O Itamaraty informou que não vai manter a presença constante de funcionários no distrito de Santa Tereza, próximo a Machu Picchu, acompanhando as buscas ao brasiliense Artur Paschoali, desaparecido no Peru desde 21 de dezembro. O órgão disse que vai continuar prestando apoio à família, mas que por questões de segurança e outras necessidades identificou dificuldades para manter servidores na região.
A família divulgou carta nesta sexta (08) dizendo ter sido informados da decisão do Ministério de Relações Exteriores e demonstram insatisfação, alegando ter a impressão de que “gradativamente, o desaparecimento do Artur está sendo colocado em segundo plano”. Na carta, Wanderlan Vieira e Susana Paschoali, pais do rapaz, dizem que o fato “mesmo que compreensível devido ao tempo decorrido (…) é inconcebível”.
Já Felipe Paschoali, irmão de Arthur, contou que os pais já gastaram mais de R$ 30 mil desde que viajaram para a região no início do ano, mas não pretendem voltar sem encontrar o garoto, até porque a polícia peruana começou a investigar o sumiço dele como crime. “Depois de todo esse tempo e de já terem percorrido uma área com mais de 80 quilômetros de raio, diminuíram as chances de eles estar perdido e aumentaram as de assalto ou sequestro. A gente também não está acreditando mais que ele esteja perdido, mas esperamos que ele esteja vivo”, disse.
A família está tentando arrecadar dinheiro para a manutenção dos pais do jovem no Peru. Além de meio de doações através de depósitos em uma conta-corrente, amigos da família programaram um festival de tortas para o dia 24, a partir das 17h no Centro de Tradições Gaúchas, com ingressos vendidos a R$ 20.
Veja íntegra da carta
"Aos familiares, amigos e profissionais da mídia:
Desde o início de nossa estadia no Peru, em nenhum momento perdemos nossas esperanças de encontrar nosso filho Artur com vida.
Em todo o mês de fevereiro, esse sentimento se intensificou muito, pois a atuação das duas equipes de investigação enviadas a Santa Teresa, DIRINCRI (Divisão de Criminalística) e DIRIN (Divisão de Inteligência), foi muito significativa, passando-nos segurança e otimismo pela firmeza e responsabilidade com que executaram seu trabalho.
Porém, no início do mês de março, apesar de todos os esforços nossos e da Embaixada do Brasil, infelizmente não logramos garantir a permanência desse grupo em Santa Teresa, mesmo após comunicação direta com o Ministro do Interior do Peru.
Desde o dia 02 de março deste ano, já não estamos mais contando com ninguém da equipe da DIRINCRI aqui em Santa Teresa. A equipe da DIRIN, por sua vez, foi reduzida de cinco policiais para apenas dois.
Vale salientar que o desaparecimento do Artur foi registrado na Delegacia de Santa Teresa no dia 22 de dezembro de 2012 e que até o dia 02 de janeiro de 2013, dia de nossa chegada—12 (doze) dias após seu desaparecimento—, a Embaixada do Brasil ainda não havia sido informada do ocorrido por parte das autoridades peruanas.
Já na primeira quinzena de janeiro, ocorreram fatos significativos, acrescidos de informações da população local, de que não se tratava de um simples desaparecimento, mas sim de um possível crime. Nós declaramos isto oficialmente à Fiscalia de Quillabamba (promotoria do município), expondo nossas vidas, certos de que isto poderia dar um novo rumo às investigações. Lamentavelmente, o mesmo não ocorreu.
Faz-se importante esclarecer que durante todo o mês de janeiro, nós (funcionários da Embaixada, Wanderlan e eu) efetuamos imensos esforços junto à Fiscalia de Quillabamba com vistas a dar continuidade à investigação, pois percebemos, de uma forma implícita, um certo desinteresse junto ao caso por parte daquela instituição. Não foram poucas as vezes em que nos deslocamos até aquela cidade em busca de informações sobre o processo, sem sucesso algum.
Suspeitamos que a aparente falta de harmonia durante a passagem de direção das equipes especializadas (o que ocorre mensalmente) vem interferindo na fluidez e eficiência das investigações. A evidente falta de coordenação durante essas trocas de equipe tem feito com que informações sejam perdidas, comprometendo as investigações e frustrando todos aqueles que estão assistindo de perto, especialmente quando considerados os recursos financeiros que estão sendo disponibilizados pelos dois países.
Em face deste relato, temos a nítida impressão de que, gradativamente, o desaparecimento do Artur está sendo colocado em segundo plano, fato este que, mesmo que compreensível devido ao tempo decorrido, para nós, pais, é inconcebível.
Para aumentar nossa preocupação, esta semana recebemos um comunicado do Itamaraty informando que a Embaixada não seguirá dando o apoio presencial após o dia 09 de março de 2013.
Temos a certeza de que nossa insatisfação do quadro atual é a mesma de todos os quase 13.000 novos irmãos e amigos que adquirimos através do grupo VAMOS ACHAR O ARTUR.
Apesar de todas as dificuldades enfrentadas nesta busca incessante, jamais nos quedamos ante às vicissitudes, pois temos a perfeita convicção de que Deus, nosso Pai Maior, em nenhum momento se afastou de nós.
Susana Paschoali e Wanderlan Vieira"