Como tímida torcedora que sou do Esporte Clube Vitória, não poderia deixar de homenagear o pioneirismo do Esporte Clube Bahia, em implantar eleições diretas para escolha da sua nova diretoria pelo “voto livre e direto de seus associados”, depois de longa batalha para expulsar a diretoria corrupta de Marcelo Guimarães Filho. Também para dizer que não sou nenhuma torcedora apaixonada, e por isso não entendo essa paixão por futebol, mas entendo de paixão e respeito.
Parabéns ao Esporte Clube Bahêa, pelo pioneirismo, e ao jornalista José de Jesus Barreto (o Barretinho), por sua apaixonada crônica.
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Por José de Jesus Barreto – Nem perguntem por que sou Bahia. Cismo que nasci tricolor, numa casinha de viela à beira de uma horta, nos fundos da Igreja dos Mares, aparado por uma Mãe Preta. Lembro da primeira vez que sentei a bunda no cimento da Fonte Nova no ano de 1954, já de coração amarrado naquele time que tinha Oswaldo Baliza, Juvenal Amarijo, Lierte, Izaltino …
Ah, talvez não entendam bem, a questão não é torcer pelo Bahia, o diferencial é SER Bahia, algo bem maior, sentimento lá do fundo, que faz chorar. De tristeza e de felicidade. No 1 x 0 ou 7 x 2 contra o rival e na mera contemplação das duas estrelinhas no peito, no hino do professor Adroaldo cantado pela devotada massa. Sò emoção, sem explicações.
Sei bem que últimamente o time de vermelho azul e branco, em campo, tem me provocado mais angústias que venturas. Mas, juro, no 7 de setembro passado vivi emoções de uma grande conquista, tipo aquela, a maior de todas, quando derrubamos o magnífico Santos de Pelé e nos tornamos o Primeiro Campeão Brasileiro, em 1959. Foi num 29 de março, dia oficial da fundação da Cidade do São Salvador da Bahia, mãe amada.
Acordei cedo, dia luminoso, pus calça branca e aquela camisa tricolor, tão temida pelos adversários em tempos idos. Cheguei à Fonte Nova (não gosto do termo Arena), e a velha ladeira tricolorida parecia reviver antigos Bavís. O hino ressoando alto, gente de todas as origens e idades a subir e descer, filas nas bilheterias, nenhum tumulto, um clima de festa cívica, a consciência de que estávamos todos ali a fazer história.
Afinal, pela primeira vez, desde que foi fundado como time de futebol em janeiro de 1931, o E C Bahia elegeu seu presidente, sua diretoria pelo voto livre e direto de seus associados. Um exemplo. Mais uma vez pioneiro.
Organização, civilidade, encontros, alegria. Em 20 minutos já havia votado. Cruzei com cada um dos candidatos, eles fazendo o último pedido de votos cercados pelos seus eleitores, mas próximos um do outro, sem uma rusga, sem qualquer manifestação de desrespeito, como nunca havia visto em nenhuma outra eleição. Cumprimentei Rui Cordeiro,a quem pouco conheço. Também o Tillemont, radialista, e o Schmidt, meu candidato, eleito.
Vi jovens orgulhosos votando e emocionei-me com muitos outros mais idosos que eu, casais de mãos dadas, outros até com dificuldades em andar, cabeça erguida, peito pulsando, camisa tricolor prenhe de história sobre a pele e os olhares de esperança num novo Bahia. Decente.
Porque o Bahia, desde que foi fundado, é um time de futebol. E tem dono, pertence à sua torcida. Digo mais: O Bahia é uma nação, uma torcida que possui um time de futebol que é a sua paixão primeira. Pois que a diretoria eleita tenha consciência disso, respeite esse destino histórico. Que as mudanças fora de campo, almejadas e chanceladas pelo voto livre do torcedor, signifiquem novos rumos para a equipe dentro de campo.
O primeiro com eleições diretas
Queremos ver, de novo, um Bahia grande, temido em campo por seus adversários, retomando de fato a hegemonia do futebol baiano e nordestino, brigando de verdade por títulos em cada competição que dispute, jogando com amor à camisa, com gana de vencer, sempre. Nas arquibancadas, os jogadores podem confiar: ‘Ninguém nos vence em vibração!’
E que esse fato histórico, de repercussão nacional, sirva de exemplo. Para que torcedores de outros clubes exijam – como fizeram os tricolores – transparência e eleições livres, democráticas também em suas agremiações. Que se acabe com os desmandos e os ‘donos do poder’ nos clubes, nas federações, na CBF. O futebol no Brasil é cultura popular, é arte, é festa e manifestação. Que seja tratado com dignidade, com respeito ao público, e não seja tão somente um produto de extorsão do bolso e do sentimento de nossa gente, que gosta de bola, de bola bem jogada, um brinquedo de Deus.
Orgulho-me, agora mais ainda, de ser, de ter nascido Bahia nessa terra de todos os Santos, Orixás e Caboclos. O Bahia é o primeiro time com eleições diretas, livres, abertas e democráticas do futebol brasileiro. Somos do povo o clamor! Mais um, mais um Bahia ! É assim que se resume a sua história.
Publicado originalmente em http://www.nublog.com.br/