Info – O ativista Julian Assange, fundador do WikiLeaks, criticou duramente a corrupção de várias instituições ocidentais e a censura que, na sua avaliação, assola a imprensa. As declarações foram feitas hoje durante palestra do jornalista australiano na abertura do InfoTrends.
Assange afirmou que renomadas publicações como o jornal americano The New York Times e o inglês The Guardian mentem e ocultam dados de seus leitores para preservar boas relações com os governos de seus países.
O ativista afirmou, por exemplo, que o New York Times teve acesso a relatos de cidadãos iraquianos narrando como uma família inteira foi assassinada em uma ação do exército americano em Bagdá e recusou-se a publicar a história. O caso só tornou-se público quando a revista semanal alemã Der Spiegel revelou os assassinatos.
Segundo Assange, o Times recusou-se também a divulgar reportagem sobre um esquadrão da morte em ação no Afeganistão. O ativista afirmou que o governo americano mantém uma lista com o nome de duas mil pessoas que devem ser mortas no Afeganistão. “São execuções extrajudiciais. Ninguém tem acesso a esta lista. O governo afegão não sabe quem está na lista, os procurados não sabem que devem se entregar ou morrerão”, afirmou.
Além de censura, as publicações ocidentais distorcem informações, disse o ativista. Para sustentar a denúncia, Assange citou matérias do periódico inglês The Guardian, que teria publicado informações falsas a pedido de serviços de inteligência do governo americano. O ativista referia-se à reportagem, publicada no Guardian, afirmando de que o governo da Coréia do Norte enviou mísseis de longo alcance para o Irã.
“Estas falsas informações foram usadas para simular que o governo do Irã teria armas capazes de ameaçar a Europa”, disse Assange. Segundo o ativista, a Coréia do Norte nunca enviou mísseis ao Irã, mas apenas algumas peças para a construção de projéteis de baixa tecnologia.
Para o ativista, governos como o inglês e o americano se valem de parcerias com a mídia para disseminar o medo entre seus cidadãos e legitimar suas ações militares no mundo. “Quando as pessoas têm medo, elas aceitam coisas que não tolerariam em outras circunstâncias”, disse.
Assange disse ainda que a maior parte dos governos dos países ricos se beneficia da corrupção em nações pobres e, por isso, não se esforça em combatê-la. “O WikiLeaks identificou casos de corrupção em instituições da Bulgária e do Quênia, que foram abafados a pedido de governos ocidentais”, disse.
Segundo o ativista, isto ocorre porque as nações ricas têm interesse em receber o capital fruto da corrupção nas nações em desenvolvimento. “Esses recursos acabam depositados em bancos suíços e ingleses e ajudam a fortalecer a moeda dessas regiões”, argumentou.
A aliança entre governos, bancos e imprensa permitira, na opinião de Assange, perpetuar relações de corrupção e censura. “Enquanto as prisões tiram pessoas incômodas do caminho, os bancos asseguram que o dinheiro dos corruptos fique a salvo”, disse.
Ao falar de prisões, Assange lembrou que há, no momento, dois voluntários do WikiLeaks presos no mundo, suspeitos de espionagem, e lembrou sua própria condição de preso domiciliar. Assange vive no interior da Inglaterra, onde se defende em um processo de assédio sexual movido pela promotoria da Suécia.
“As acusações contra mim são totalmente falsas. As denúncias contra outros membros do WikiLeaks também não são verdadeiras. Somos alvo do governo americano por termos a coragem de denunciar suas práticas”, disse.
O ativista conversou com a plateia do InfoTrends por meio de teleconferência, já que está impedido de sair da Inglaterra. “Eu lamento muito não estar aí com vocês. Tenho um sonho antigo de visitar o Brasil, o país que mais contribui, em número de pessoas, com voluntários para o WikiLeaks”, disse.
Ao fim de sua palestra, Assange respondeu às perguntas feitas pela plateia do InfoTrends e pelos seguidores do perfil @_INFO no Twitter. Questionado sobre o uso das redes sociais em protestos pelo mundo, voltou a centrar críticas contra a imprensa.
“Aqui na Inglaterra, a BBC criminalizou o uso das redes sociais que permitiram aos jovens protestar contra a violência policial. A BBC tratou todo o movimento como baderna e não entrevistou nenhum manifestante”, disse.
O ativista disse ainda que articulou com parceiros locais na Tunísia e no Egito a tradução de documentos descobertos pelo WikiLeaks para o árabe e usou o Twitter para disseminar denúncias contra os governantes locais. “As redes sociais foram fundamentais para levar a verdade para as populações do norte da África. Com estas informações, elas tiveram força para se mobilizar e derrubar ditaduras corruptas”, disse.