Opinião: As Olimpíadas e o jogo sujo dos monopólios

Publicado em: 30/07/2012

Wilson da Costa Bueno no Portal Imprensa – Quem está acostumado com os interesses mesquinhos que movem os monopólios, sejam eles em qualquer setor, pode imaginar o que deve estar sentindo a Globo neste momento com a perda da exclusividade para a Record na transmissão dos Jogos Olímpicos de Londres. Afinal de contas, ao longo do tempo, TV Big Brother tem feito valer o seu poder econômico e subjugado sem dó  os adversários, muitas vezes levando de roldão também o cidadão brasileiro que se submete, sem defesa, aos seus caprichos.

Você deve se lembrar  do “seqüestro” televisivo do Guga, nosso maior tenista, que um dia deixou de brilhar nas manhãs dos fins de semana na TV Manchete (TV aberta) e foi empurrado pela Globo para a TV por assinatura, privando os menos abonados de assisti-lo ao vivo. A emissora do Jardim Botânico não podia tolerar aquelas partidas memoráveis que prendiam por horas a atenção dos brasileiros e lhes roubavam a audiência. Pronto, o Guga sumiu, assim como somem os grandes clubes e os grandes jogos, de todos os esportes, escondidos no canal Sport TV e, no Première, ainda mais inacessíveis aos que não têm dinheiro. 

A grana é quem manda nessas horas e, se o brasileiro quiser ver o Paulista, o Brasileirão (séries A e B), o time do Bernardinho, as nossas ginastas, o vôlei e até a seleção canarinho que trate de sintonizar a Globo.

Mas como monopólio tem sempre seus desafetos, era de se esperar que a Globo um dia acabaria sendo passada para trás e foi exatamente o que aconteceu com perda para a Record do último Pan e da atual Olimpíadas. 

Em função disso, a cobertura dos jogos esta ano será, na Globo, apenas residual, mesmo porque (e aí a sua postura não difere da das demais emissoras de TV) ela não irá levantar a bola de uma concorrente com quem, volta e meia, se envolve em duros embates. Não faz tanto tempo assim, a Globo deixou de noticiar o Campeonato Mundial de Clubes da Fifa realizado no Brasil, aquele em que o Timão faturou o caneco, simplesmente porque era exclusividade da Bandeirantes. Isso mesmo, ela boicotou o torneio só porque não era ela quem estava transmitindo.  Interesse público? Ora, a Globo e os monopólios televisivos não ligam para isso.

Todo mundo sabe como agem a Globo (lembra da campanha das diretas, do debate do Lula com o Collor, da manipulação dos resultados para prejudicar o Brizola?) e suas concorrentes quando estão em jogo seus privilégios. E como, cinicamente, invocam a liberdade de expressão para continuarem veiculando anúncios e promovendo pessoas ou corporações que, necessariamente, não estão comprometidos com a ética, a transparência e o interesse da população. 

Ninguém está, com esta perspectiva crítica, postulando aqui qualquer tipo de censura ou impedimento ao trabalho das emissoras de TV, a Globo em particular, embora elas, por razões políticas, ideológicas e sobretudo comerciais estejam dispostas a qualquer coisa (linchamentos morais, exploração da miséria humana, relações espúrias com autoridades, espetáculos grotescos de exploração da fé dos cidadãos, sonegação de informações etc) para continuarem reinando sem controle.
Embora em princípio estejamos  assistindo de camarote a esta briga entre a Globo e a Record, sabemos que, no fundo,. ela diz respeito e afeta a todos nós. Se dependesse da nossa vontade, certas transmissões (como a dos jogos da seleção brasileira e dos torneios de grande destaque) deveriam, obrigatoriamente, ser compartilhadas pelas várias emissoras. Constitui abuso inominável comprar jogos de futebol ou de outros esportes e não transmiti-los, privando os brasileiros de acompanhá-los pela TV. Se os legisladores fossem mais razoáveis e não continuassem comendo na mão dos monopólios, já teriam mudado a regra do jogo, o que seria fácil. Mesmo que uma empresa tenha exclusividade, deveria perdê-la, se não transmitisse os jogos ou espetáculos adquiridos. Simples, não?

Vamos raciocinar: você concordaria que uma empresa aérea tivesse a exclusividade de voar para uma cidade e decidisse cortar esta rota de vez, não permitindo que outra possa cobri-la? Você aceitaria que uma empresa tivesse o monopólio da telefonia em todo o País e decidisse quais as cidades poderiam estar conectadas com o sistema, impedindo outra empresa de realizar o serviço? Você aceitaria que o supermercado do seu bairro tivesse o monopólio da venda de produtos, não os fornecesse e proibisse outro estabelecimento de fazê-lo?

Está tudo errado e é preciso derrubar de vez esse monopólio. É mentira alegar que é assim em todo mundo, porque isso não acontece nos EUA,  nos países democráticos da  Europa etc, onde é proibido estabelecer impérios jornalísticos ou televisivos.

Queremos assistir aos jogos da seleção brasileira em inúmeros canais (será nossa sina permanecermos reféns do “Fora, Galvão”?), queremos ver espetáculos importantes, torneios importantes, na TV aberta, porque isso faz parte de uma postura cidadã. Chega de aturar esse processo de exclusão que alija os menos favorecidos para engordar os lucros de emissoras monopolísticas.

É necessário convocar as torcidas para exigir esse direito, mobilizar o cidadão brasileiro para que cobre cidadania de quem anda abusando do poder econômico e mantendo privilégios televisivos com a cumplicidade de governos e parlamentares. 

Em tempo: a posição aqui explicitada não está sendo financiada por outra emissora de TV, como talvez a emissora líder poderá insinuar, mesmo porque nossas TVs privadas têm uma cabecinha pra lá de egoísta e vivem apenas para defender seus privilégios. Todas elas, sem exceção, anseiam ser uma Globo no futuro e, se depender delas, os brasileiros continuarão a ver navios (jogos de futebol não!). As concorrentes teriam, a meu ver, a mesma postura da Globo, se estivessem na posição dela. Logo, a desconfiança é em relação a todas as grandes redes, embora esteja a Globo em foco nesse momento.

Não podemos ser ingênuos. Não é   porque a Globo nos pune que a gente vai reclamar para o bispo. Ah, não. Já pagamos dízimos demais. 

Defendemos a concorrência na mídia, a liberdade de transmissão. Estamos fartos dos caciques que dominam os meios de comunicação. O povo não quer só comida, quer futebol, tênis, vôlei, ginástica olímpica, democracia midiática  etc. 

Os monopólios televisivos precisam ser expurgados e a democratização da comunicação instaurada definitivamente. 

Deixem chiar os dirigentes da mídia que evocam liberdade de expressão e atentam contra ela a todo  momento.  Exclusividades televisivas que prejudicam os cidadãos merecem o nosso repúdio. Esta na hora de eliminar o jogo sujo na televisão.


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