Pastores de uma igreja evangélica de Paranoá no Distrito Federal foram denunciados por lesão corporal e maus tratos contra animais, depois que jogaram pela janela dois gatos de uma jovem que também foi vítima de agressão. A dona de casa Noêmia Oliveira Silva foi “exorcizada” pelos pastores a pedido do namorado, Wales Anderson de Sousa Rodrigues, e foi agredida no rosto pelos dois homens. Ela usa piercings e tem tatuagens e Wales acreditava que ela tinha demônios dentro do corpo, por estar bêbada e rindo alto no momento, e por isso chamou os pastores.
Os pastores estão sendo denunciados por lesão corporal contra a jovem e crueldade contra os gatos atirados pela janela do terceiro andar. Um deles é filhote e teve as três patas quebradas na queda (foto). O caso foi registrado na 6ª Delegacia de Polícia (Paranoá) e as investigações do caso são conduzidas pela delegada-chefe, Jane Klébia do Nascimento.
Exorcismo – Noêmia procurou a polícia na noite de domingo (12), com hematomas pelo corpo e dois ferimentos nas bochechas e prestou depoimento, mas não soube identificar os agressores. De acordo com Wales, o casal foi a uma festa na casa de familiares e ela teria ficado bêbada e em casa, ele decidiu dar um banho frio nanamorada. “Foi quando o comportamento dela ficou irreconhecível. Gritava, dava gargalhadas, falava com vozes que não eram dela. Dizia que estava possuída pelo demônio. Senti muito medo”, relatou.
Apavorado com a situação, Wales decidiu pedir ajuda e liguei para a irmã e o cunhado. Ao sair para a rua, ele encontrou um rapaz que teria dito que era evangélico e poderia ajudar. O religioso teria entrado no apartamento e começado a rezar, mas não conseguindo resolver a situação, ligou para três amigos, que rapidamente chegaram, de acordo com o casal. “Um dos religiosos teria chamado o marido e falado para ele que só um pastor dava conta. Ele, então, voltou para a rua e um homem que estava numa barraca de cachorro-quente teria se identificado como pastor e se prontificou a ajudar”.
Má influência espiritual – Este último homem teria começado um ritual de exorcismo. De acordo com a delegada, o casal relatou que os religiosos teriam deitado a vítima na cama, seguraram as pernas, os braços e apoiaram o tórax. “Os religiosos teriam começado a agredir a vítima nas regiões do corpo onde ela é tatuada, com socos e tapas. Não satisfeitos, decidiram arrancar os piercings, porque dois deles ficaram presos nas bochechas de Noêmia”, conta Klébia afirmando que a família da vítima relatou medo e crença no ritual.
Durante o suposto ritual religioso, o pastor teria detectado que os dois gatos da vítima eram uma “má influência espiritual” e ordenou que eles fossem jogados pela janela. O ritual só acabou quando a vítima dormiu. “Como não tenho intimidade com nenhuma religião, achei que era normal”, conta Wales. Noêmia diz que não se lembra de nada.
Os agressores ainda não foram identificados. “A família não os conhece, não sabe os nomes. Mas espero chegar a eles nos próximos dias”, afirma a delegada. Se comprovado o crime, eles responderão por lesão corporal grave e maus-tratos a animais. Somadas, as penas não passam de dois anos de reclusão. Jane Klébia destaca que a história é a mais inusitada que já registrou dentro de uma delegacia. “Em 14 anos de profissão, nunca ouvi nada assim. Mas, para mim, colocaram a culpa da cachaça no demônio”, brinca.
Com informações do Correio Braziliense.