Tanto a presidente Dilma Roussef (PT), quanto o ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra Coelho (PSB) devem antecipar a volta ao trabalho, para discutir o repasse de R$ 70 milhões para a construção das usinas na Bacia do Una, em Pernambuco. O ministro foi pressionado pelo Palácio do Planalto e pelo PMDB a dar explicações sobre o fato de sua pasta ter destinado a maior parte dos recursos de prevenção do ministério ao estado de origem de Bezerra, governado por Eduardo Campos, que é do PSB, mesmo partido que o ministro. O valor representaria cerca de 90% da verba do Ministério.
Em entrevista coletiva nesta quarta (04), Fernando Bezerra afirmou que a presidente Dilma Rousseff sabia do repasse. “O repasse dos R$ 70 milhões foi discutido com a Casa Civil, o Ministério do Planejamento e com o conhecimento e participação da presidente da República”, afirmou durante a coletiva.
Dilma retorna nesta quinta (05) a Brasília, após 10 dias de férias com a família na Base Naval de Aratu, na Bahia, antecipando a volta em cinco dias o retorno ao trabalho. As fortes chuvas em estados como Minas Gerais e Rio de Janeiro provocaram estragos e mortes, o que deve obrigar a presidente a voltar imediatamente ao trabalho.
Já Bezerra deve cancelar suas férias ao menos até sexta (06), para explicar as porque reservou quase a totalidade do orçamento do ministério para atender Pernambuco. Na Câmara, o líder do PPS, Rubens Bueno (PR) protocolou requerimento cobrando explicações na última terça (03). Bezerra nega favorecimento no repasse de verbas.
Férias interrompidas – Segundo informações da assessoria de imprensa da Presidência, mesmo de férias, Dilma acompanhou a situação dos estados atingidos pelas enchentes. Após uma conversa por telefone com a ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann (PT), a presidente decidiu interromper o recesso e retorna ao trabalho para tratar das ações do governo direcionadas aos estados afetados pelas enchentes.
A ministra da Casa Civil, que também teve que interromper seu recesso e retornou do Paraná, negou que intervirá na liberação de verbas para prevenção a desastres naturais da pasta de Integração Nacional. A pedido da presidenta Dilma Rousseff, a ministra convocou uma reunião com técnicos da pasta e da Defesa Civil prevista para hoje (05).
Já o ministro, que também voltou para Brasília antes do recesso, afirmou na coletiva que concedeu à imprensa, que o imbróglio todo não passa de “injustiça e política miúda” as acusações de que ele estaria favorecendo seu estado e o correligionário Eduardo Campos no repasse de verbas. Ele argumentoou que, dos R$ 98 milhões direcionados para Pernambuco em ações de prevenção, R$ 70 milhões foram utilizados na construção de três das cinco barragens na Bacia do Una, Sirinhaém e Mundaú e que no total, o Ministério havia reservado R$ 218,76 milhões para ações de prevenção em 12 estados.
Ele negou ainda que tenha direcionado R$ 8,9 milhões para Petrolina, cidade em que nasceu e onde o filho dele, Fernando Bezerra Coelho Filho, deve ser candidato a prefeito nas próximas eleições municipais. Também disse que outros estados também foram beneficiados com recursos liberados pela pasta, como o Rio de Janeiro, que sempre sofre com as chuvas de verão, que foi beneficiadao com a assinatura de um convênio de R$ 300 milhões para obras de contenção e reparo na região serrana.
A crise no ministério da Integração Nacional atingiu ainda o ministro das Cidades, Mário Negromonte, que já tinha outros problemas ameaçando sua permanência na pasta. Bezerra disse que o orçamento de seu ministério seria ínfimo se comparado ao do ministro Negromonte , que conta, segundo ele, com um orçamento de R$ 11 bilhões para as obras de contenção e prevenção a enchentes.
Ministros anteriores – Vale lembrar que não é a primeira vez que um ministro da Integração Nacional se envolve em acusações de beneficiar o estado natal. O peemedebista baiano Geddel Vieira Lima também foi acusado de destinar mais de 80% das verbas para a Bahia, quando era titular da pasta, enquanto outros estados que foram castigados pela chuva teriam recebido menos de 16% das verbas, isso somando o orçamento de cada um. No caso de Bezerra, dos gastos autorizados e pagos em 2011, Pernambuco recebeu 14 vezes mais (R$ 25,5 milhões) do que o segundo colocado, o Paraná (R$ 1,8 milhão). No ano passado foram destinados R$ 28,4 milhões para a prevenção de desastres naturais.
Se for fazer a comparação, Geddel foi mais modesto.
Foto, Agência Brasil.