No Brasil de Dilma uma insossa troca de ministros, na Argentina de Cristina tambores de guerra com Reino Unido pelas Malvinas

Publicado em: 21/01/2012

Do Bahia em Pauta por Vitor Hugo Soares – Pelo andar da carruagem e primeiras indicações confirmadas – Aloizio Mercadante no lugar de Haddad (Educação) e Raupp no lugar de Aloizio (Ciência e Tecnologia), a reforma ministerial cantada em prosa e verso para acontecer antes do Carnaval e dar identidade própria ao governo Dilma, parece se dissolver no ar, prestes a redundar em frustração.

Até o ministro das Cidades, Mario Negromonte, um campeão nacional de escândalos e de quem se dizia bastar um sopro para desmoronar, anda cheio de gás e todo prosa. Falando ao repórter Gerson Camarotti, de O Globo, o ministro do PP da Bahia – aliado do governador petista Jaques Wagner – disse estar mais sólido em seu posto que as pirâmides do Egito. Nem pensa em sair tão cedo.

É muito provável que tudo isso não passe de lorota e pose de político em desespero. Ou, quem sabe, blefe de jogador aferrado que arrisca a última cartada. Mas se de fato Negromonte seguir inamovível, e passar incólume pelas mudanças em curso, será difícil negar que a atual reforma da presidente Dilma vai repetir um daqueles fenômenos tão comuns na história da política e do poder no Brasil, sintetizado na frase emblemática: ”A montanha pariu um rato”.

Enquanto segue, meio desordenada e trôpega, a carruagem da reforma ministerial em Brasilia, aqui vai uma dica: melhor (jornalisticamente falando) é não espiar tanto apenas ao que acontece debaixo dos edredons do BBB 12.
É bom, para evitar surpresas desagradáveis, começar a olhar com um pouco mais de atenção para os lados. Ou melhor, para as águas revoltas do Atlântico Sul, que nestes últimos dias tem mexido particularmente com os nervos da Argentina e Reino Unido, mas começa a espalhar fagulhas e preocupações, também, pela América Latina, em especial a banda do Mercosul, sempre explosiva e de pavio curto em temas com apelos sentimentais e nacionalistas.

Parece ser bem o caso deste estranho recrudescimento do conflito pela posse do arquipélago das Malvinas. Ou Falklands, como chamam os britânicos. Uma questão que parece talhada, por encomenda, para um tempo de sérias dificuldades econômicas (principalmente), mas também políticas. Em casos assim, a receita tem sido geralmente a de desviar o foco de atenção da sociedade e mexer com sentimentos patrióticos populares, mesmo que isso geralmente resulte em conflitos sangrentos e imponderáveis.

Com a presidente Cristina Kirchner afastada temporariamente da Casa Rosada, em recuperação da barbeiragem médica de que foi vitima há poucos dias – teve extirpada a tireóide em um hospital de Buenos Aires a propósito de tratar um câncer que felizmente não se confirmou nos exames posteriores à cirurgia – o primeiro ministro do Reino Unido, David Cameron, aprovou, em seu Parlamento às margens do Tâmisa, o aumento da presença militar britânica nas Malvinas.

Alheio aos fortes protestos partidos de Buenos Aires, à beira do Rio da Prata, e de países do Mercosul, na recente cúpula realizada no Uruguai, Cameron recebeu carta branca para executar planos de contingência destinados a aumentar a presença militar nas Malvinas, a raiz da tensão crescente entre britânicos e argentinos pela soberania do arquipélago.

Além disso, usou o argumento de segurança para a chegada, ao arquipélago em fevereiro, do príncipe Williams, filho mais velho de Diana e Charles. The Times adianta que a visita real será em fevereiro próximo e durará até o meio de março, semanas antes que se cumpra o 30º aniversário da Guerra das Malvinas, declarada pela ditadura militar que vigorava na Argentina.

O acreditado e bem informado jornal inglês revelou que Londres tem planos para desembarcar rapidamente efetivos militares nas Malvinas (ou Falklands), através da Ilha de Ascension, no Oceano Atlântico, segundo indicam fontes citadas pelo diário londrino.

Ainda na terça-feira o primeiro-ministro britânico jogou mais pólvora no fogo. Convocou uma reunião do Conselho Nacional de Segurança para tratar do caso e aproveitou para acusar a Argentina de “colonialismo” por reclamar a soberania das Malvinas, localizada a 400 milhas marinha do país sul-americano.

“Chama a atenção o fato de que a Grã-Bretanha fale de colonialismo, quando é um país sinônimo de colonialismo”, reagiu quinta-feira o chanceler argentino Héctor Timerman, em declarações distribuídas pela agencia estatal Télam, de El Salvador, onde o diplomata completava um giro pela América Central.

Vale lembrar: Desde 1833 o Reino Unido ocupa as Malvinas localizadas a 14 mil km de seu território, salvo um brevíssimo período que resultou em uma guerra de 74 dias, que deixou 649 argentinos e 255 britânicos mortos e terminou com a rendição da Argentina. Desta vez, em lugar dos mísseis e fuzis, o chanceler Timerman exorta a que o Reino Unido “levante o telefone do gancho e chame o secretário geral da ONU, Ban Ki Moon, “que a cada ano renova, em sua resolução, o chamado a que ambos os países se sentem e comecem a negociar”.

Há 30 anos, quando no começo da Semana Santa de 1982 se travaram os primeiros combates da Guerra das Malvinas de triste memória – principalmente para a nação e o povo argentino – a ONU e o resto do mundo também apelavam por diplomacia. Inutilmente.

Espera-se que desta vez, em tempo de democracia, haja mais bom senso dos dois lados. A conferir.

Vitor Hugo Soares é jornalista e Editor do Bahia em Pauta. E-mail:vitor_soares1@terra.com.br

Foto: Roberto Stuckert Filho/Agência Brasil

Artigos relacionados