Um publicitário de Brasília encontrou uma forma bem humorada de cobrar dívidas. Em uma página criada no Facebook (https://www.facebook.com/AGranaQueMeDevem?ref=ts&fref=ts), ele posta o que poderia comprar com o dinheiro que não recebeu. “Inadimplência, falta de consideração com o próximo, acordos não cumpridos…Essa página mostra a triste saga de um jovem morador de Brasília, que luta para receber uma graninha (pouca, mas que faz falta) que devem a ele”, define o diretor de arte Felipe Ferreira da Cunha.
Ele criou a página no Facebook para cobrar R$ 460 devidos por uma moça. A dívida era referente às despesas de hotel e passagens de uma viagem que ele fez com ela a Curitiba (PR). O combinado era que ela pagasse a fatura do cartão de crédito, mas, até hoje, nada de dinheiro. Ela até pagou uma parcela de R$ 100, mas não aplacou a criatividade do rapaz, que de forma bem humorada, explorou sua condição de ter levado um calote e usou a rede social para tirar um sarro e ainda tentar receber o restante dinheiro.
Felipe criou vários posts usando fotos que a moça postou nas redes sociais, lanches em cafeterias caras de Brasília, shows e produtos de beleza dizendo o que poderia fazer com o dinheiro. “Alô vocês que dizem a seus credores que não têm dinheiro para as dívidas, mas tomam capuccino todos os dias… Deus tá vendo essa zoeira”, postou.
Aproveitando a onda, Felipe até divulgou o álbum da própria banda. “Se você (assim como eu) não tem grana, aproveite que dá pra fazer o download de graça! É só entrar no site e baixar!”, disse.
Após várias desculpas da moça para não pagar a dívida, Felipe deu algumas dicas para ela, fazendo referência a points da classe média em Brasília. “Só eu achei que dá pra fazer uma venda de garagem bem da hora com esses óculos? Pik Nik, Deck Norte… fikdik”. Ele fez até promoção para a moça quitar a dívida, aproveitando a famosa “Black Friday”. “Black Friday ‘A Grana que me Devem!!!’ Só hoje você pode quitar a sua dívida com 30% de desconto!! Aproveite que com esse desconto ainda sobra um dinheirinho pra comprar um cappuccino! (:”, disse.
Em um dos posts, ele brinca com os lanches da moça, sempre em locais badalados e caros da capital federal. “O mundo está em crise, empresas estão falindo, bancos estão fechando suas portas… e a pobre classe média, por estar sofrendo com a crise e passando sérios problemas de inadimplência, é obrigada a comer na humilde Torteria de Lorenza. Que dó!”, disse.
Em outro ele diz que “é revoltante como o proletariado se alimenta mal. Se quem me deve mal consegue comprar uma refeição decente, o que dirá de pagar dívidas? Ainda bem que temos a academia a partir de R$49,90, porque né…”. Diz em outro que “é difícil saber o que é pior nessa novela. Se é dever quase 500 reais a uma pessoa, dizer que não tem grana e ficar ostentando rolê playboy gourmet no Instagram, ou se é ficar ostentando rolê playboy gourmet no Instagram com a grana do namorado. Como dizia Lobão: ‘A velha masturbação de p*u mole’”.
Humilhada – A moça pagou uma pequena parte e ele postou: “É com grande alegria que venho informar a todos as pessoas que seguem essa página que recebi uma parte (pouca, mas é algo) da graninha que me devem! Antes receber picado do que ficar sem nenhum, não é mesmo? Pois bem, junto com o comprovante de depósito, recebi um pedido para tirar a página do ar sob a alegação de que a pessoa estava se sentindo humilhada com os posts, e isso me fez refletir o seguinte: Em nenhum momento a página cita o nome de qualquer indivíduo. Todas as informações contidas nos screenshots foram devidamente camufladas para que ninguém pudesse ser identificado (da mesma forma que o fazem na televisão com aquele blur) e passasse qualquer tipo de situação vexatória”.
Além disso ele justificou que “o intuito da página é contar (com humor) a incansável busca pelos meus 460 reais. Quando a dívida for quitada, a página não terá mais sentido e será enviada para o limbo. E que venham os R$360 restantes! o/”.
Ele desabafou dizendo que “às vezes eu me pego pensando nessa situação que me encontro e penso: O que leva as pessoas a agirem dessa forma? Honestamente, fico chocado ao saber que existem pessoas com a habilidade de ser mau-caráter sem sofrer nenhum tipo de peso na consciência. Mas vamos ao que interessa. Não sei se vocês sabem, mas os produtos divulgados pela nossa querida amiga custam uma fortuna. E logo em seguida vocês podem ver o tipo de mensagem que eu recebo quando a cobro o que me deve. Como não ficar revoltado? Sou lesado e ainda tenho que ler esse tipo de ofensa?”
Em seguida, ele disse: “Isso porque eu nem comentei da carteira de motorista que ela está tirando (todos nós sabemos que hoje em dia tirar a CNH custa os olhos da cara). A minha vontade agora é de postar a foto dessa mau-caráter e divulgar para toda a internet. Ela chegou ao ponto de expor o pai, falando que ele iria me ligar pra explicar a triste situação financeira em que eles se encontram. É, amiga, dá pra ver que andam em crise. Croissants, capuccinos, rolês e cerveja são itens essenciais na vida de qualquer pessoa. As dívidas que fiquem pra depois. Estou estupefato com tamanha calhordagem. Me faltam palavras para descrever a minha ira.”
Um ano de dívida – Quando a dívida completou um ano ele comemorou: “Fica, vai ter bolo! Esse mês a dívida completa um ano, um ano de muito stress, descaso e falta de respeito. Eu havia parado de postar fotos por achar que o acordo seria cumprido e eu teria minha grana na data certa. O que acontece é que desde o dia 24 de outubro, estou esperando o pagamento da segunda parcela. Mas até agora, nada…Mas além disso, tenho que assisti-la a insultar a minha inteligência com esse drama barato de dificuldade financeira. Tão barato que a própria Maria do Bairro daria risadas. Imagina se soubessem que você anda dando calotes por aí… :x”
Ao final da saga, ele resolveu perdoar a dívida e plantar a sementinha do amor no coração. “Peço desculpas a todos que estavam me incentivando para entrar com um processo, uma surra e todos os outros lindos conselhos que ouvi, mas o destino dessa página está selado. A vida tem dessas coisas, Felipe. Os comedores de croissant comemora”.
