“Todo homem nasce original e morre plágio” – Réquiem para Millôr Fernandes

Publicado em: 28/03/2012

 

 

“Olho, alarmado; E se a vida for Do outro lado?”

Morreu na noite desta terça (21) o escritor carioca Milton Fernandes, o Millôr Fernandes. Ao falar de sua idade, dizia que a certidão de nascimento, onde constava que ele nasceu no dia 27 de maio de 1924 estava errada e que a data correta era 16 de agosto do ano anterior. “Idade é a da carteira. No meu caso talvez a carteira esteja (um pouquinho) a meu favor”, afirmava site. Também sobre seu aniversário, costumava ser sarcástico e questionava se seria “um ano a mais ou um ano a menos”?

“O cadáver é que é o produto final. Nós somos apenas a matéria prima”.

Millor morreu, em casa, no bairro de Ipanema, Zona Sul do Rio de Janeiro, com falência múltipla dos órgãos e parada cardíaca, de acordo com Ivan Fernandes, filho do escritor. O velório está marcado para quinta (29), das 10h às 15h, no Cemitério Memorial do Carmo, no Caju, Zona Portuária do Rio e em seguida o corpo será cremado, em cerimônia só para a família.

“Sempre me benzo – e se em vez de Millôr Fernandes eu me chamasse Bulbo Raquidiano?”

Segundo ele mesmo, Milton descobriu aos 17 que seu nome era “Millôr” porque ao escrever em sua certidão, o escrivão não havia cortado o “t” direito, dando a impressão de duas letra “L” e um acento circunflexo.

“Eu sei sempre do que é que estou falando. Tirando isso não sei mais nada”.

Começou a carreira jornalística em 15 de março de 1938, como repaginador, factótum e contínuo na extinta revista “O Cruzeiro”. No mesmo ano, passou a trabalhar na revista “A Cigarra”, após ganhar um concurso de contos, com o pseudônimo Notlim, depois passou a assinar Vão Gogo.  Em 1941 voltou a “O Cruzeiro”, onde manteve a coluna “Pif-Paf” por 18 anos. Em 1962 abandonou Vão Gogo e assumiu o nome Millôr.

“A justiça farda, mas não talha.”

Deixou “O Cruzeiro” em 1963, após o polêmico texto “A Verdadeira História do Paraíso”, criticado pela Igreja Católica. Em protesto à demissão, o jornalista lançou “O Pif-Paf” com periodicidade semanal em maio de 1964, cujo jargão editorial era “não temos prós nem contras, nem sagrados nem profanos”. “O Pif-Paf” foi apontado pelo serviço de informações do Exército como o ponto inicial da imprensa alternativa no Brasil, em 1979.

“Fiquem tranquilos os poderosos que têm medo de nós: nenhum humorista atira pra matar.”

O jornalista trabalhou em publicações como o jornal português “Diário Popular”, revista “Veja”, e em 1969, participou da fundação de “O Pasquim”, junto com os cartunistas Jaguar e Ziraldo e os jornalistas Tarso de Castro e Sérgio Cabral. Com periodicidade semanal, “O Pasquim” tinha tom politizado e criticava a repressão da ditadura, através do humor.

“Sempre me achei um homem totalmente livre; mas ontem um guarda me convenceu do contrário”.

Em novembro de 1970, toda a redação do semanário foi presa após publicar sátira do quadro “Independência ou Morte”, do pintor Pedro Américo. Mesmo assim, Millôr manteve o jornal em circulação, e os jornalistas presos foram liberados em fevereiro de 1971.

“Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados”.

Em 1975, Millôr escreveu um editorial intitulado "Sem censura", informando ao leitor que desde 24 de março, o jornal se encontrava livre da censura prévia. Porém, encerrava seu expediente afirmando que "sem censura não quer dizer com liberdade" e após isto, deixou o Pasquim.

“Internet. Aberta pro mundo, alheia ao que a faz”.

Em 2000, lançou o "Millôr Online", com textos antigos e novos materiais, cuja última atualização foi em junho de 2011. Como colaborador de Veja de 1968 a 1982 e de setembro de 2004 a setembro de 2009, Millôr processou a revista quando seu conteúdo foi colocado na internet, porque isto não estava previsto no contrato.

“E lá vou eu de novo, sem freio nem pára-quedas. Saiam da frente, ou debaixo que, se não estou radioativo, muito menos estou radiopassivo.”

Além de atuar na mídia, Millôr escreveu peças teatrais, como "Liberdade, Liberdade", "É…" e "Bons Tempos, Hein?!" e livros como "Trinta Anos de Mim Mesmo", "Novas Fábulas Fabulosas" e "Millôr Definitivo – A Bíblia do Caos". 

Artigos relacionados