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A internet também vai virar monopólio?

Publicado em: 20/03/2011

Por Pedro Doria, no Link

Não há quem entenda mais do assunto do que Wu. O melhor livro sobre tecnologia publicado no ano passado é seu The Master Switch, “o interruptor mestre” numa tradução literal. Wu tem uma tese, a de que a internet corre o perigo real e iminente de terminar controlada por um grande esquema monopolista. O que era uma tecnologia libertária pode se tornar fechada.

O argumento que usa é imbatível. Aconteceu assim com todas as principais tecnologias de comunicação no último século e meio. É o caso da telefonia, da indústria do cinema, rádio, televisão — até do telégrafo.

Poucos exemplos são mais claros do que o do surgimento da telefonia. Quando Alexander Graham-Bell inventou o telefone, na segunda metade do século 19, ele era pouco mais do que uma curiosidade. Nada que a poderosa Western Union, que controlava a comunicação telegráfica nos EUA, pudesse temer. E, no entanto, enquanto a velha tecnologia ruía em desuso, telefones espalharam-se por todo o país.

A AT&T, empresa fundada por Bell, teve um grande executivo: Theodore Vail. Empresas de telefonia com redes independentes surgiram pelos EUA, Vail comprou umas, sufocou outras. Convenceu governo e público de que suas intenções eram as melhores. De que prestava um serviço público e que esta obrigação era posta pela empresa acima do lucro. Ganhou o jogo.

Mas, bem no início, a telefonia era não apenas uma curiosidade como também uma tecnologia com ares de liberdade. Um cheiro de anarquia perante o monopólio odiado do telégrafo.

É um ciclo que se repente de novo e de novo. Uma tecnologia libertária surge promissora, desbanca uma indústria consolidada e conservadora, assume seu lugar. Transforma-se ela própria numa indústria consolidada que tenta sufocar quaisquer inovações.

A mesma AT&T tentou estancar o surgimento de fitas magnéticas para gravação de sons pois temia que pudesse concorrer em seu mercado.

Vail teve um quê de Steve Jobs em seu tempo, assim como seu discurso lembrava o de “não faça o mal” do Google. Não foi o único. O rádio, por exemplo, teve um início amador. Estava nas mãos de gente fascinada com suas possibilidades na comunicação. Ninguém ganhava dinheiro. Quem montava uma pequena rádio em casa transmitia música e informes com o desejo único de ajudar e divertir. Blogueiros de seu tempo.

Evidentemente, tudo mudou com o tempo. Grandes cadeias dominaram o rádio e fizeram fortunas com a invenção da propaganda radiofônica.

Todas as tecnologias do tipo surgiram com um discurso de liberdade e terminaram monopólios. Por que com a internet seria diferente?

Wu não considera que seja inevitável. Acha, apenas, que a cultura americana favorece este cenário. Nos EUA, a opinião pública considera que deve conter o quanto pode os poderes do governo. Mas o comportamento perante o poder privado, das grandes corporações, é diferente. Com esse, há hesitação na hora de intervir.

Descrito assim, Wu parece um professor saído das fileiras do Partido Comunista. Não é. Sua preocupação é a de garantir que a infraestrutura da internet não sofra o mesmo fim que suas antecessoras. Trata-se de uma tecnologia libertária que veio desbancar os monopólios anteriores. Este é o processo pelo qual o mercado resolve o problema.

Mas e se, desta vez, a tecnologia permanecesse livre? Um ambiente rico capaz de gerar uma cultura de inovação permanente? No qual ninguém tem o domínio total?

É justamente esse seu trabalho no governo dos EUA. Um trabalho que, de trivial, não tem nada. Afinal, o fácil é construir uma burocracia reguladora que termine por impedir a inovação que desejava garantir de início. É um desafio e tanto.

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