Por Dirce Meire Neves – Há trinta anos, em 19 de janeiro de 1982 calava-se a voz incomparável de Elis Regina. Não para sempre, graças à tecnologia que imortalizou a voz e a interpretação singular em vídeos e áudios.
Eu morava no interior da Bahia, numa pequena cidade da Chapada Diamantina e me lembro daquela manhã de terça feira e o rádio era o único meio de comunicação em tempo real de que dispúnhamos na cidade. Eu ouvia a rádio Globo AM quando fiquei paralisada com o que disse o locutor. Foi com a voz embargada que ele deu a fatídica notícia. Elis Regina havia morrido aos 36 anos. O Laudo Médico apontava complicações em decorrência da mistura entre álcool e cocaína em excesso.
Custei a crer. Eu idolatrava Elis e os ídolos não podem morrer. Perguntava-me atônita como ficariam meus dias sem a voz privilegiada, a afinação e a perfeição rítmica dela? Quem iria, daí para diante, tornar conhecidos compositores geniais como João Bosco, Aldir Blanc, Ivan Lins? Saí de casa andando como que em piloto automático, em busca de outras pessoas que, assim como eu, eram fãs de Elis, tentando compartilhar a dor e a incredulidade.
Passado o primeiro momento, sempre com o radinho de pilha ligado, me vieram à memória as imagens que ficaram para sempre gravadas na minha memória, quando vi a cantora no show Falso Brilhante, em 1976 no Teatro Bandeirantes em São Paulo. O que mais me deixou impressionada foi a capacidade que aquela mulher baixinha tinha de emocionar as pessoas e se agigantava no palco. A emoção que ela punha em suas interpretações era algo quase palpável e contagiava a plateia.
Fui diversas vezes do riso às lágrimas e ao fechar os olhos, quase posso ouvi-la cantar canções como Los Hermanos, Tatuagem e Fascinação. Fiquei extasiada com a irretocável interpretação de Gracias a La vida, de outra diva latino-americana, Violeta Parra. Me lembro ainda nitidamente de detalhes do cenário, do figurino e da presença de palco ímpar.
Hoje, trinta anos depois, mesmo num país sem memória como o nosso, o legado grandioso de Elis permanece tão vivo como se ela ainda estivesse entre nós. Elis é inimitável, inconfundível, inesquecível e só me ocorre uma coisa a dizer, mesmo parecendo piegas e clichê: Gracias a la vida de Elis Regina.
*Dirce Meire Neves é professora e estudante de Letras e Literatura.
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