A Companhia Imobiliária de Brasília (Terracap) anunciou que deve entrar nesta segunda (03) com ordem de despejo judicial contra as famílias de trabalhadores sem-terra que ocupam desde agosto a Fazenda Gama, às margens da BR-040 em uma área próxima ao Catetinho. As famílias, ligadas ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), dizem que as 1,3 mil famílias acampadas não vão deixar a área.
A fazenda tem 4.093 hectares e os ocupantes querem que o governo do Distrito Federal indique uma área para que as famílias possam ser assentadas. Por seu turno, o GDF anunciou que não negociará com o MST enquanto a área não for desocupada. Neste sábado (1º), a Secretaria de Governo disse que aguardaria o prazo acordado entre o GDF, a Ouvidoria Agrária Nacional e o MST e o Movimento de Apoio aos Trabalhadores Rurais (MATR) para a desocupação para decidir o que seria feito, mas os trabalhadores afirmaram que não deixariam a área.
O GDF informou que não tem “a intenção de fazer a reintegração de posse de maneira truculenta e insiste na negociação pela desocupação”. No dia 21 de outubro, os trabalhadores sem-terra bloquearam três rodovias de saída do Distrito Federal, atearam fogo em pneus nas BRs ,020 que vai até Fortaleza (CE); 040, que liga Brasília ao Rio de Janeiro; e 080, estrada que vai para o município de São Miguel do Araguaia (GO).
Carlinhos Cachoeira – A área ocupada está a cerca de 25 km de Brasília e é formada por terras públicas. Segundo gravações da Polícia Federal feitas durante a Operação Monte Carlo, que investigou um esquema de jogo ilegal em Goiás e no Distrito Federal, que o contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira tentou regularizar a área em nome dele.
Em 23 de agosto, dia seguinte ao início da ocupação, a assessora do MST Viviane Moreira reivindicava a área para o assentamento das famílias. “A Fazenda Gama tem indícios de grilagem. Se a terra é pública, esperamos que governo destine para reforma agrária. A terra está abandonada, só tem capim seco. Por que não fazer assentamento destinado a trabalhadores que vão fornecer alimentos à sociedade?”, indagou.
Segundo informações da PF, Cachoeira comprou as terras de Matheus Paiva Monteiro, que se intitula proprietário delas, por R$ 2 milhões. Segundo os peritos, a transação envolveu um avião Cessna e recursos oriundos de uma empresa de fachada de Cachoeira, a Alberto & Pantoja Construções, que recebia repasses da Delta Construções e a negociação previa que os compradores arcariam com os custos e responsabilidade da regularização de 100% da área junto aos órgãos públicos. Gleyb Ferreira da Cruz, tido como braço operacional do grupo de Cachoeira, é apontado como o intermediador do negócio.
Até dezembro de 2010 não existia registro da área nos cartórios do DF e a propriedade da área era questionada pela Companhia Imobiliária de Brasília (Terracap). Também não havia registro do geo-referenciamento no Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) ou da reserva legal no Instituto Brasiliense de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Ibram), afirmam os documentos da Operação Monte Carlo. As investigações dizem que o ex-funcionário da Terracap, Rodrigo Mello, portador de rádio Nextel internacional, recebeu R$ 25 mil de Gleyb. As ligações interceptadas ainda indicam o pagamento de R$ 40 mil a um servidor do Ibram, relata a PF.