Você se lembra?

Publicado em: 04/07/2012

Depois de três anos de estragos do maior esquema de corrupção do Distrito Federal, alguns atores importantes desta novela sumiram das páginas de jornais e emissoras de TV. Vamos relembrar estes personagens e suas atuações nos capítulos de uma série que marcou o Distrito Federal

 

Não só o ex-governador do DF, José Roberto Arruda (Sem partido, ex-DEM) e o ex-vice-governador, Paulo Octávio (DEM-DF), estão envolvidos no escândalo de distribuição de propina para a base aliada na Câmara Legislativa. Mas, nos últimos anos, mentores do esquema saíram de cena inexplicavelmente e parece não retornar. Políticos e empresários, citados ou filmados recebendo alta quantia em dinheiro do ex-secretário de Relações Institucionais do DF, Durval Barbosa, entram no esquecimento da sociedade brasiliense.

A Caixa de Pandora, deflagrada pela Polícia Federal no dia 27 de novembro de 2009, foi aberta e o suposto esquema tomou proporções inimagináveis. São citados: o ex-governador José Roberto Arruda; o ex-vice-governador Paulo Octávio; o ex-chefe da Casa Civil, José Geraldo Maciel; o ex-chefe de gabinete de Arruda, Fábio Simão; o ex-secretário de Educação, José Luiz Valente; o ex-secretário de Comunicação, Wellington Moraes,; o ex-secretário de Planejamento, Ricardo Penna; o secretário da Ordem Pública e ex-corregedor-geral do DF, Roberto Giffone; o ex-secretário de governo, José Humberto; o ex-secretário de Saúde, Augusto Carvalho (PPS-DF); o ex-secretário adjunto de Saúde, Fernando Antunes (PPS-DF); o ex-secretário de Obras, Márcio Machado (PSDB-DF); o ex-presidente da Novacap, José Eustáquio de Oliveira; o conselheiro do Tribunal de Contas do DF, Domingos Lamoglia; o presidente do Instituto de Previdência do GDF, ex-deputado Odilon Aires; o ex-presidente da Codhab, José Luiz Naves; o ex-diretor do DFTrans, Paulo Munhoz; o ex-assessor direto do governador, Omézio Pontes; e o ex-assessor de imprensa do GDF, Paulo Pestana, entre outros.

O ex-secretário de Governo, José Humberto Pires, homem de extrema confiança de Arruda, era um dos responsáveis por receber o dinheiro arrecadado por Barbosa, que garante ter entregue pessoalmente à ele, “lotes de R$ 1 milhão”.

Análise Política

O pesquisador em Ciência Política da Universidade de Brasília (UnB), Leonardo Barreto, explica que o esquema ganhou uma amplitude imensa e impossível de ser ignorada. “A rede cresceu e envolveu secretários de governo, ex-deputados e até agentes públicos. Era só uma questão de tempo para tudo se externar”, explicou.

Para o pesquisador, apenas uma força política não pode ser responsável pelas denúncias. “Não acredito que o ex-governador Joaquim Roriz tenha planejado tudo isso sozinho”, argumentou Barreto.

Câmara Legislativa – Deputados distritais entraram de cabeça na “mesada”, ou “estímulo”, patrocinado por Arruda.  Muitos deles filmados por Durval, quase a maioria.

O deputado distrital evangélico, do Partido Progressista, Benedito Domingos, é acusado de receber R$ 6 milhões para aderir à coligação de Arruda.

O ex-deputado distrital Geraldo Naves (DEM), chegou a ficar preso por tentativa de suborno a uma testemunha do inquérito do STJ, o jornalista Edson Sombra, a mando de Arruda.

A ex-deputada distrital peemedebista, Eurides Brito, hoje, ganhou fama nacional por guardar dinheiro dentro de sua bolsa. A deputada é acusada de receber R$ 30 mil mensais em troca de apoio político. Ela também foi alvo de mandado de busca e apreensão expedido pelo Supremo Tribunal de Justiça (STJ) e executado pela Polícia Federal em seu gabinete.

O vídeo de Eurides foi assistido por milhões de brasileiros, veiculado por diversas emissoras de TV e armazenado no site YouTube. Eurides protagonizou uma bela cena, com um enquadramento inegável, pelo “cineasta” Durval Barbosa. Eurides Brito já foi secretária de Educação do GDF.

