De R$ 3 milhões em emenda parlamentar para obras, Manoel Carneiro, administrador regional de Águas Claras no Distrito Federal remanejou quase R$ 1 milhão para a produção de desenhos e revistas em quadrinhos, com a ajuda do deputado distrital Olair Francisco (PTdoB). A verba tinha sido destinada para obras de urbanização, mas em troca foram produzidos vídeos e cinco edições de 50 mil gibis sobre consciência ambiental, totalizando 250 mil revistinhas.
Ainda em formação, Águas Claras foi uma região criada para absorver parte do crescimento desmedido no Distrito Federal e como ainda está em formação, tem muitas necessidades de infraestrutura, como calçamento, iluminação pública, engenharia de trânsito e uma parte da cidade ainda não conta com delegacia, posto de saúde, nem escola pública por exemplo. Olair destinou em 2011 um total de R$ 3 milhões em emendas para obras de urbanização.
A Secretaria de Transparência do GDF abriu investigação para apurar as circunstâncias em que o contrato foi assinado entre a Middle Way e a Administração de Águas Claras. Os gibis custaram R$ 0,89 a unidade e foram distribuídos em quatro escolas públicas de Águas Claras, que não têm mais que 3 mil alunos. Além das revistinhas, os colégios receberam um CD com o desenho animado que tem sido apresentado em projetores ou em televisões comuns, sem o recurso em 3D, como previsto na descrição do projeto contratado pela administração.
Remanejamento – Em maio deste ano, o deputado autorizou a realocação de R$ 1 milhão dessa verba para financiar um projeto e a empresa que executou o serviço tem como vice-presidente Marcus Catharino que, coincidência ou não, é amigo de longa data de Carneiro e Olair. Além disso, a Middle Way Editorial LTDA, editora que produziu o material teria sido contratada sem licitação, para um projeto de “realização de evento e apoio à campanha educacional” na cidade.
Segundo Carneiro, a contratação do projeto foi feita de forma legal. “Isso é um projeto educacional, um projeto especializado, um projeto que precisa de patentes intelectuais. […] Nós fizemos em cima de um estudo profundo”, disse. Já Olair justifica que havia demanda para a realização do projeto. “Havia pedido da população para que esses projetos educacionais, esses projetos de prevenção, fossem feitos. Fizemos o remanejamento, que é normal aqui no parlamento isso acontecer”, afirmou o distrital, que reputa a Manoel o título de homem de confiança.
História dos Gibis – Segundo Manoel, a proposta surgiu depois de reuniões com síndicos de condomínio que teriam dado a sugestão. “Convivemos com questões que vão da falta de civilidade de donos de cachorro que não recolhem as fezes de seus animais até casos de pedofilia. Os próprios moradores pediram ajuda para uma campanha de conscientização”, explicou.
O administrador relata que determinou a uma assessora para que fizesse pesquisa e lhe apresentasse uma proposta de projeto educacional e assim conheceu o trabalho da Middle Way. “É uma multinacional que tem um portfólio incrível, essa empresa desenvolveu o mesmo projeto para o Sesinho (ligado ao Sesi, do sistema S)”, destacou afirmando ainda que este foi o motivo para que ele fizesse questão de contratar a firma.
Mesmo depois de a Central de Compras do GDF alegar que não tinha como fazer esse tipo de contrato sem licitação, o administrador recebeu parecer favorável do jurídico, alegando que a empresa detinha a patente dos personagens de interesse da administração regional de Águas Claras. Ele afirma ainda que o material, embora com linguagem infantil, também é voltado para jovens e adultos e foi distribuído em toda a cidade.
Amizade – A princípio, Carneiro negou a ligação de amizade com Catharino e afirmou que não tinha relação com o executivo. Como o Correio Braziliense questionou sobre fotos em que os dois aparecem juntos em eventos sociais, Manoel voltou atrás e confirmou que convive com o vice-presidente da firma contratada pela administração de Águas Claras e disse ao jornal que se levasse em consideração as relações de seu círculo de amizade não faria nada pela cidade. “Quando descobri a Middle Way, nem sabia que Catharino estava trabalhando lá”, disse.
Já Catharino disse ao Correio que trabalha para uma editora conceituada, com sede inclusive nos Estados Unidos e que, há 10 anos, presta serviço para o Sistema S. “Nossa empresa não participa de nada ilegal, nosso preço é o menor do Brasil, já editamos mais de 130 milhões de unidades desse tipo de material. Independentemente das questões de amizade, o que tem de se apurar é se houve alguma ilegalidade no processo e isso não ocorreu”.
Com informações do Correio Braziliense.