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Indígenas alertam líderes mundiais sobre desmatamento e violência no Brasil

Publicado em: 19/09/2022

Ana Alakija
Ana Alakija

De Nova Iorque e Boston –Nova Iorquinos e visitantes que estiveram no fim de semana no centro de Manhattan foram surpreendidos com imagens da destruição das florestas e terras indígenas brasileiras projetadas em telão.

As imagens denunciam o chefe do Estado brasileiro por suas políticas anti-indígenas e anti-ambientais, que resultam em aumento explosivo nos índices de desmatamento principalmente da Amazônia, e na violência contra os indígenas e defensores do meio ambiente.

A projeção das imagens acontece às vésperas do discurso do presidente da República do Brasil na ONU, Jair Bolsonaro, ironicamente e tradicionalmente escolhido para abrir a Assembleia Geral da ONU amanhã, 20 de Setembro.

Organizada por lideranças indígenas em conjunto com a sociedade civil, a atividade tem o objetivo de alertar os líderes mundiais que estão chegando a Nova Iorque para a Conferência, sobre a escalada do desmatamento e violência do governo do presidente Jair Bolsonaro.

Outras atividades estão previstas para acontecer na capital nova-iorquina durante a semana, através dessa mobilização. Uma Marcha Indígena pacífica está programada para acontecer amanhã na rota das delegações internacionais da Conferência, requerendo um “basta” a essas questões.

Desmatamento e Violência

“As Terras Indígenas são as áreas mais preservadas no Brasil todo, porém esse papel não se reverte em proteção dos nossos direitos”, diz a coordenadora executiva da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (API), Dinaman Tuxá.

A líder indígena vem batendo na mesma tecla há muito tempo denunciando que a destruição do território amazônico e a violência contra os povos indígenas são frutos do enfraquecimento da política indigenista e ambiental causado pelo governo atual do Brasil. “Demandamos a demarcação das nossas terras e a proteção integral de nossos direitos e vidas, só assim podemos continuar contribuindo com o combate à crise climática”.

Para Carol Pasquali, diretora Executiva do Greenpeace Brasil “o que acontece na Amazônia não impacta apenas a Amazônia. Já estamos sentindo os impactos da crise climática em todo o mundo.” Ela alerta que “seguir permitindo o desmatamento significa colocar em risco a biodiversidade, as vidas de povos indígenas e comunidades tradicionais e o clima global.”

As organizações apontam que dados recentes do INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais do Brasil – mostram que 7.135 km2 da Amazônia – uma área nove vezes maior do que a de Nova Iorque – foi desmatada de janeiro a agosto de 2022, o mais alto índice já registrado neste período. Só em agosto, foram registrados 33.116 focos ilegais de incêndio na Amazónia, o maior índice registrado em 12 anos.

O desmatamento tem empurrado a maior floresta tropical do mundo para um ponto de não retorno, quando a floresta tropical já não seria capaz de se auto sustentar, como alertam cientistas climáticos.

Para além da Amazónia, outros ecossistemas em todo o Brasil estão ameaçados por altas históricas de desmatamento para a produção agropecuária industrial. A grilagem de terras, a violência e o desrespeito aos direitos humanos estão profundamente ligados à expansão do agronegócio e à mineração no Brasil.

Ataques e Assassinatos

Os povos indígenas estão na mira direta destes ataques e têm sido sitiados pelas ações do governo brasileiro de incentivo à invasão de terras e garantia de impunidade para os criminosos, como refletem as lideranças.

Somente na metade do mês de setembro, pelo menos seis indígenas foram mortos em meio à violência que assola o Brasil; o assassinato mais recente foi o da liderança Guaraní-Kaiowá Victorino Sanches no dia 13 de setembro último. Embora o caso que tenha ganho mais repercussão tenha sido o assassinato do indigenista Bruno Pereira e o jornalista britânico Dom Phillips, em junho de 2022, por protegerem a Amazônia.

Em 2021, a organização indigenista CIMI identificou pelo menos 305 casos de invasões de terras impactando cerca de 226 terras indígenas em 22 estados do Brasil. Este número de casos representa um aumento de três vezes no número de invasões de terras relatadas em 2018 pelo CIMI. Somente no ano de 2021, 176 indígenas foram assassinados no Brasil.

As ameaças às vidas de indígenas são uma questão climática de grande urgência, dizem as organizações. Estudo após estudo tem demonstrado que as florestas e outros ecossistemas são mais protegidos quando os povos indígenas têm seu direito à terra respeitado. Os povos indígenas são os mais ameaçados por tentarem proteger as suas terras e os seus direitos.

A co-coordenadora do DDB-NY, Natalia de Campos afirma ser fundamental ampliar as vozes das lideranças indígenas brasileiras em suas denúncias dos ataques e da devastação que experienciam e combatem na linha de frente “e que o façamos no coração de Manhattan, a capital financeira do mundo.”

Ela chama atenção para a essencialidade dos biomas brasileiros para a sobrevivência dos seres humanos, e que a ganância e a má gestão estão matando os biomas e muitos dos seus defensores. “Esperamos mudar o rumo do desmonte incessante das políticas sociais e ambientais por meio das eleições para o Congresso Nacional e para um novo presidente”, diz Campos. “Se não ouvirmos as pessoas que arriscam as suas vidas para manter o mundo vivo, corremos o risco de cessar nossa própria existência.”

A projeção das imagens foi organizada pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (API), o Comitê Defend Democracy in Brazil (DDB-NY), o Greenpeace Brasil e o Greenpeace EUA. (Fonte: DDB-NY. Fotos:Ken Schles)

Ana Alakija é jornalista com Mestrado em História pela Salem State University, Massachusetts

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