha que não existe.
Todos os nove zebrinhas pertencem ao grupo Viplan, que é o maior do sistema. Todos tinham os validadores clonados com os dados de veículos cadastrados, para que os empresários pudessem receber o dinheiro do governo referente às passagens pagas por meio de tíquete eletrônico, de acordo com explicações de Fernando Pires, chefe do Núcleo de Fiscalização do DFTrans, que relatou que os veículos apreendidos tiveram os lacres rompidos e foram pintados com números diferentes na lataria para burlar a fiscalização.
As denúncias devem ser encaminhadas à Polícia Civil do DF, para que uma perícia seja feita nos veículos que foram apreendidos na operação e possa abrir um inquérito para apurar as irregularidades. Auditores do DFTrans elaboraram um relatório para auxiliar os trabalhos de investigação.
CPI dos Transportes – Em março do ano passado, os deputados Olair Francisco (PTdoB) e Evandro Garla (PRB) defenderam no plenário da Câmara Legislativa a instalação imediata de uma Comissão Parlamentar de Inquérito dos Transportes. O requerimento de criação chegou a ser aprovado em Plenário e os distritais justificaram a necessidade da CLDF investigar os problemas do transporte coletivo, que foram agravados nos últimos anos. Garla chegou a dizer que "os problemas se acumulam em todo o DF. Mas particularmente a situação em Planaltina é muito grave e precisa ser apurada".
Quase um ano depois, nada de CPI e é uma cena bastante comum ver os ônibus da frota de transporte urbano do DF parados nas ruas, por conta de defeitos, sem entrar nos detalhes do estado de conservação dos veículos. A população do DF vai ter que esperar mais quanto tempo por uma providência que resolva o problema de verdade?