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A revolta de Planaltina

Publicado em: 21/08/2011

Por Conceição Freitas – Revolta popular destruiu três pontes que ligavam Formosa a Planaltina e ao Plano Piloto. O protesto aconteceu em outubro de 1962. A razão é a mesma que até hoje maltrata diariamente milhares de brasilienses, a penúria do transporte público na capital do país. Relata o Correio Braziliense: “O movimento tem a sua causa no fato de as companhias Pedatela e Expresso Planalto não virem atendendo às necessidades mínimas de centenas de funcionários públicos ou operários que, cotidianamente, têm de deslocar-se dali para o Plano Piloto.”

Mais de mil pessoas destruíram a pontes à entrada de Planaltina, a ponte do Funchal e a da Lagoa, informa o jornal. Na foto, parte de uma ponte de madeira está dentro de um córrego. Os moradores da cidade centenária reclamavam que os ônibus vindos de Formosa em direção ao Plano Piloto estavam sempre cheios, “velhos e com mau aspecto sanitário”. Protestavam ainda contra o preço da passagem, 280 cruzeiros, o mesmo cobrado a quem vinha de Formosa.

Os manifestantes protestavam também contra o abandono a que Planaltina foi condenada, mesmo tendo cedido suas terras para o Plano Piloto e sua precária infraestrutura para as obras da nova capital. “Não há água tratada nem encanada, não há luz, nem assistência médico-hospitalar nem telefone”, dizia a reportagem.

Depois de destruírem as pontes, os revoltosos seguiram para o gabinete do subprefeito da cidade, Waldemar de Lucas Leal, para exigir providências. O subprefeito respondeu como um subprefeito: disse que “manteria imediatos entendimentos com as autoridades municipais no que tange à solução do problema do transporte coletivo”. Prometeu procurar a hoje extinta TCB para que a empresa criasse uma linha de ônibus direto de Planaltina para o Plano Piloto, a preços reduzidos.

O representante dos insurgentes disse que a população esperava a imediata reconstrução das pontes destruídas e apelou ao subprefeito “no sentido de que adote, com urgência, as providências que visem humanizar a vida nesta cidade-satélite.”

Passados quase 50 anos, a repórter Adriana Medeiros faz um relato agudo e objetivo do cotidiano dos usuários de transporte coletivo na cidade que nasceu para ser melhor que as outras. Mostra o oligopólio que há décadas comanda, impune e alegremente, o serviço, e lança luz sobre a caixa preta do lucrativo negócio de vender o direito de ir e vir a preços extorsivos e em condições muito mais que precárias. Tudo sob a cumplicidade dos governos das últimas décadas.

A construção da utopia não atraiu apenas os sonhadores, os que queriam mudar o mundo. Trouxe para Brasília uma horda de oportunistas que encheram as burras usurpando o dinheiro público, prestando serviços de péssima qualidade e que continuam a agir com a mesma desfarçatez daquele começo dos anos 1960. Só as pontes mudaram, já não são mais de madeira.

 

Correio Braziliense

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