Pelo menos oito manifestantes foram presos na tarde deste sábado (15), em confronto com a polícia nos arredores do Estádio Nacional Mané Garrincha, em Brasília, numa manifestação realizada pelo movimento “Copa Pra Quem?”, antes do jogo de abertura da Copa das Confederações entre Brasil e Japão. Segundo o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), quatro policiais e 23 pessoas ficaram feridas sem gravidade e receberam atendimento médico.
Já nesta sexta (14) logo após a manifestação que abriu a jornada de luta “Copa Pra Quem?”, promovida pelo Comitê Popular da Copa em todo o país, o resultado no Distrito Federal foi de pessoas sendo presas em suas casas, pelo "crime" de transportar pneus e de se manifestar contra as violações de Direitos Humanos durante a preparação para os grandes eventos esportivos. Pelo menos cinco pessoas foram presas.
No último dia do mês de abril, a Câmara Legislativa do Distrito Federal aprovou o “Projeto da Copa”, PL nº 1.415/2013, do Executivo, que faz adequações na legislação local para atender aos acordos firmados com a FIFA, para os eventos esportivos. Este Portal chegou a comentar por diversas vezes que durante as competições, a Fifa estaria no comando das cidades-sede.
Na época da votação da lei, as capas de chuva da Polícia Militar encobriram a tempestade que cai desde esta sexta (14), quando o GDF informou tolerância zero com manifestações, conforme o capítulo V, artigos de 15 a 17 da referida lei já dava uma noção. “Os policiais vão prender os manifestantes que entrarem no perímetro reservado do estádio ou que fizerem baderna”, disse o secretário de Segurança Pública do DF, Sandro Avelar, trocando em miúdos o que diz a lei sobre o fechamento de ruas e garantia de segurança no entorno do Mané Garrincha.
Protestos – Houve conflito entre policiais e manifestantes neste sábado (15) em Brasília. Os protestos tiveram início no começo da manhã, na Rodoviária do Plano Piloto e uma marcha seguiu pelo Eixo Monumental, mas os participantes foram contidos pelos policiais depois de um início de confronto. A polícia usou spray de pimenta, disparou tiros de bala de borracha e usou bombas de gás contra os manifestantes. Mais tarde, os manifestantes foram cercados por homens da Cavalaria da Polícia Militar e por policiais a pé e houve mais confronto, com mais repressão e tumulto.
Um manifestante foi atropelado por um carro da polícia, mas não sofreu ferimentos graves. Vários torcedores passaram mal por causa do gás lacrimogênio e chegaram a vomitar no gramado próximo ao estacionamento do estádio. Torcedores com mochilas eram abordados e revistados pelos policiais e um grupo de manifestantes, que havia sido isolado por policiais conseguiu romper o cerco e correr em direção às entradas do estádio. Os policiais atiraram balas de borracha e bombas de gás. Muitos torcedores que não participavam da manifestação corriam com ingressos na mão para entrar na arena.
Segundo relatos de integrantes do Movimento de Trabalhadores Sem Teto (MTST) via facebook, que fizeram parte da organização do protesto de ontem (14), o motorista do caminhão que transportou os pneus foi abordado em casa por volta das 17h “de maneira violenta, com policiais apontando armas para sua cabeça, seus netos ficaram aterrorizados. Ele já foi liberado, mas os outros ainda estão sendo interrogados. Não foi dada nenhuma informação à sua família que estava do lado de fora o aguardando”. O movimento chegou a classificar a Polícia Militar como uma “milícia a serviço da FIFA [Federação Internacional de Futebol].
Detidos – Os acusados de terem participado da manifestação de ontem (14) foram levados para a 5ª Delegacia de Polícia. A polícia informou que o motorista do caminhão usado para transportar os pneus teria recebido R$ 250 para fazer o transporte do material até as imediações do Estádio Nacional de Brasília Mané Garrincha. Ele entregou nomes de pessoas envolvidas no pagamento, que formariam uma cadeia de distribuição desse dinheiro e foi liberado, após convencer a polícia de que acreditava estar levando os pneus para descarte.
Duas integrantes do MTST foram presas. Apoliane Costa dos Santos e Eduarda Maria da Conceição são acusadas de dano ao patrimônio público, e se não pagarem fiança, serão encaminhadas à Colméia. Também deve prestar esclarecimento Gabriel Santos Elias, do movimento "Copa para quem?". A polícia investiga se ele teria ligação com o “incêndio”. A polícia estaria à procura de mais envolvidos em outros endereços, como Ceilândia e cidades do entorno, como Santo Antônio do Descoberto e Formosa.
O movimento é acusado de pagar R$ 30 para cada participante do protesto e a polícia diz que quer chegar até a pessoa que encabeça os pagamentos. Os envolvidos podem ser enquadrados por crime de incêndio, art. 250 do código penal, e pegar de três a seis anos de detenção sem direito a fiança.
Política – O diretor da Polícia Civil do DF, Jorge Xavier, reverberou a opinião do secretário de governo, Gustavo Ponce de Leon e disse que não descarta a possibilidade de que o protesto tenha sido uma movimentação política. “Se fosse um movimento altruísta, com o objetivo de desenvolvimento do país, para quê criar essa cortina de fumaça?”.
Já Avelar disse que era “uma manifestação disfarçada de cunho social, mas na verdade é baderna. Prometemos medidas duras se houver protestos amanhã. O intuito não é coibir a democracia, mas a desordem”.
Marcha do Vinagre – Há pelo menos quatro manifestações sendo convocadas nas redes sociais para este sábado (15) em Brasília e em outras cidades. Além do “Copa Pra Quem?”, tem a Marcha do Vinagre, em alusão ao crime de “portar vinagre” inaugurado em São Paulo durante protestos contra o aumento da passagem de ônibus. Os movimentos querem aproveitar a grande concentração da imprensa nacional e internacional para dar mais visibilidade às suas reivindicações.
A Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal informou que um grande esquema de segurança foi montado para conter esse tipo de manifestação e que os turistas e torcedores estarão seguros para aproveitar a Copa das Confederações.
O “Copa pra quem?”, alvo da repressão destes dois últimos dias, faz uma crítica ao recursos investidos para a realização de megaeventos no Brasil. É organizado pela Frente de Resistência Urbana e Articulação Nacional dos Comitês Populares da Copa (Ancop), o evento pretende realizar atos populares unificados em 12 capitais do país. O movimento denuncia as violações de Direitos Humanos na preparação dos eventos. Há dados que dão conta de que pelo menos 250 mil pessoas em todo o Brasil foram removidas ou sofreram ameaça de remoção por causa dos eventos.
Com informações do Comitê Popular da Copa, G1 e R7.