Nesta quinta (19), em reunião do Sindicato dos Médicos do Distrito Federal (SindMédico-DF) com os gestores de unidades de saúde do DF ficou definido que secretário de Saúde, Rafael Barbosa, será convidado pelo SindMédico para dar explicação sobre as questões que estão dificultando e até inviabilizando a assistência de saúde à população brasiliense. A proposta foi aprovada por unanimidade pelos 89 gestores presentes, entre diretores de hospitais, gerentes de centros de saúde, chefes de serviços, de clínicas e de equipes.
O encontro com os gestores foi convocado para informar o início da Blitzen Sindical, que é um programa de visitas surpresa às unidades de saúde, que o SindMédico-DF deve iniciar nesta segunda (23). Foram abordados problemas com prontuários eletrônicos, suspensões maciças na concessão de licença prêmio e abonos e falhas nas escalas de plantão em função do corte indiscriminado das horas extras. Situações relatadas pelos participantes revelaram um quadro generalizado de agravamento no caos da rede pública de Saúde do DF. Para os gestores, medidas de governo aumentam os riscos para médicos e pacientes.
Problemas no sistema – Em relação aos prontuários, ainda incipiente na maioria das unidades de saúde, a indisponibilidade de computadores, falhas de sistema e falta de formulários padronizados têm forçado médicos a usarem qualquer papel disponível para o registro dos atendimentos, o que causa um problema no arquivamento do registro improvisado. Na reunião, foi relatado que, no Hospital de Base, clínicas estão sendo obrigadas a manter os registros de prontuário improvisados, porque o arquivamento adequado não tem sido possível.
Isso gera uma dificuldade de acesso aos prontuários escritos, que tem provocado problemas no atendimento a pacientes cancerosos, uma vez que os médicos chegam a ficar sem informação para indicar tratamento radioterápico ou cirurgia. Em Samambaia, regional onde o sistema existe há mais tempo e é menos instável, não há mais assistência técnica disponível. Houve relato de que há casos de pacientes com dois prontuários no sistema, o que pode induzir a erro na assistência.
Horas Extra – Na reunião, foi discutido ainda que uma situação grave se estabeleceu pelo corte indiscriminado das horas extras, o que fez com que leitos sejam fechados, cirurgias suspensas, serviços cortados, até mesmo em UTI neonatal. Segundo os gestores, eles têm feito malabarismos para manter ao menos as áreas críticas em funcionamento. Para eles, as unidades em que o corte foi linear a situação é ainda pior.
Durante a reunião, foi apresentada ainda uma situação ocorrida no Hospital Regional do Paranoá (HRPa), onde um paciente enfartado morreu na porta da unidade de saúde e, segundo os gestores, teria sido evitada se o serviço de classificação de risco não tivesse sido suspenso pela falta de pessoal.
Falta de médicos – Outro problema discutido foi a falta de médicos na rede pública do DF, que segundo os gestores, chega a 4 mil profissionais, o que obriga os médicos a aumentar a carga horária, para manter o sistema funcionando. O presidente do SindMédico-DF, Gutemberg Fialho lembra que muitas vezes isso ocorre independente do desejo do profissional.
Fialho lembra ainda que o corte indiscriminado das horas extras estaria agravando o problema. “Não podemos aceitar que a responsabilidade por essas falhas administrativas recaiam sobre os médicos, que podem ser responsabilizados em processos éticos e até mesmo criminais pelas mortes que estão ocorrendo por falta de assistência, quando na verdade a responsabilidade é única e exclusiva da gestão. E, se persistir o absurdo, elas vão continuar a ocorrer”, lamenta Fialho.