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Conspiração em Miami

Publicado em: 16/01/2023

Ana Alakija
Ana Alakija

De Boston –  A democracia brasileira ainda corre alto risco. De ontem para hoje, as mídias sociais (elas aparecem novamente como epicentro do golpe e contra o golpe, já que o ministro da Justiça Flávio Dino também usou a mídia social para contê-lo), foram ‘assaltadas’ por uma torrente de mensagens e ‘recados’ à sociedade, sob a forma de ameça  e intimidação das pessoas  divagando sobre o que “vai acontecer nos próximos dias”.

 

Fake news, agressões às correntes autoridades do Executivo e Judiciário, apologia ao golpe de 1964, à ditadura militar e seus artífices, a figuras ímpares da história brasileira, como João Goulart, Getúlio Vargas,  ao AI-5, à matança do Araguaia, à dissolução do Judiciário  e a um Congresso submisso, à existência do DOPS, à prisão e morte de jornalistas,  à visão de uma esquerda única e comunista no país, ao lema Deus-Pátria-Familia,  ao nazismo da Alemanha, ao fascismo da Itália, ao muro de Berlin, à execração de qualquer modelo que não seja o totalitário de direita, à intolerância, ao uso da força e violência, etc estiveram na pauta de posts, memes, textos.

 

Mas a temperatura  mais alta para acreditar que uma nova tentativa de golpe à democracia está sendo articulada foi a ída a Miami do ex vice-presidente  da República para Miami, general Hamilton Mourão, e do senador Ciro Nogueira (PP) e ex-ministro durante o governo de Jair Bolsonaro, a fim de encontrarem o ex-presidente da República. Jair Bolsonaro está em Orlando desde o dia 30 de dezembro e pode ser preso em seu retorno ao Brasil por suspeitas de tentativa do golpe ocorrida no dia 8 de janeiro no Brasil.

 

Mas não somente eles estão lá reunidos. A informação que circula é que nesse momento outros elementos estratégicos se encontram na Flórida, a exemplo de: aquele que o inquérito das fake news embora ainda inconcluso aponta com todos os indícios como chefe da organização criminosa de fake news que funcionava ao lado do gabinete do presidência da República–– o vereador pelo Rio de Janeiro Carlos Eduardo Bolsonaro, e também filho do ex-presidente.

 

Voaram ainda para Miami, o ex-ministro da Justiça de Bolsonaro, Sergio Mouro (UB), eleito senador nas eleiçoes de 2022 e responsável pelo julgamento, condenação sem provas  e prisão do atual presidente eleito Luís Inácio Lula da Silva em 2018;  e o ex-procurador do Ministério Público Federal, Deltan Dallagnol, deputado federal (PODE) eleito e que coordenou a força-tarefa da operação Lava Jato agindo em conluio com Sérgio Moro para incriminar o presdente Lula,  eliminando ele das eleições presidenciais que deram vitória a Bolsonaro em 2018.

 

O pastor da igreja evangélica Sila Malafaia também teria viajado para Miami, pelo visto ‘fugido’.  No início da semana passada, ele defendeu os invasores do Congresso Nacional, do Supremo Tribunal Federal e do Palácio do Planalto durante a tentativa de golpe do último dia 8, em Brasilia. O pastor ainda atacou o ministro do STF Alexandre de Moraes, por ter ordenado a prisão dos envolvidos no episódio, apoiadores de Jair Bolsonaro. Várias vozes da democracia bradaram nas mídias sociais por sua prisão.

 

Há informações de que estaria lá também o blogueiro Allan dos Santos, que teria ‘fugido’ do Brasil há quase 2 anos. Ele tem ordem de prisão e extradição decretada desde 2021 pelo ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, por conta do inquérito de fake news. Como visto, uma carga essencialmente nociva para causar danos suficientes à democracia.

 

Especialmente se associarmos os episódios anteriores envolvendo o também ex-ministro da Justiça de Bolsonaro,  Anderson  Torres. Ele viajou para Miami um ou dois dias antes da quebradeira dos prédios dos três poderes em Brasília, deixando a capital descoberta diante da anunciada “invasão”. Como secretário de Segurança do governador Ibaneis Rocha, ele havia participado de uma reunião de emergência convocada pelo ministro da Justiça de Lula, Flávio Dino, junto com o Ministro da Defesa José Múcio para reforçarem a segurança da cidade. Ganhou a prisão de presente no seu retorno ao Brasil. O governador Ibaneis Rocha foi afastado por 90 dias pelo ministro do Suprema Corte, Alexandre de Moraes.

 

A nova tentativa golpista, que agora tem Miami estampadamente como geocentro da conspiração  ( só não vê quem é cego),  a urgir uma ação ultimata  dos poderes constituídos e do serviço de imigração norte-americano, parece ter dois deadlines: Um, o dia 30 de janeiro, quando vence o visto de estadia do presidente Jair Bolsonaro nos Estados Unidos. Na verdade o visto já expirou, considerando que ele entrou no país como chefe de estado e perdeu essa condição dois dias depois com a posse do novo presidente Lula. As vozes democráticas de brasileiros residentes nos Estados Unidos e do Congresso norte-americano querem a sua imediata deportação. Porque acreditam que Jair Bolsonoro, associado com Donald Trump,  são a representação de um cancer social.

 

O outro prazo  é talvez uma possibilidade remota, mas que não pode ser descartada. Pode ser qualquer data para impedir a vinda do presidente atual eleito democraticamente, Luís Inácio Lula da Silva, aos Estados Unidos, em visita formal ao presidente Joe Biden,  a convite do mesmo. Biden não pode comparecer a posse de Lula, mas enviou representantes. O apoio de Biden à democracia brasileira é incondicional, assim como o do Congresso norte-americano, que tem dado demonstração de repudiar qualquer interrupção política no Brasil em outro sentido.

 

Ana Alakija é jornalista com Mestrado em História pela Salem State University, Massachusetts

 

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