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Noam Chomsky vê tentativa de golpe no Brasil em andamento

Publicado em: 03/08/2021

De Boston– O cientista social estadunidense Noam Chomsky disse ontem à International Press Agency Pressenza que um ‘golpe brando’, similar ao impeachment de Dilma, em 2016, pode estar sendo articulado por um bando de gangsters corruptos e através de métodos fraudulentos, ao avaliar fatos do contexto brasileiro e latino-americano.

Chomsky disse que enquanto os EUA aumentam a interferência em questões internas nos países latino-americanos, especialmente por meio de ‘golpes brandos’, o Brasil está quase diariamente testemunhando ameaças à democracia pelo capitão do exército aposentado e oficiais militares de alto escalão.

Esse comportamento inclusive se revelou recentemente após a reunião secreta do diretor da Central de Inteligência Americana (C.I.A.), William Joseph Burns, com o presidente Jair Bolsonaro em Brasília, no último mês de julho. Na opinião do sociólogo, Jair Bolsonaro teria tirado proveito da informação do encontro, aparentemente vazado para a imprensa pelo próprio governo brasileiro. Isso demonstra que  “ algo muito preocupante pode estar por trás disso.”

Para Chomsky, outra evidência da articulação do golpe são os mais recentes ataques de Bolsonaro à democracia. O presidente manteve as acusações sem provas através de canal público em sua live pela internet nos últimos dias de que as eleições de 2014 e de 2018 foram fraudulentas afirmando que ele tinha provas disso e depois disse que não as tinha; e incitou o povo brasileiro a reagir dizendo que o povo “vai reagir” se o país não tiver “uma eleição democrática” no ano que vem, para defender o voto impresso, depois do Tribunal Superior Eleitoral ter apurado e divulgado que o sistema eletrônico é auditável e seguro e que não houve fraude nas votações dos anos anteriores.

A forte militarização da política e da segurança pública do Brasil ––há 6.157 militares servindo no regime de Bolsonaro e vários ministros–– é também outro indício do golpe, fato considerado como algo sem precedentes desde 1985.

Bolsonaro e oficiais militares invocam o polêmico artigo 142 da Constituição brasileira, conhecido como “Garantia da Lei e da Ordem”, que afirma que as Forças Armadas (Marinha, Exército e Força Aérea) são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas na base da hierarquia e disciplina, sob a autoridade suprema do presidente, e visam a defesa da pátria, a garantia dos “poderes constitucionais” (executivo, legislativo e judicial) e, por iniciativa de qualquer um deles, lei e ordem.

Segundo a Pressenza, o índice de aprovação de Bolsonaro em queda livre e a liderança do ex-presidente Lula nas pesquisas eleitorais crescendo cada vez mais são fatores que contribuem para o aumento das ameaças à democracia brasileira por parte do presidente Bolsonaro. Diante de um Congresso e sistema de Justiça totalmente passivo e impotente.

A matéria de avaliação de golpe pela Pressenza foi feita antes da decisão de ontem do TSE de abrir inquérito administrativo para apurar denúncias de fraude no sistema eletrônico de votação e encaminhamento de notícia-crime ao STF contra o presidente da República, Jair Bolsonaro, por divulgação de fake news.

Encontro secreto com a CIA

Sobre o encontro com a CIA, a Pressenza ouviu também um ex-agente da CIA, Kiriakou, conhecido como aquele que denunciou a tortura como modalidade usada pelo órgão americano. “Não é incomum que um diretor da CIA se reúna com líderes de nações estrangeiras”, o ex-agente teria dito. “Mas a única maneira da notícia da visita de um dirigente da CIA se espalhar é por meio de um vazamento ou quando ela é divulgada pelo país anfitrião”.

O ex-agente da CIA considerou ainda que os americanos de extrema direita, liderados pelo ex-presidente Donald Trump, estão exportando para o Brasil seu modelo de assalto à democracia. E que esse pode ter sido o motivo da recente visita do diretor da CIA.

Apesar do diretor da CIA ter sido enviado pelo presidente Joe Biden, e não por Trump, a visita de Burns  “transmite uma mensagem perigosa de que os Estados Unidos estão dispostos a trabalhar com líderes autocráticos, não importando quem seja o presidente, e que um líder não precisa respeitar o Estado de Direito para manter laços estreitos com os EUA”, disse o agente.

O próprio Biden seria parte desse “deep state” norte-americano, teria dito o agente, que lamentou o “duplo papel” que os EUA continuam prestando como um velho desserviço à democracia em todo o mundo, sempre que os interesses de Washington estão em jogo.

 

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