Após denunciar desvio de função 21 técnicos de enfermagem foram demitidos por justa causa do Hospital Anchieta, em Taguatinga no Distrito Federal. Segundo a denúncia, os técnicos atuavam no lugar dos médicos auxiliares. Os funcionários fizeram imagens de uma cirurgia delicada no crânio de um paciente, onde a médica recebe ajuda de dois técnicos de enfermagem, sem a presença de um médico auxiliar.
Para o Sindicato dos Auxiliares e Técnicos em Enfermagem do Distrito Federal (Sindate-DF), a denúncia é grave e eles alertam que a situação se repete em outros hospitais do DF. Sem se identificar, um deles explicou à reportagem da TV Record como ocorre o esquema. “A gente está entrando em cirurgias, fazendo o papel de auxiliar médico, sendo que os médicos às vezes estão lá no centro cirúrgico, e colocando a vida de pacientes em risco. Eles querem os técnicos de enfermagem calados e fazendo o serviço de auxiliar de médico. Nós somos forçados e entrar, pra não perder o emprego”, afirmou.
CPI – A Comissão de Direitos Humanos da Câmara Legislativa do DF foi procurada e vai entrar com representação no Ministério Público do Trabalho, pedindo a investigação das demissões dos técnicos. Além disso, os deputados distritais querem apurar se houve ou não crime de coação de testemunhas e pedem o retorno imediato dos demitidos ao trabalho.
Após a denúncia, a deputada Eliana Pedrosa (PSD) protocolou novamente um pedido que fez em março, para a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da saúde privada, para averiguar diversas denúncias de irregularidades, como as que levaram o secretário da Presidência Duvanier Paiva e o garoto Marcelo Dino, filho do diretor da Embratur Flávio Dino à morte. A Câmara Legislativa também estuda a possibilidade de instalar uma CPI para investigar possíveis irregularidades em hospitais públicos do DF.
Hospital nega – Em nota, o Hospital Anchieta informou que “não ocorrem e nem ocorreram na instituição, sob qualquer hipótese, cirurgias auxiliadas por técnicos em enfermagem”. A unidade confirma que houve “manifestação reivindicatória trabalhista que culminou com o abandono completo e integral do plantão matutino do dia 13 de novembro por técnicos em enfermagem do Centro Cirúrgico e da Central de Material Esterilizado, o que infringiu severamente o Código de Ética da profissão” e teria colocado os pacientes em situação de risco, não fosse o remanejamento de outros profissionais de saúde para os postos abandonados.
Segundo o texto, a demissão por justa causa de “20 técnicos em enfermagem que se recusaram a prestar assistência está respaldada juridicamente, dada a gravidade da falta cometida, que se caracterizou pelo abandono deliberado de pacientes – fato que inviabilizou a continuidade de seus contratos de trabalho”.
Sobre as imagens divulgadas, o hospital diz que “carecem de comprovação de procedência” e não são reconhecidas pela instituição. A unidade hospitalar informa ainda que já colocou à disposição do Conselho Regional de Medicina (CRM-DF) todos os documentos relacionados às denúncias. O hospital destaca que o corpo funcional do Anchieta é composto por 894 profissionais, sendo 325 técnicos em enfermagem, e “a inaceitável atitude dos 20 profissionais envolvidos não representou, em nenhum momento, qualquer ameaça à segurança e qualidade da assistência”.
