A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) adiou a votação sobre o fim dos cigarros com sabor, por conta de um impasse quanto à exclusão do açúcar na produção. A votação que decide a proibição deve acontecer na próxima reunião da Diretoria Colegiada, prevista para março. A Agência quer proibir o uso de aditivos e substâncias que dão sabor ao cigarro, como menta e chocolate, nos produtos derivados do tabaco. A justificativa é que os produtos mascaram o gosto amargo do tabaco e o cheiro desagradável da fumaça.
Em reunião na última terça (14), a agência chegou a um consenso sobre a proibição de aditivos como mentol e cravo nos cigarros comercializados no Brasil, mas o relator e diretor da agência, Agenor Álvares, alterou o texto autorizando a adição do açúcar em casos a serem apontados pelos técnicos no prazo de um ano. De acordo com a proposta original, a ideia era excluir do produto açúcar, aromatizantes, flavorizantes e ameliorantes (aditivos) de todos os produtos do tabaco.
Os diretores da Anvisa concordaram também que os aditivos não aumentam os problemas que o cigarro já proporciona, mas citaram estudos que comprovam a função que eles têm de atrair fumantes. “A questão dos aditivos é a atratividade. Nada mais nada menos que a atratividade. A resolução terá impacto direto em uma das principais estratégias da indústria para incentivar que jovens comecem a fumar, já que a adição de substâncias, como mentol, cravo e canela, mascara o gosto ruim da nicotina e torna o tabaco um produto mais atraente para esse público”, enfatizou Álvares.
A Anvisa quer proibir também o uso de expressões que possam "induzir o consumidor a uma interpretação equivocada" sobre os males do fumo, com o desuso de categorizações como os termos "light", "ultra baixo", "soft", "leve", proibidos nas embalagens desde 2001.
Indústria tabagista O Sindicato Interestadual da Indústria do Tabaco (SindiTabaco) – que representa o setor no Brasil, com exceção dos estados da Bahia, Rio de Janeiro e São Paulo – argumenta que não há comprovação científica de que os aditivos façam mal à saúde e diz que nenhum outro país proibiu o produto.
Já os fabricantes, que compareceram à reunião aberta ao público, argumentaram que cerca de 50 mil famílias de fumicultores de tabaco do tipo burley, que é o mais consumido no país, ficarão sem emprego como forma de pressionar e isso pesou na decisão de adiar a votação. “Em primeiro lugar, temos que ser pautado pela questão sanitária e da saúde do povo brasileiro. Em segundo lugar, temos que considerar a questão econômica. Não podemos simplesmente chegar para todos os agricultores que produzem esse tipo de tabaco e dizer que não tem mais renda”, disse Álvares.
Debate – Para a Anvisa, os sabores são estratégia da indústria do tabaco para conquistar novos fumantes entre os jovens. Há três anos a agência tem feito debates para o fim dos cigarros aromatizados e se e a votação seguir o rumo que se desenha até o momento, os fabricantes terão até 18 meses a partir da publicação da norma para tirar do mercado nacional substâncias como mentol, canela e cravo, que servem para tornar o sabor do tabaco mais agradável.
Também há uma discussão em torno da proibição de substâncias, que servem para aumentar o efeito da nicotina no organismo, como o acetaldeído, o ácido levulínico, a teobromina , a gama–valerolactona e a amônia. A nicotina é a substância que causa o vício no cigarro.
De acordo com dados da Anvisa, entre 2007 e 2010, o número de marcas de cigarro com sabor cresceu de 21 para 40.
Com informações da Agência Brasil. Foto, UK-Carbon Monoxide Poisoning Advice.