Agnelo Queiroz, mais uma vez nos noticiários denunciosos…

Publicado em: 24/08/2012

O senador Álvaro Dias (PSDB-PR) levantou a lebre em seu blog e a grande mídia foi atrás. Dados bancários do governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT) encaminhados à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do Cachoeira, registram três depósitos de R$ 2,5 mil cada um (total de R$ 7,5 mil) na conta do policial militar João Dias Ferreira, delator do suposto esquema de corrupção no Ministério do Esporte que levou à demissão do ex-ministro Orlando Silva. 

Os depósitos não têm nada a ver com a CPMI do Cachoeira, mas estão sendo tratados como tal. Hoje mais uma caveira foi desenterrada a que Agnelo Queiroz recebeu, em dezembro de 2008, um depósito de 18 000 reais de Ismael Lopes Araújo, um militante do PC do B que foi assessor do petista na Câmara, até 2007. Outro fato totalmente irrelevante que está sendo divulgado como suspeita de algum malfeito do Governador. 

Outro governador que tem tido uma aparição mais discreta nas denúncias da mídia é o de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), sobre quem o senador tucano não deve ter falado em seu blog. Ao mesmo tempo em que aparecem os depósitos de Agnelo, surgem gravações feitas pela Polícia Federal em agosto do ano passado onde Cláudio Abreu, ex-diretor da Delta no Centro-Oeste, conversa com Cachoeira sobre uma tentativa de fraudar a licitação de obra em rodovias de Goiás. A despeito de a gravação ser do próprio Cachoeira, a grande mídia não deu tanta importância ao fato. 

Agnelo – Os depósitos foram feitos na época que Agnelo era diretor da Anvisa, na conta do policial militar João Dias. Foram três cheques de R$ 2,5 mil cada, depositados entre os dias 1º de fevereiro e 31 de março de 2008. Nessa época, João Dias ameaçou denunciar um suposto desvio de dinheiro do Ministério do Esporte, quando Agnelo ainda era o ministro. Em abril de 2010, João Dias foi preso, acusado de desviar dinheiro recebido do Ministério do Esporte pelas ONGs dele. 

Os dados foram encaminhados pelo Banco de Brasília (BRB) à comissão, que investiga as relações do contraventor Carlos Augusto de Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira, com políticos e empresários. A abertura do sigilo bancário foi oferecida pelo próprio governador durante depoimento prestado à CPMI no dia 13 de junho e negou envolvimento com o grupo de Cachoeira.   

Por nota, o porta-voz do GDF Ugo Braga informou que os depósitos são referentes à compra de um carro usado, que a transação foi feita em fevereiro de 2008, mediante a entrega de 10 cheques nominais pré-datados, mas acabou desfeita pouco mais de dois meses depois, com a devolução do carro e a restituição dos cheques. Agnelo está na Argentina, mas segundo Braga, no retorno irá disponibilizar a documentação que teria guardada. 

O autor das denúncias contra o ex-ministro, João Dias Ferreira, foi candidato a deputado distrital em 2006. Ele é suspeito de desviar R$ 2 milhões do programa Segundo Tempo, do Ministério do Esporte, por meio de entidades esportivas que comandava. “É uma suposição [que tenha sido para impedir a denúncia]. Ele [governador] teve a oportunidade de falar na CPI e ficou calado. O que ele fez na CPI foi desqualificar o João Dias”, disse Álvaro Dias, que informou que o PSDB estuda a possibilidade de ingressar com uma representação criminal, por crime de corrupção ativa de testemunha contra o governador do DF, só não explicou qual a relação de Dias com Cachoeira. 

Perillo – Marconi Perillo também prestou depoimento à CPMI no dia 12 de junho, um dia antes de Agnelo e negou envolvimento com o grupo de Cachoeira, mas em gravações feitas pela Polícia Federal em agosto do ano passado, Cláudio Abreu, ex-diretor da Delta no Centro-Oeste, conversa com Cachoeira sobre uma tentativa de fraudar a licitação de obra em rodovias de Goiás, relatando que fez um trato com o ex-vereador do PSDB, Wladmir Garcez, para fraudar o resultado da licitação, com a ajuda do governador de Goiás, Marconi Perillo, e de Jayme Rincón, ex-tesoureiro de Perillo – na época presidente da Agência Goiana de Transportes e Obras. 

Na gravação Cláudio Abreu diz: “Eu fiquei com segundo lugar em três lotes. Só que eu quero o lote 18. O cara deu 30%, eu dei 23%. Se o Wladimir conseguir com o Marconi e com o Jayme que o cara arranca a proposta dele. Eu ganho com a minha proposta, com a minha, com o meu preço, assinou o contrato eu dou R$ 50 mil para ele”. E Cachoeira responde: “Fechado”. 

Perillo contesta a informação da CPMI, também em uma nota, onde o governador declarou que não houve irregularidade por parte dele ou por parte de Jayme Rincón. Segundo Perillo, o lote 18 não foi executado pela empresa Delta. Já a construtora afirmou que desconhece a motivação da conversa gravada. O advogado de Cláudio Abreu disse que ainda não foi informado sobre a denúncia pela CPMI. E o advogado de Wladimir Garcêz preferiu não se pronunciar porque não teve acesso às gravações. 

Contas no exterior – Ambos os governadores são alvo de inquérito no Superior Tribunal de Justiça (STJ), que a pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR), ressuscitou uma investigação sobre a suposta existência de contas do governador goiano no exterior, após um dossiê contra o tucano, apreendido pela Polícia Federal na casa de Adriano Aprígio, ex-cunhado de Cachoeira. 

Parte do material já fora analisada pelo Ministério Público de Goiás em 2009, que chegou à conclusão de que a conta é falsa. O dossiê menciona outras três contas, que não chegaram a ser analisadas. O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, quer saber se elas existem e pediu apuração ao STJ. 

O inquérito foi instaurado semana passada. Uma das contas, segundo a PGR, estava no banco suíço UBS, sediada no paraíso fiscal das Ilhas Virgens Britânicas. Em 2010, o UBS enviou documentação informando que o papel era uma "falsificação". O advogado de Perillo, Antonio de Almeida Castro, afirma que a descoberta do dossiê mostra que ele não tem relação com Cachoeira. 

A defesa de Aprígio diz não estar claro se o dossiê estava na casa dele, mas não descarta a hipótese de que tenha sido deixado lá por Cachoeira – o que é negado pela defesa do bicheiro.

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