Em vez de resolver problemas no CCZ, GDF ameaça processar estudante

Publicado em: 23/01/2013

O Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) de Brasília estaria disposto a processar uma estudante de veterinária, que postou nas redes sociais a notícia de que o CCZ estava prestes a eutanasiar animais saudáveis, por falta de espaço. A informação é do Correio Braziliense. O governo do Distrito Federal negou a eutanásia e classificou como “boato” e “trote”. Segundo o CCZ, animais saudáveis não são sacrificados. Somente os que representam algum perigo à saúde pública. 

Ocorre que não se pode afirmar se é mesmo um trote, já que nem mesmo a Secretaria de Comunicação do GDF publicou imagens do Centro para desmentir o boato, nem apresentou nada que pudesse provar que a informação realmente não seja verídica. Informamos ainda que a estudante de veterinária foi apenas uma das pessoas que relatou ter ouvido sobre sacrifício por falta de espaço no CCZ, aumentando o número de pessoas e Organizações Não Governamentais passíveis de ser alvo do tal processo.

 

Esse tipo de "boato", aliás, não é novidade e há uma petição na internet, mantida por grupos brasilienses de proteção animal, pedindo o fim da eutanásia no CCZ. Há relatos de pessoas que ligaram para o Centro e tiveram a informação de que após dois meses sem adoção, os animais são eutanasiados. A estudante que o CCZ quer processar publicou no facebook que um funcionário do Centro afirmou na sexta que a cada 10 dias acontece o sacrifício. Se a Secom procurar nos compartilhamentos do cartaz feito por eles a quantidade de relatos sobre a prática de eutanásia no CCZ.

 

Se o GDF pretende processar mesmo alguém, reiteramos a nossa disposição em mostrar o local por dentro. A TV Record já demonstrou interesse em fazer o mesmo. Se não houver transparência nos processos do Centro, a palavra do GDF tem o mesmo peso que o que foi classificado como “trote” ou boato”.

 

Mudanças – Na nota oficial o GDF diz que a Diretoria de Vigilância Ambiental da @Secretaria de Saúde do DF informa que “nenhum animal saudável é sacrificado por falta de novos lares” e que o CCZ “sacrifica apenas animais doentes com males que afetam a saúde do homem, como a raiva e a leishmaniose. Animais com comportamento agressivo, com histórico de ataques a pessoas e outros animais também podem vir a ser sacrificados”. Informamos que o decreto que prevê o sacrifício por conta de Leishmaniose foi derrubado pela justiça federal. 

O DF tem apenas o CCZ como dispositivo público voltado para a questão animal e a função do Centro é de combater Zoonoses, não de abrigar ou receber animais abandonados. Segundo Simone Gonçalves de Lima, diretora da Associação Protetora dos Animais do DF (ProAnima), há anos a entidade busca uma mudança de postura do GDF perante a questão. “Em muitos outros estados e municípios existam campanhas de esterilização cirúrgica de animais , campanhas de adoção e a humanização dos CCZs. Embora a nota do GDF nos tranquilize a respeito destes animais em específico, sabemos que o CCZ precisa de mudanças urgentes”, afirma. 

Esterilização – A entidade pede também que haja mais transparência nos critérios utilizados para definir que animais são sacrificados. “É difícil crer que todos os milhares de animais sacrificados pelo DF todos os anos realmente ameaçavam a saúde pública”, afirma Simone.

 

Quanto às esterilizações, cabe ressaltar ainda que a Organização Mundial de Saúde (OMS) deixa claro que não há política eficaz de controle de zoonoses, nem de controle populacional, exceto a esterilização cirúrgica de animais, coisa que o CCZ não faz antes de encaminhar os animais para a adoção, o que significa dizer que os animais saem do CCZ com capacidade reprodutiva e, caso se reproduzam, vão aumentar as estatísticas de animais abandonados, que atualmente está estimada em torno de 20 mil cães e gatos no DF. “Um DF sem esterilizações gratuitas ou subsidiadas não está encarando de frente o problema”, assevera Simone.

 

Há na internet uma petição pública pedindo um Hospital Veterinário Público para o DF. Em vez de processar estudantes de veterinária e cidadãos que “disseminam boatos”, o GDF deveria estudar essa possibilidade ou tentar ajudar as campanhas de castração gratuita que entidades brasilienses realizam, incentivar clínicas veterinárias com algum tipo de isenção fiscal para baratear a castração ou até mesmo ajudar na construção do Hospital Veterinário Comunitário, que está sendo construído à custa de doações.

 

Em tempo: as gaiolas do CCZ foram esvaziadas. Vale lembrar que, como os animais que saem de lá estão em sua plena capacidade reprodutiva, nada garante que em pouco tempo a capacidade do Centro esteja novamente esgotada.

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