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O discurso ‘comunista’ do presidente Biden que a extrema direita não aceita na boca de Lula

Publicado em: 14/02/2023

Ana Alakija
Ana Alakija

Boston – o presidente Luís Inácio Lula da Silva (PT), antes de encontrar, na semana passada, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden (Democratas), deu entrevista ao canal de TV norte-americano CNN. Entrevistado por uma das jornalistas de maior expressão da imprensa estadunidense, Christiane Amanpour, o presidente Lula comentou, em um dos pontos auges da entrevista, que assistiu, na noite em que chegou aos Estados Unidos, ao mais recente discurso de Biden ao Congresso.

 

Lula confessou que faria o mesmo discurso no Brasil, para sinalizar que está de acordo com as políticas desenvolvimentistas e sociais que o presidente Biden tem tocado nos Estados Unidos. Mas, se o fizesse, seria chamado por seus opositores de ‘comunista’, arrebatando risos da jornalista.

 

Essa é uma sinalização de que radicais brasileiros fazem oposição a ele por preconceito de origem (humilde) e classe social — um trabalhador ex-metalúrgico, sindicalista, nordestino e sem graduação formal de nível superior– e não exatamente pelas políticas do seu governo.

 

Juntando outros preconceitos expressos nas palavras do presidente Lula: “Eles não gostam de mulheres, discriminam os pobres, os negros, os índios, os gays…” eu acrescentaria mais uma razão: ganância.

 

Afinal foi nos dois primeiros mandatos do presidente Lula (de 2003 a 2011) que o Brasil teve uma economia doméstica das mais prósperas. O Brasil acumulou reservas internacionais significativas –ao sair do governo, Lula e sua sucessora Dilma Rousseff (PT) juntos deixaram reservas de U$ 350 bilhões de dólares. O PIB teria alcançado 2,9% (contra 2,4% no governo do antecessor Fernando Henrique Cardoso) e o Brasil alcançou grande capacidade de investimento, com um crescimento de 7,5%. Mesmo com reformas e mudanças radicais feitas por Lula que produziram transformações sociais e econômicas no país, como a distribuição de renda e expansão dos níveis de educação.

 

Mas são exatamente essas mudanças que teriam incomodado  tremendamente brasileiros da classe social mais abastada, ao ver a ascensão do proletariado, como brasileiros ‘comuns’ fazendo viagens a Disney e um filho de porteiro se formar em medicina—como dito nas palavras dos ministros da educação e economia do governo anterior derrotado nas urnas, de Jair Bolsonaro.

 

Foi também no governo Lula que o Brasil do desenvolvimento econômico conquistou o maior trunfo social – a saída do país do mapa da fome, através dos programas Bolsa Família e o Fome Zero, reconhecimento obtido pela Organização das Nações Unidas.

 

Ainda assim, Lula elevou o Brasil para uma posição de destaque no cenário internacional, especialmente para atuação no Mercosul e na criação do grupo chamado BRICS– Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul–– como grandes mercados emergentes. Apoiou o programa nuclear do Irã voltado para pesquisas tecnológicas e não para a guerra, e manifestou as primeiras preocupações do país com o aquecimento global.

 

Não é possível que os mais ricos não tenham feito algum dinheiro no governo Lula. O problema é que os capitalistas radicais tem muita fome e querem mamar nas tetas cheias.

 

Resolvi traduzir e reproduzir abaixo alguns trechos mais importantes do discurso de Biden contextualizando-o para o Brasil. O objetivo é ‘testar’ até onde o radicalismo entre capitalistas neoliberais brasileiros é insano e afetado pela sanha do capital como o valor maior do mundo e um conservadorismo de valores (diga-se “de fachada”) sem precedentes na história do Brasil.

 

No exercício abaixo, eu ‘risquei’ as palavras originais de Biden do discurso, substituindo-as com as palavras que Lula provavelmente usaria. As palavras de Biden, entretanto, continuam no texto junto com as supostas falas de Lula para comparação. Vamos ver juntos o resultado:

 

“A história da América do Brasil é uma história de progresso e resiliência… Somos o único país que emergiu de cada crise mais forte do que quando entramos nela. É isso que estamos fazendo novamente. Dois anos meses atrás, nossa economia estava cambaleando. Enquanto estou aqui esta noite, criamos investimos um recorde de 12 milhões de novos empregos R$ 13,38 bilhões de reais em 21,9 milhões de famílias –mais empregos criados em dois anos do que qualquer presidente já criou em quatro anos mais recursos que qualquer presidente investiu em um programa social, o chamado Bolsa Família .

 

Há dois anos, a COVID fechou nossos negócios, fechou nossas escolas e nos roubou muito  roubou muito da nossa energia, da nossa saúde e das nossas vidas. Hoje, a COVID não controla mais nossas vidas. E há dois anos  desde  2016 a nossa democracia enfrentou tem enfrentado sua maior ameaça desde a Guerra Civil  os governos autoritátios e ditatoriais que tivemos em nosso país. Hoje, embora machucada, nossa democracia permanece inflexível e intacta.

 

Meu plano econômico é investir em lugares e pessoas que foram relegados. Em meio à turbulência econômica das últimas quatro décadas, dos últimos quatro-seis anos, muitas pessoas foram esquecidas ou tratadas como invisíveis. Talvez seja você me assistindo em casa. Você se lembra dos empregos que desapareceram. E você se pergunta se ainda existe um caminho para você e seus filhos progredirem. Entendo.

 

É por isso que estamos construindo uma economia onde ninguém fica para trás. Os empregos estão voltando, o orgulho está voltando pelas escolhas que fizemos nos últimos dois anos em outubro do ano passado. Este é um projeto voltado para trabalhadores para reconstruir a América o Brasil e fazer uma diferença real em suas vidas.

 

Aos meus amigos republicanos progressistas, se pudemos trabalhar juntos no último Congresso durante quase 14 anos e numa frente ampla recentemente em prol da retomada da nossa democracia, não há razão para não trabalharmos juntos neste novo Congresso. As pessoas nos enviaram uma mensagem clara. Lutar por lutar, poder pelo poder, conflito pelo conflito, não nos leva a lugar nenhum.

 

E essa sempre foi minha visão para o país: restaurar a alma da nação, reconstruir a espinha dorsal da América do Brasil: a classe média, a classe trabalhadora, a classe média, os pequenos e médios produtores, unir o país. Fomos enviados aqui para fazer este trabalho e vamos cumprir essa missão!”

 

É o Brasil e os Estados Unidos juntos pela pauta em comum, a da democracia.

 

Ana Alakija é jornalista com Mestrado em História pela Salem State University, Massachusetts

 

 

 

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