Uma ossada encontrada nesta quinta-feira (21) no setor residencial oeste de Planaltina, Distrito Federal pode ser do auxiliar administrativo Antônio Pereira, desaparecido há seis meses, após uma abordagem policial. A família de Antônio acredita que as roupas que estavam próximas à ossada sejam dele, porque, segundo o irmão, Silvestre Pereira de Araujo, as roupas são semelhantes às que Antonio usava no dia do desaparecimento.
Um laudo com o resultado do DNA da ossada deve ficar pronto em até 20 dias. A polícia chegou até a ossada por meio de denúncia anônima. Familiares de Araújo dizem que foram avisados da localização dos restos mortais e entraram em contato com a 31ª delegacia de polícia, responsável pela região, e com o IML.
Nesta sexta (22) a família de Antônio foi ao Instituto Médico Legal (IML) para verificar a ossada que pode ser do auxiliar. Silvestre afirmou que uma bermuda jeans e uma cueca verde que estavam junto aos ossos são muito parecidas com as que Antônio usava no dia do desaparecimento. A família procura exames da arcada dentária do auxiliar administrativo para que o reconhecimento seja mais rápido que o exame de DNA.
Investigações – A Polícia Militar do DF (PMDF) é investigada pelo desaparecimento. Pereira foi visto pela última vez pelos familiares no dia 26 de maio no bairro Arapoanga em Planaltina, região administrativa do DF. O último contato com a mãe foi depois do almoço do dia do sumiço. Em seguida, Antônio desceu a escada usando a melhor roupa que tinha e disse que iria assistir a um jogo de futebol na casa do irmão mais velho, a menos de um quilômetro do local.
Segundo a polícia, ele seguiu em direção oposta e foi parar em uma chácara que pertence ao sargento da PMDF Valdemiro Salustriano de Souza. O militar acusa Antônio de ter invadido a propriedade dele, mas não há registro deste caso em nenhuma delegacia da capital federal. “Ele parecia estar bêbado ou drogado, não me aparentava ser bandido. Por isso não registrei ocorrência”, disse. A polícia afirma ainda que uma das hipóteses é que Antônio tenha decidido sumir por conta própria, versão considerada impossível para a família.
Silvestre disse que moradores do Setor de Chácaras de Planaltina disseram ter visto Pereira sem camisa e com cortes nos braços enquanto caminhava por uma estrada de terra. “Foi uma operação mal sucedida e queremos resposta. Acreditamos sim que mataram meu irmão, que é alcoólatra e precisava tomar injeção de glicose com frequência no Hospital de Planaltina. Nunca mais achamos nenhum registro no nome dele em nenhum lugar do DF, ou seja, ele foi milagrosamente curado?”
Diante das denúncias, a Corregedoria da PMDF abriu investigação para ouvir os dois sargentos e os quatro cabos que participaram da abordagem.
O fato é que ele foi visto pela última vez na madrugada de 27 de maio, em uma abordagem policial e, segundo os policiais militares que atuaram no caso, o auxiliar de serviços gerais tinha sintomas de embriaguez e foi levado à 31ª delegacia de polícia, em Planaltina, após suspeita de ter entrado na chácara de um sargento da PM e liberado após verificação de ficha criminal. Não aceitou carona e saiu da delegacia a pé, sozinho, ainda conforme os PMs. Depois disso, nunca mais foi visto.
Demora – A família registrou o desaparecimento do auxiliar de serviços gerais no dia 27 de maio. O inquérito na 31ª delegacia de polícia, que inicialmente cuidou do caso, só foi aberto no dia 16 de julho. O caso foi para a Divisão de Repressão a Sequestro (DRS) no dia 5 de agosto. Em 26 de agosto, mais de 90 dias depois do desaparecimento, a Polícia Militar também instaurou inquérito para investigar se os dois sargentos e quatro cabos envolvidos na abordagem a Araújo cometeram algum tipo crime. O inquérito foi remetido à Justiça no dia 25 de outubro, com pedido de retorno e sem conclusão.
Para o delegado Leandro Ritt, da DRS, responsável pelo caso, a principal hipótese para o desaparecimento de Araújo era abandono do lar. Ele afirmou que, apesar de não ter tido "comportamento de ladrão" ao entrar na chácara do policial militar, Araújo é uma pessoa "desorientada" por causa do alcoolismo.
Desde o início da investigação, a Polícia Militar não se pronunciou sobre o que poderia ter acontecido com Antônio de Araújo. A demora para uma explicação sobre o ocorrido com o auxiliar de serviços gerais fez a família procurasse a Comissão de Direitos Humanos do Senado. No dia 5 de novembro, a presidente da comissão, senadora Ana Rita (PT-ES), se reuniu com representantes da segurança pública do Distrito Federal e familiares de Antônio de Araújo.
A parlamentar considerou que a investigação sobre o desaparecimento poderia ser mais ágil.“Na minha opinião, [a investigação], poderia ser mais ágil, mas eu não sei o quanto de demanda a Secretaria de Segurança, as polícias Civil e Militar têm aqui no DF. Eu penso que, em casos como esse, é preciso ter mais celeridade”, falou a senadora.
Além de celeridade, a presidente da Comissão de Direitos Humanos do Senado também pediu às autoridades responsáveis mais transparência, para que a família saiba o andamento das investigações. “Solicitamos que a família possa ter as informações necessárias e possíveis para que também haja tranquilidade por parte deles. É direito da família receber as informações. Nós pedimos isto: que a família seja informada e que haja celeridade nas investigações”, afirmou a senadora Ana Rita.
O advogado que representa a família de Araújo pediu apoio da Comissão de Direitos Humanos do Senado no dia 4 de outubro. Outros órgãos também foram acionados: Procuradoria-Geral do Distrito Federal, Secretaria de Direitos Humanos, Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos, Comissão de Anistia e Secretariado Nacional de Justiça, Comissão de Direitos Humanos da Câmara Legislativa e Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados.
Com informações do G1 e do R7.