O ex-deputado Junior Brunelli supostamente também recebia os R$ 30 mil mensais e aparece em dois vídeos de Durval: um guardando maços de dinheiro no bolso e em outro orando em agradecimento pelo dinheiro recebido, ao lado de Durval Barbosa e do ex-presidente da CLDF, Leonardo Prudente (Sem partido). Brunelli renunciou ao mandato de deputado para não ser cassado.

O caso Prudente foi tido como pivô dentro da Câmara Legislativa. Supostamente, ele era o “cabeça” do esquema no Legislativo. Também ficou conhecido nacionalmente como o “meinha”, por ter guardado “cerca de R$ 25 mil” nos bolsos do paletó e nas meias. Prudente também renunciou ao mandato para fugir do processo de cassação e nem foi candidato na eleição de 2010.

Segundo Barbosa, Prudente recebia R$ 50 mil mensais do esquema e mantinha parentes e pessoas próximas em cargos estratégicos que lhes permitiam desviar dinheiro de órgãos, como o Departamento de Trânsito do Distrito Federal (Detran-DF), extorquindo empresários que disputavam licitações.

O ex-deputado distrital pelo PMDB, Odilon Aires, aparece em um vídeo recebendo dinheiro de Durval Barbosa, que o acusa de receber R$ 30 mil mensais do esquema.

Também foram citados no esquema, os deputados distritais Rogério Ulysses (Sem partido, expulso do PSB) e atual deputado distrital Aylton Gomes (PR-DF); os suplentes Berinaldo Pontes e Pedro do Ovo.

Distribuição da propina

Durval Barbosa afirmou que, após Arruda ter sido empossado, “em todas as Secretarias de Estado e unidades do governo dirigidas por políticos com mandato, o titular da pasta recebe 40% das propinas arrecadadas. Os demais 60% seriam divididos entre o governador (40%), o vice-governador Paulo Octávio (30%); o secretário da Casa Civil, Geraldo Maciel (10%); e o assessor de imprensa Omézio Pontes (10%). O restante do dinheiro era distribuído de acordo com orientação do governador.

Em um relatório assinado pelo relator do inquérito, ministro Fernando Gonçalves, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), há menção a pelo menos quatro empresas – InfoEducacional, Vertax, Adler e Linknet – que fariam parte do esquema.

No mesmo documento, o ministro relata que Barbosa havia recebido do governador R$ 400 mil reais que deveriam ser repassados ao chefe da Casa Civil do GDF, José Geraldo Maciel, para que ele efetuasse o pagamento da base aliada. Outros R$ 200 mil teriam o mesmo destino.

Confira abaixo lista dos empresários citados no inquérito nº 650 (STJ):

Alcir Collaço – dono do jornal Tribuna do Brasil, foi gravado guardando dinheiro na cueca.

Cristina Boner – empresária do ramo de informática é dona do grupo TBA, que, conforme o inquérito, conseguiu um contrato de prestação de serviços com o GDF por ter doado R$ 1 milhão à campanha de Arruda. O contrato, classificado como emergencial, previa a prestação de serviços ao programa Na Hora e era gerenciado pelo subsecretário de Justiça e Cidadania, Luiz França, gravado recebendo dinheiro de Barbosa.

José Celso Gontijo – Ou “Zé Pequeno”, como o chama Barbosa no vídeo em que o dono da construtora JC Gontijo Engenharia aparece entregando ao ex-secretários dois pacotes contendo, supostamente, dinheiro. A empresa de Gontijo foi a responsável pela construção da Ponte JK, concluída durante o governo de Joaquim Roriz (então no PMDB, hoje no PSC), obra que o Ministério Público acusou de ter sido superfaturada. Atualmente, a empresa toca a construção da nova rodoviária, inicialmente orçada em R$ 47 milhões.

José Luiz Valente – ex-secretário de Educação, é acusado de ter recebido R$ 60 mil da Info Educacional, empresa contratada para prestar serviços ao GDF. Foi afastado do cargo em dezembro passado.

