Projeto de decreto legislativo apresentado nesta quinta-feira pela deputada Luzia de Paula na Câmara Legislativa do Distrito Federal, propõe a concessão do Título de Cidadão Honorário de Brasília ao frei dominicano Carlos Josaphat, mineiro de Abaeté, é jornalista, teólogo, escritor, professor emérito da Universidade de Friburgo, na Suíça.
Tornou-se conhecido por suas posições no campo social na década de 1960. Por ocasião do golpe militar de 1964, foi "convidado" a deixar o Brasil. Doutorou-se em Teologia em Paris, com uma tese sobre ética da comunicação social. Tem se empenhado, especialmente, no confronto do cristianismo com a civilização técnico-científica e nos problemas de justiça social. É autor de diversos livros, entre os quais, Ética e mídia, liberdade, responsabilidade e sistema, publicado por Paulinas Editora, em 2006.
Biografia – Carlos Josaphat deixou Abaeté aos 12 anos para estudar no Seminário Menor de Diamantina, terra de Juscelino – como ele gosta de dizer. Depois de Diamantina foi para Petrópolis, fazer os estudos de filosofia e teologia, até a Ordenação Sacerdotal em 08 de dezembro de 1945. Nesse momento o Brasil retomava os caminhos da democracia pelas eleições. Em seguida fez um estágio ensinando humanidades no Colégio do Caraça MG, nos idos de 1946. Em 1947/48 ensinou Teologia no Seminário histórico de Mariana também em MG. Em 1949/50 passou a ensinar no Nordeste, especialmente em Fortaleza e Recife. Nesta última cidade, o jovem sacerdote conheceu e teve o primeiro contato com o também jovem professor Paulo Freire, no antigo Colégio Oswaldo Cruz (de propriedade dos pais da segunda esposa de Paulo Freire, Ana Maria Araújo Freire).
O Senhor Aluísio Araújo e a esposa Genove acolheram Paulo Freire como bolsista quando este perdera o pai, e depois, quando Paulo Freire já era Professor no mesmo colégio, acolhera também o jovem sacerdote (Frei Carlos) como Capelão e Professor de Catequese. Debaixo de uma mangueira, no terreiro do Colégio, aos domingos, Dona Genove e o Senhor Aluísio reuniam sua família, seus 9 filhos e muitas vezes também Frei Carlos e Paulo Freire, para um almoço, e esse era o começo de o que viria a ser uma grande amizade. Nessa fase Frei Carlos interrompeu o ensino de Teologia que não parecia corresponder ao sistema excessivamente conservador do Seminário onde se formava o clero de então.
Em 1951/52 Frei Carlos Josaphat foi enviado ao Paraná, à cidade de Irati, para ensinar simplesmente Português e Latim. Nesse momento, para ser fiel aos ideais de renovação da igreja e ao empenho de promoção social de nosso país, tomou a decisão de ser Frade Dominicano. Fazendo profissão solene nesta ordem em julho de 1953.
No mesmo ano, de comum acordo com as orientações dominicanas, partiu para a França, em vista a aprimorar os seus estudos e a sua cultura. Já era o segundo semestre de 1953 e lá permaneceu até o primeiro semestre de 1957. Durante esta permanência na França teve o primeiro contato com os grandes teólogos que iriam colaborar na renovação da Igreja, tais como Karl Hahner, Padre Congar e Padre Chenú, e nas tomadas de posições dos líderes católicos na defesa dos Direitos Humanos, entre eles Jacques e Raïsa Maritain, Etienne Gilson e Emmanuel Mounier. Voltando ao Brasil, ainda em 1957, foi encarregado de orientar os estudos e a vida intelectual dos Dominicanos neste país. Esta tarefa durou até dezembro de 1963.
No papado de João XXIII, suas célebres encíclicas e na convocação do Concílio Vaticano II, com o ensino social, Frei Josaphat passou a suscitar e a orientar um movimento social sob a bandeira das Reformas de Base no nosso país. Foi nessa ocasião que foi lançado o jornal "Brasil Urgente" que se definia como Jornal do Povo, como o Lema: "A verdade, custe o que custar, a justiça, doa a quem doer". Eram momentos efervescentes e com essas preocupações encontrou-se novamente com o Professor e renovador da Pedagogia do Oprimido, da Autonomia, da Esperança, o Paulo Freire. Sobretudo nos anos 1962/1963.
