A empresa petrolífera Chevron protagoniza aqui no Brasil um desastre ambiental sem precedentes. O cerne da questão não é exatamente o vazamento de óleo no Campo do Frade, na Bacia de Campos, mas os bastidores do “acidente”. De início, a empresa tentou esconder o vazamento, coisa impossível, já que a sujeira no mar era bastante visível.
O problema foi identificado dia 9 de novembro, mas a notícia vazou cinco dias depois. A Chevron procurou minimizar e chegou a atribuir o problema a uma falha geológica e informou que o vazamento era pequeno e já estava contido. Então satélites da NASA mostraram o tamanho do estrago, quando o problema já durava 13 dias.
A Agência Nacional do Petróleo (ANP) finalmente se pronunciou, dando conta de um vazamento que podia chegar a mais de 330 barris, ou mais de 50 mil litros de petróleo a cada 24 horas, em uma mancha de 163 quilômetros quadrados. Noi entanto, ao ver as imagens da NASA, o geógrafo John Amos, diretor do site SkyTruth, especializado em interpretar fotos de satélites com fins ambientais, concluiu que o derrame pode chegar a 3.738 barris por dia.
A perfuração foi feita pela empresa Transocean, a mesma que operava a plataforma da British Petroleum, que explodiu em abril de 2010, no Golfo do México, causando um dos maiores desastres ambientais da história recente, cuja dimensão total dos prejuízos materiais e ambientais são desconhecidos até hoje.
No Rio, o secretário estadual do Ambiente, Carlos Minc, acusou a Chevron de ter subestimado o vazamento. No dia 18 de novembro, Minc sobrevoou a área atingida pelo vazamento a bordo de um helicóptero da Marinha e constatou a tragédia. Ele afirmou que “a mancha é muito grande, está borbulhando e continua saindo óleo da fissura. Nós vimos três baleias jubarte a 300 metros, o que significa que a biodiversidade já está afetada.”
O presidente da subsidiária brasileira da Chevron, George Buck, pediu desculpas ao povo brasileiro, negou que a empresa tenha subestimado o tamanho do vazamento e disse que era muito difícil definir a real dimensão do problema. O exectuvo afirmou ainda que a empresa não tem uma estimativa sobre a quantidade de óleo que escapou e que a apuração do volume efetivamente vazado depende de cálculos complexos e vai levar alguns dias.
George Buck tem se enrolado cada dia mais ao tentar explicar o inexplicável. Ele já admitiu que a empresa editou imagens do local do vazamento de óleo na Bacia de Campos e que a medida não foi uma tentativa de ocultar os fatos, mas para facilitar o envio das informações à ANP. Nesse caso, a culpa não é da geologia, mas da banda larga. Quando a ANP suspendeu as atividades da Chevron, Buck apelou para o sentimentalismo. “Achamos que foi um julgamento precipitado (da ANP). Estamos magoados porque fomos chamados de negligentes após 100 anos de atuação no Brasil”, choramingou.
Um inquérito para apurar as causas e responsabilidades do acidente foi instaurada pela Polícia Federal, que afirmou que as investigações tentarão apurar se a Chevron estava fazendo perfurações abaixo do permitido pela concessão contratual firmada com o governo brasileiro e se a real intenção da companhia era chegar à camada pré-sal.
Ambientalistas fizeram manifestações na sede da empresa do Rio de Janeiro, e finalmente a grande imprensa denunciou, Chevron fez o Mea Culpa e o poder público parece estar tomando algum tipo desconhecido de providência. No entanto, a sensação é de que a empresa está num clima de lavar as mãos como quem relembra aquele jargão jocoso, antes de ecologia e sustentabilidade entrarem na moda: “Não tenho nada a ver. Isso é com Roberto Carlos e as Baleias”.