Gilberto Lucena – dono da Linknet, empresa que tem contrato com o GDF, aparece em vídeo reclamando do valor de dinheiro exigido por integrantes do governo, do qual, segundo ele, não estariam sendo deduzidos as quantias pagas a título de adiantamento para o vice-governador, Paulo Octávio; o secretário de Ordem Pública, Roberto Giffoni e o secretário de Planejamento, Ricardo Pena.

Marcelo Carvalho – ex-diretor do grupo empresarial Paulo Octávio. Segundo Barbosa, Carvalho foi diversas vezes ao seu escritório a fim de recolher o dinheiro arrecadado das empresas de informática, cujo percentual da equipe de Paulo Octávio era de 30%. “Marcelo foi um dos responsáveis pela distribuição dos valores arrecadados para pagamento dos deputados distritais da base do governo por conta da aprovação do Plano Diretor de Ordenamento Territorial do DF, arrecadado entre empresas que se beneficiaram da aprovação do plano”, afirma Barbosa em depoimento ao MPDFT.

Nerci Soares Bussamra – diretora comercial da Uni Repro Serviços Tecnológicos, foi gravada quando entregava a Barbosa uma sacola com dinheiro. No vídeo, Nerci acusa o PPS de chantageá-la e cobrar propina para manter um contrato da Secretaria de Saúde, comandada pelo deputado Augusto Carvalho, filiado ao partido. Ainda segundo o diálogo gravado, parte do dinheiro teria sido destinada ao presidente da legenda, o ex-deputado Roberto Freire (SP), que já anunciou a intenção de processar Nerci.

René Abujalski – citado como dono da empresa Nova Fase. Barbosa diz que Arruda o apresentou a Abujalski antes mesmo de ter sido eleito governador, com a recomendação de que a Nova Fase fosse contratada para prestar serviços à Secretaria de Previdência Social. Dois contratos teriam sido assinados, totalizando a soma de R$ 27 milhões. Em seu depoimento, Barbosa diz suspeitar que Arruda seja o verdadeiro dono da Nova Fase.

Empresas investigadas

O governo do Distrito Federal contratou por quase R$ 300 milhões, sem licitação, uma empresa suspeita de participar do esquema de arrecadação paralela do qual Arruda é acusado de fazer parte. Com recursos federais do Fundeb (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica), a secretaria de Educação do DF terceirizou, na prática, o ensino científico das escolas públicas para a Sangari do Brasil (vinculada ao Instituto Sangari), citada no inquérito da Operação Caixa de Pandora como financiadora do suposto caixa dois de Arruda.

Segundo o ex-secretário de Relações Institucionais, Durval Barbosa, a empresa se aproximou de Arruda por meio de Renato Malcotti, lobista e amigo do governador. Em depoimento, Durval disse ter sido apresentado ao empresário Ben Sangari em 2006, quando ouviu a promessa de um "retorno compensador" para a campanha de Arruda se sua empresa fosse contratada pelo GDF após a posse.

Posteriormente, em um dos vídeos gravados por Durval quando já integrava o governo Arruda, Malcotti afirma que atua no governo para "ajudar" a Sangari. Em conversa sobre a cobrança de propina de fornecedoras do GDF, Durval questiona Malcotti:

— Como é que tá lá a operacionalização das outras coisas dentro da Saúde? O que você está operando? Malcotti nega atuação na Saúde, mas afirma:

— A única que ajudo é a Sangari.

Após a posse de Arruda, a secretaria de Educação começou a preparar a contratação do Instituto Sangari, com licitação. O procedimento foi questionado pela Procuradoria Geral do Distrito Federal, devido a sua obscuridade e a indícios de direcionamento.

Outra empresa pouco citada pela mídia é a Politec, empresa de informática, que doou R$ 250 mil a campanha de Arruda, em 2006. A empresa alega ter desembolsado legalmente R$ 580 mil, somando a doações à outros políticos.

A Politec também doou dinheiro a campanha de outros políticos brasilienses: ao deputado federal Geraldo Magela (R$ 30 mil) e ao ex-deputado distrital Junior Brunelli (R$ 50 mil). O ex-governador do Estado de Goiás, Alcides Rodrigues Filho recebeu doação de R$ 200 mil da empresa e o ex-senador do Goiás, Marconi Perillo recebeu R$ 50 mil. Essas doações ocorreram em 2006.

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