"Eu não sou mongolóide". O protesto de uma personagem com síndrome de Down, na peça "Meu precioso cabaré", encenada na manhã desta terça-feira (24) no plenário da Câmara Legislativa, foi a mensagem, emocionada, que marcou a sessão solene promovida pelo deputado Robério Negreiros (PMDB), em homenagem ao Dia Internacional da Síndrome de Down (21/03). Dezenas de pais, pessoas com Down e representantes de entidades ligadas àquela questão social participaram do evento.
"Neste ano, gostaria de focar essa comemoração na luta pela inserção das pessoas com síndrome de Down na questão do emprego, pois ainda enfrentamos muito preconceito e barreiras para garantir a entrada dessas pessoas no mercado de trabalho", ressaltou Negreiros, lamentando ainda as dificuldades de qualificação profissional para aquele segmento. Ele anunciou que vai interceder junto ao governo local para que, tão logo a crise financeira seja sanada, sejam criadas vagas para contratação de pessoas com deficiência.
Negreiros enfatizou que, embora a lei federal nº 823/99 determine um percentual mínimo de 2% a 5% para contratação de pessoas com deficiência, essa cota não vem sendo respeitada pelas empresas. "Infelizmente, existe um preconceito dentro do preconceito, pois os empregadores optam apenas por pessoas com deficiência física, preterindo as que têm deficiência intelectual", observou. O distrital lembrou que as pessoas com Down demonstram que têm capacidade para executar as mais variadas tarefas, com eficiência eventualmente superior a outros empregados.
O coordenador de Promoção de Direitos de Pessoas com Deficiência do Distrito Federal (Promodef), Paulo Beck, defendeu a necessidade de reflexão por parte da sociedade para o cumprimento integral dos direitos das pessoas com síndrome de Down. "Até hoje temos optado pelo diálogo em defesa da inclusão, mas se preciso for recorreremos às sanções", afirmou, ao comentar as dificuldades para a inserção profissional dos deficientes.
O defensor público geral do DF, Ricardo Batista Sousa, manifestou também preocupação com a necessidade de adoção de medidas concretas para "a busca da igualdade, com respeito à diversidade". Afirmou ainda que essa tem sido a linha de atuação da Defensoria no DF. "A luta pela inserção das pessoas com síndrome de Down é uma das nossas bandeiras prioritárias", exortou.
"Tive que enfrentar uma luta diária contra o preconceito. Mas venci a discriminação e consegui concluir o curso de fotografia e me tornar uma fotógrafa profissional. Com o meu esforço, estou trabalhando no Conselho Nacional de Políticas sobre Drogas", comentou a fotógrafa Jéssica Figueiredo, 23 anos, portadora da síndrome de Down, defendendo mais apoio do poder público para a realização de contratações como a dela.