Paulo Freire e Frei Carlos Josaphat sentiram uma grande convergência nos projetos e nos ideais, de despertar a consciência e a militância em todo o povo brasileiro. Eles se encontravam no projeto de uma ética e uma “pedagogia libertadora”.
Em meados de 1963, Paulo Freire e Frei Carlos Josaphat foram convidados pelo então Ministro da Educação, Paulo de Tarso, para um encontro e um projeto de educação popular da nova capital federal. Tratava-se de tudo fazer para humanizar a construção e as relações sociais na Brasília de Lúcio Costa e Oscar Niemeyer.
Sob a presidência do Ministro Paulo de Tarso, houve uma reunião na Granja do Torto congregando dezenas de líderes sociais e educadores, como Darcy Ribeiro – que deixava a reitoria da Universidade de Brasília para se tornar Chefe da Casa Civil do Presidente João Goulart, e convidou Frei Mateus Rocha (também frade dominicano), para assumir este posto – entre os já citados Frei Carlos e Paulo Freire, com vistas a realizar o projeto de Educação de Jovens e Adultos, para alfabetização dos que viriam a ser conhecidos como “Candangos”, na linha, e sob o elã do que seria o “Método Paulo Freire”.
Mais tarde, Paulo Freire e Frei Carlos Josaphat, encontrando-se exilados em razão de se oporem à ditadura no Brasil, se encontraram na Suíça e relembraram este primeiro curso em Brasília e Frei Carlos tinha umas ligeiras anotações que evocavam o conteúdo e o quadro dessa interessante realização.
Na verdade, Frei Carlos partiu para a França em dezembro de 1963, pois a sua ausência no Brasil era desejada pelos “preparadores do Golpe de 64”. Já na França continuou colaborando com o jornal Brasil Urgente, até que em 31.03.1964, a polícia política invadiu a redação e fechou o jornal.
Na França doutorou-se com uma tese sobre a “Ética da Comunicação Social e do Jornalismo”, tendo feito estágio no Jornal Le Monde. Permaneceu pouco mais de dois anos em Paris e foi nomeado professor na Universidade de Friburgo, na Suíça, onde começou a lecionar em janeiro de 1966, exercendo o Magistério Universitário até junho de 1993, de onde saiu como Professor Emérito para retornar ao Brasil. Durante os trinta anos em que esteve na Europa, Frei Carlos tornou-se um escritor em língua francesa, publicando várias obras ou traduzido em outros idiomas como, italiano, inglês, alemão e espanhol. Chegou a fundar uma coleção bilíngue francês-alemão sob o título de: “Estudos de Ética Cristã, atualmente” com mais de 100 volumes.
Nesse período na Europa, como não podia trabalhar no Brasil, Frei Carlos decidiu consagrar-se à atividade social junto aos trabalhadores estrangeiros, sobretudo portugueses que emigravam e eram obrigados a aceitar condições desumanas de trabalho. Defendia os Direitos Humanos que esses estrangeiros não podiam reivindicar nos países que os acolhiam.
Durante todos esses anos, em parceria com o Instituto Internacional Jacques Maritain, Frei Carlos ampliava o horizonte de suas preocupações sociais promovendo encontros de estudos e pesquisas nos diferentes continentes, abordando os problemas os problemas sociais e humanos na Ásia e na África. Desses encontros resultaram muitos estudos, pesquisas e obras escritas, particularmente sobre as relações entre os povos e a necessidade de uma economia orientada por uma ética mundial. Esses escritos, amplos e volumosos pertencem hoje ao acervo cultural da Universidade de Friburgo e ao Instituto Jacques Maritain em Roma.
Na sua volta ao Brasil, no segundo semestre de 1994, Frei Carlos voltou a lecionar na Escola Dominicana de Teologia, no Instituto Teológico do Estado de São Paulo (ITESP) e em outras universidades do Brasil, além de ter publicado mais de duas dezenas de livros.
Frei Carlos Josapath encontra-se em plena atividade e com muitos lançamentos previstos para 2013. Trabalha incansavelmente, aos 92 (noventa e dois) anos, em uma de suas paixões que é a causa de Frei Bartolomeu de Las Casas.
Em sua vida universitária, seus escritos, em diversos encontros e múltiplas conferências a preocupação de Frei Carlos se concentra nos problemas sociais, nos desafios éticos, da civilização científica e tecnológica especialmente as relações da ética e do cristianismo com os desafios da modernidade e da pós-modernidade. É o que se vê pela análise se suas principais obras publicadas no Brasil e no Exterior.