O secretário da Casa Civil do governo de Geraldo Alckmin (PSDB-SP), Edson Aparecido já vinha sendo citado por envolvimento com a Máfia do Asfalto e o empreiteiro Olívio Scamatti, preso na primeira quinzena de abril junto com outras 13 pessoas. O empreiteiro é suspeito de chefiar o esquema de corrupção investigado na Operação Fratelli, da Polícia Federal e pelo Ministério Público, que apura fraudes em licitações em 78 prefeituras do interior paulista. Em escuta autorizada pela justiça, Edson é citado com outros parlamentares.
Entre os citados em escutas da Operação Fratelli estão o pastor Marco Feliciano (PSC-SP), que na época ainda não era deputado, Otoniel Lima, hoje deputado federal pelo PRB e de um terceiro parlamentar que o nome não é citado, mas que pertenceria ao Partido Progressista, Vander Loubet (PT), Aldo Rebelo (PC do B-SP) e Cândido Vacarezza (PT). Todos negam envolvimento. Há denúncias de que a “Operação Fratelli” ficou por cinco anos sendo protelada pelo MP de São Paulo.
Segundo o MP e a PF, no esquema, os parlamentares eram responsáveis tanto na Câmara dos Deputados, em emendas ao Orçamento federal, como na Assembleia Legislativa, com emendas feitas por deputados estaduais.
Escutas – Pelo teor das conversas, o chefe da Casa Civil de Alckmin tenta ajudar acusados, mas é chamado de “jumento” pelos lobistas grampeados. Segundo as investigações, o dinheiro vinha de emendas parlamentares, e abastecia prefeituras do interior paulista. O esquema funcionava com a família Scamatti, dona da empreiteira DEMOP no centro, e com forte atuação do grupo no Departamento de Estradas e Rodagens (DER).
A Demop foi doadora da campanha de deputado de Edson Aparecido em 2006, em dois repasses legalizados ao tucano, um no valor de R$ 42,4 mil e outro de R$ 49,2 mil, no total de R$ 91,6 mil. É uma das construtoras mais requisitadas nas cidades do noroeste paulista, a maior parte delas administrada por tucanos, em algum momento do processo. Grande parte das licitações vencidas pela empresa tem alguma suspeita de fraude, de acordo com a investigação da Polícia Federal e do MP paulista.
Osvaldinho – Nas primeiras informações divulgadas sobre a Operação Fratelli, elo de ligação com as administrações municipais corruptas seria o assessor que trabalhou por oito anos com Aparecido, Osvaldo Ferreira Filho, chamado de Osvaldinho, que foi um dos presos no início do mês. Segundo os relatórios da investigação, Osvaldinho “manteria estreito contato com alta autoridade do governo do Estado, o que facilitaria a atuação do grupo apontado como criminoso para a liberação de recursos”.
Osvaldinho, que também foi assessor de Aparecido na Assembleia Legislativa e na Câmara dos Deputados, chegou a representar o parlamentar do PSDB quando este era deputado estadual, na primeira metade da década de 2000, em uma reunião do Comitê da Bacia Hidrográfica do Tietê-Batalha e na assinatura de um convênio da secretaria estadual de Habitação com o município de Votuporanga para a realização do asfaltamento de uma avenida local.
No inquérito, agentes da PF afirmam que Osvaldinho, hoje proprietário de uma empresa de logística, mantinha “contatos em prefeituras para tratar da montagem de licitações”. De acordo com as investigações, ele era o contato das empresas que seriam convidadas para concorrer nos certamos e apontava os “convênios cujas verbas seriam empregadas em licitações fraudadas”.
Aparecido – Apesar de não estar formalmente envolvido na investigação da PF, embora apareça nas escutas telefônicas, o próprio Aparecido também foi flagrado em escutas telefônicas realizadas com autorização judicial, trocando informações confidenciais com Olívio em 2010, quando exercia mandato de deputado federal pelo PSDB.
Em uma dessas conversas, o parlamentar tucano alerta ao dono da Demop sobre riscos em uma operação suspeita de fraude e falava de problemas em um asfaltamento realizado com materiais de baixa qualidade, no município de Auriflama, pago por outra das prefeituras administrada, na época, por integrante do PSDB, o prefeito José Jacinto Alves Filho, conhecido na cidade como Zé Prego.
Aparecido aconselha o empreiteiro mandar uma equipe de conservação e máquinas ao local e combinasse com o prefeito para que o remendo fosse fotografado e mandado ao Ministério Público (MP), como supostas provas de que a irregularidade teria sido resolvida. Nos autos da Operação Fratelli, Aparecido encerra a ligação ao empreiteiro com a observação: “Se abrir processo, a região inteira contamina (sic)”.
Em entrevista a jornalistas logo após a prisão de Olívio Scamatti, Aparecido admitiu que manteve contatos com o empreiteiro apontado como chefe do esquema de fraudes em licitações, mas disse que ele “nunca solicitou nada que indicasse qualquer irregularidade”. Aparecido ressalta que as doações de campanha foram registradas e diz confiar na inocência do ex-assessor. “Ele (Osvaldinho) vai responder à altura”, afirmou o tucano.
Com informações de Record, SBT e Correio do Brasil.