O contraventor Carlos Augusto de Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira, irá prestar depoimento na audiência de instução do processo da Operação Saint-Michel do Ministério público e Polícia Civil do Distrito Federal, a partir das 14h desta quarta (1º), na 5ª Vara Criminal de Brasília, sobre a acusação de tentativa de fraudar o sistema de bilhetagem eletrônica no transporte Público do DF. Outros sete réus também foram convocados.
Além de Cachoeira, são réus na ação Cláudio Abreu, o ex-diretor da Delta no Centro-Oeste; Heraldo Puccini Neto, diretor da construtora em São Paulo; Gleyb Ferreira da Cruz, auxiliar do bicheiro; o ex-assessor da Secretaria de Planejamento Valdir Reis; os acusados de lobby Dagmar Alves Duarte e o vereador Wesley Clayton da Silva (PMDB); além de Giovani Pereira da Silva, que seria o contador do bando e está foragido.
Os oito réus do processo referente à Operação Saint Michel são acusados pelo Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) de tráfico de influência e formação de quadrilha, para tentar fraudar o sistema de bilhetagem do transporte público da capital do país. De acordo com os promotores do Núcleo de Combate às Organizações Criminosas (NCOC) do MPDFT, o grupo de Cachoeira tentou forçar uma dispensa de licitação para a contratação de um sistema de bilhetagem de origem sul-coreana que apenas uma empresa ligada à quadrilha operaria no Brasil.
Será que ele fala? – A expectativa pelo depoimento de Cachoeira é ainda maior, após a saída da equipe de Márcio Thomaz Bastos da defesa do contraventor. Fontes informam, que parlamentares da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do Cachoeira receberam a informação de que o ex-ministro abandonou a defesa, porque não conseguia mais controlar “a língua” do bicheiro, que estaria sendo pressionado pela mulher, Andressa Mendonça, para contar tudo que sabe e a situação teria ficado insustentável, após a tentativa de chantagem de Andressa contra o juiz do caso.
Além disso, Thomaz Bastos teria ficado abalado, depois que o procurador regional da República Manoel Pastana encaminhou ao MPF em Goiás uma representação pedindo investigação sobre a origem do dinheiro dos honorários da causa, alegando que “existem indícios de que o advogado já cometeu, ou está prestes a cometer delito de lavagem de dinheiro, ou no mínimo receptação culposa, em decorrência da percepção de honorários oriundos de atividades criminosas”. Pasta sugere ainda que o advogado seja preso em flagrante recebendo honorários.
O esquema – De acordo com o porta-voz do GDF Ugo Braga, quando o Buriti assumiu a bilhetagem da Fácil, em junho de 2011, foi cogitada a possibilidade de mudar o sistema. Nesta época, representantes do grupo de Cachoeira teriam entrado em contato com funcionários do Transporte Urbano do Distrito Federal (DFTrans).
Ugo Braga confirmou que pessoas ligadas ao grupo do contraventor entraram em contato com funcionários do DFTrans, para tentar viabilizar negócios com o GDF. “O esquema de Carlinhos Cachoeira tentou, fez algumas investidas para fazer negócio com o GDF e não conseguiu. A operação de hoje é bem eloquente neste sentido. Nenhuma das pessoas alvo da operação tinha qualquer relação com o governo do DF”, disse.
Após as suspeitas virem à baila, Milton Martins, diretor da autarquia citado em conversas do grupo interceptadas pela PF, pediu o afastamento, segundo a assessoria de imprensa do órgão, “para não atrapalhar as investigações”.
Convocado para depor na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do Cachoeira no Congresso Nacional, o governador Agnelo Queiroz, também confirmou a tentativa de fraude. “É verdade que houve a trama. Mas o DFTrans não abriu licitação. Como falar em Cachoeira operando licitação no GDF? Ora, se ele tivesse ligação com o governador, precisaria contratar lobista para chegar até a Secretaria de Transportes? Por favor, não vamos ofender a inteligência alheia”, disse Agnelo aos parlamentares.