Desde julho de 2007, está protocolado no Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) um pedido para que o céu de Brasília seja tombado como patrimônio natural. O pedido foi feito pelo arquiteto mineiro Carlos Fernando de Moura Delphim, que considera este o maior monumento da cidade. Ele é coordenador-geral de patrimônio natural do Iphan e disse que a solicitação nunca recebeu resposta.
Delphim diz que resolveu fazer o pedido, após várias viagens ao Distrito Federal. “Quando cheguei a Brasília, comecei a ficar aflito pela falta de referências de cidade com as quais todo mundo está acostumado. Não tem esquina, não tem pracinha, não tem igreja no fim da rua. Então, em um belo dia em que eu estava entediado, olhei para cima e descobri que Brasília é mais olhando para cima do que para o lado. Esse céu é uma bênção, uma coisa maravilhosa”, disse.
A cidade completa neste domingo (21) 53 anos de sua fundação e tem o título de Patrimônio Histórico e Universal da Humanidade, declarado pela Unesco, desde 1987. Vale lembrar que, 25 anos depois, esse tombamento corre riscos e várias são as denúncias de agressões à concepção da cidade, com problemas que comprometem o projeto original.
Céu de Brasília – Com o pedido, ele quer garantir a integridade do horizonte brasiliense, evitando, por exemplo, edificações muito altas. “Não é uma coisa simplesmente poética, lírica. Tem a ver com a proteção do céu. Fazem coisas feíssimas. Vejo Brasília dividida em várias épocas: a de Juscelino, que é bonita, lindíssima, leve. Depois a dos militares, que vieram com prédios pretos, feios, muito pesados, uma arquitetura muito dura, que não combinava com a leveza de Juscelino. E agora parece uma caricatura de Miami”.
Segundo ele, a ideia foi recebida com certo descaso na época. O arquiteto conta que os colegas reagiram dizendo que a ideia de tombar o céu da capital era “bonitinha”, mas nunca discutiram a possibilidade de levá-la adiante. “Brasília é como se fosse uma bandeja levantada, e o horizonte está abaixo da bandeja. Parece que a cidade se criou acima do horizonte. Tem uma diferença. Parece que Brasília está imersa dentro do céu e acima do próprio horizonte. Quem não consegue captar essa relação com o sol talvez não consiga captar o que Brasília tem de mais bonito, mais sutil”, descreve.
Traço do arquiteto – A cidade, entretanto, tem também uma porção de defeitos para Delphim, que diz não gostar da falta de espaços melhor delimitados para os pedestres, além de reclamar do calor. “Para mim, o que tem de mais bonito em Brasília é o céu, a obra de Niemeyer e a gentileza das pessoas. As pessoas são muito delicadas, especialmente as mais humildes. Tem algumas exacerbações muito estranhas, o comportamento de alguns muito ricos, as mulheres se maquiando com excesso, os saltos tão altos como os edifícios, mas ainda assim, em geral, as pessoas são muito gentis”, afirma.
Como desejo à cidade pelos 53 anos completados neste domingo (21), o arquiteto diz que espera que a capital passe a ter mais sombras e estrutura para pedestres. “É impossível andar a pé em Brasília, principalmente se você tiver um problema de locomoção. Tem lugares que você nunca pode atravessar. E não tem como as pessoas que andam a pé se sentirem reconhecidas, como se elas existissem. Queria que Brasília desse menos valor aos carros e tivesse um transporte coletivo digno. Não tem mais onde estacionar”, afirma.
Com informações do G1-DF.